Relato de Experiência no CAPS Rostan Silvestre por Alunos do Internato Médico – Maceió, AL.
A implementação de estratégias antimanicomiais, em especial com os Centros de Apoio Psicossociais, foi um importante passo no Brasil no que se diz respeito à luta no país por um serviço eficiente, humanizado e centrado no indivíduo para o manejo da saúde mental – diversas vezes menosprezada e marginalizada pela população e governos.
Nesse sentido, o relato de experiência a seguir, produzido pelos alunos Nícolas Apratto, Maria Carolina Malta, June Barbosa e Luiz Eduardo Lima, busca expressar nossos aprendizados e vivências durante as três semanas e meia no Centro de Apoio Psicossocial (CAPS) Rostan Silvestre pelo estágio de Saúde Mental do curso de Medicina da Universidade Federal de Alagoas (UFAL).
Como objetivos, fomos instruídos a acompanhar as diversas atividades realizadas pela equipe no serviço, evitando a consulta psiquiátrica em si, visto que já temos essa vivência em outras instituições e aqui seria nossa maior oportunidade de ter, na prática, esse trabalho multiprofissional em saúde mental.
No primeiro dia fomos acolhidos calorosamente pela equipe, composta por Enfermeiros, Terapeutas Ocupacionais, Psicólogos, Educadores Físicos e outros profissionais. Inicialmente, foi realizado um tour pelo local no qual estagiaríamos, nos apresentando as diversas salas e, claro, os usuários. Além disso, os profissionais se dispuseram a discutir a importância do CAPS e o funcionamento dessa rede na capital (Quem deve ser atendido? Quais os existentes? O que falta para melhorar?).
A respeito dessa unidade, o CAPS Rostan Silvestre fica localizado no bairro da Jatiúca, em Maceió, é classificado como tipo II e é responsável pelo atendimento do 1º, 2º e 8º Distritos Sanitários na capital. Infelizmente, isso não é o ideal, visto que, desse modo, há uma sobrecarga da equipe (como aconteceu recentemente em decorrência da pandemia) e dificulta o acesso pela própria população – que necessita de um maior deslocamento diversas vezes durante a semana, em alguns casos.
Ao longo das próximas semanas, pudemos participar e entender melhor as estratégias utilizadas pela equipe. Assim, dentre elas podemos citar: Rodas de conversa, Terapia em grupo, Atividade lúdica com música (Passavam uma bola uns pros outros até a música parar e quem estivesse segurando teria que cantar a música), Plantio de horta, Grupo de fotografia, Grupos de Teatro (foi discutido o que eles tinham aprendido e levado com eles depois da última atividade prática em forma de intervenção), Grupo de Dança com Zumba e muitas outras!
Uma atividade que nos marcou, em especial, ocorreu ao final da manhã do dia 19/09/2022, com objetivo de integrar os usuários ao próprio território e os fazer entender como pertencentes àquele ambiente. Desse modo, foi realizada uma caminhada pelas ruas do bairro junto a entrega de flores e mensagens sobre o Setembro Amarelo pelos participantes. Apesar de algumas poucas pessoas abordadas estranharem ou recusarem a entrega da flor, de maneira geral, foi muito importante perceber a felicidade genuína deles em realizar algo tão natural e em um ambiente de on de diversas vezes parte o preconceito.
Outro ponto importante foi a comemoração do encerramento do setembro amarelo, período de conscientização acerca do suicídio, onde foi realizado um desfile com os usuários do CAPS no período da tarde. Pela manhã participamos ativamente nos preparativos de decoração, enquanto os usuários se arrumavam para o evento. Foi engrandecedor perceber sua felicidade durante o desfile, momento que destacou a importância do autocuidado para o bem-estar do indivíduo. Diversos usuários que costumavam apresentar comportamento embotado e aspecto triste, tiveram o semblante transformado ao longo do dia. O evento reuniu toda equipe e frequentadores da instituição, tratando-se de um momento de celebração e valorização de todos.
Dessa forma, percebe-se a grande importância das unidades dos CAPS como implementadoras de políticas de Saúde Pública defensoras da Luta Antimanicomial, visto que promovem um cuidado holístico do indivíduo, impedindo a institucionalização das doenças mentais, o que promove uma maior liberdade e autonomia dos usuários. Além disso, a participação dos acadêmicos de Medicina nas vivências e atividades dessas unidades permite uma maior familiarização com a abordagem multidisciplinar, tornando-os profissionais mais humanos e capacitados para o cuidado dos pacientes.
Por patrinutri
Olá Nícolas Apratto, Maria Carolina Malta, June Barbosa e Luiz Eduardo Lima, que bom ter vocês por aqui!
Fiquei pensando que riqueza vivenciada por vocês nesta pequena fração de tempo, coisas que a sala de aula jamais poderia ensiná-los por mais boa vontade que o grupo tivesse.
Vemos através do relato de vocês que mesmo com as dificuldades o serviço, sua equipe e usuários tem alcançado muitos objetivos no cuidado em liberdade. E é isso mesmo, encontraremos desafios e inadequações em todos os serviços pelos quais iremos atuar, porém podemos focar nos nossos princípios de humanização, cuidado em liberdade e fazer nosso melhor respeitando a diversidade e a nós mesmos.
No relato de vocês, o que me chamou a atenção foi o foco em atividades desmedicalizantes e provocadoras de vínculo com o usuário. Lembrei de uma atividade de acompanhei por aqui durante a pandemia, no município de Gaspar SC a distribuição de sementes de girassol para os usuários que foram se vacinar, bem no início quando as pessoas estavam com medo de tomar a vacina. Esta ação contava a história do girassol que sempre se volta para o sol, mas que quando está nublado se voltam uns para os outros. E com esta lição as pessoas plantaram as sementes, cultivaram e depois postaram nas redes sociais junto com sua foto se vacinando a segunda dose <3. Sempre podemos criar atividades que sejam expressão de amorosidade e respeito e união pelo bem comum.
Adorei o relato de vocês! Obrigada Patrícia Blumenau SC