Relato de experiência no CAPS Sadi Feitosa de Carvalho

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Olá! Me chamo Ana Caroline, sou interna do curso de medicina da Universidade Federal de Alagoas e estive, durante o estágio de Saúde Mental, no CAPS Sadi Feitosa de Carvalho, no bairro Chã de Bebedouro, em Maceió-AL. Trago aqui meu relato com um pouco do que vivi nesse período.

Ao atravessar os portões do CAPS Sadi, logo me deparei com os meus próprios muros. Penso que cada um vive sobre os seus, no meu caso, costumo dizer que são blocos modulares, capazes de serem construídos e reconstruídos à medida que me permito ou sou levada a enxergar para além deles. E foi dessa forma que adentrei ao CAPS pela primeira vez: sobre meus próprios muros. Apesar de já possuir alguma bagagem, por nutrir um interesse genuíno, durante a graduação, sobre tudo o que envolvia a psiquiatria- estive em ambulatórios, estudei diversos temas, entrevistei pacientes na enfermaria, acompanhei médicos na emergência-, nunca havia cruzado as portas de um CAPS. Até achava saber o que esperar, pela referência teórica que eu também apresentava, porém não imaginava que seria ali que sairia, justamente, dos já citados muros.

Durante as semanas em que estive no CAPS Sadi, participei de diversos grupos, conheci mais usuários do que conseguiria citar, ouvi histórias sensíveis, reais, difíceis e emocionantes, mas algo me chamou mais atenção diante de tudo: a fala de um usuário sobre ser ali onde eles são vistos de verdade, citada no meio de uma conversa com uma das profissionais que acompanhei. Nos segundos em que ouvi aquelas palavras entendi e dimensionei que eram a falta do estigma e do preconceito naquele ambiente, mas que são tão característicos da nossa sociedade, que me inundavam. Todos ali, com a diversidade das próprias histórias de vida, participando dos grupos e dividindo o cotidiano, mas também criando laços, construindo afeto, ajudando e se enxergando mutuamente. Não apenas um SUS que caminhava, mas a construção de uma visão social e de um ambiente, diante daqueles muros, que acolhia e amparava os grupos que outrora foram totalmente excluídos da sociedade.

No fim, saio de lá levando muito mais do eu esperava, para além de seus próprios muros e dos meus. Finalizo com um agradecimento sincero aos usuários, que dividiram comigo suas histórias e me permitiram ganhar muito mais do que conhecimento acadêmico, e a todos os profissionais que acompanhei em meio a uma equipe multiprofissional completa, atenta, colaborativa e muito especial, todos dispostos a fazer daquele ambiente um lugar de acolhimento e empatia, inclusive para mim.