RELATO DE EXPERIÊNCIA NO CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL CAPS ROSTAN SILVESTRE
Relato de um grupo de estudantes de Medicina – Amanda, Beatriz e Fábio -, para compartilhar as experiências vividas durante o internato em Saúde Mental da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Alagoas. Fizemos quatro semanas de estágio prático em saúde mental no Centro de Atenção Psicossocial – CAPS Dr. Rostan Silvestre em Maceió, AL. Nesse local, nós participamos de diversas atividades que compõem o cronograma semanal do serviço, tais quais: grupo terapêutico, grupo psicoterápico, grupo de horta, grupo de terapia ocupacional, grupo de música, atividade física, artesanato, dublagem, acolhimento entre outras coisas. Nesse sentido, foi possível compreender a terapêutica em saúde mental como multiprofissional e interdisciplinar, sendo esse caráter holístico do tratamento e a singularidade as bases para uma visualização biopsicossocial do usuário.
Portanto, entendemos que o estabelecimento da função do CAPS está intimamente ligada à construção do conceito de território. Dessa forma, inferimos que, para tal, diferentes dispositivos para atenção ao usuário são constituídos, que vão do acolhimento à convivência diária – rotina estabelecida a partir de oficinas, atendimentos individuais, grupos terapêuticos -, bem como, processos de intervenção extramuros, como matriciamento das equipes da Estratégia Saúde da Família e o acompanhamento terapêutico. Consideramos que o contexto supracitado é um avanço para a Atenção Psicossocial.
Assim, não somente nossa visão sobre os pacientes foi ampliada, mas também a de relações de trabalho. Pois, nesse estágio fomos muito bem recebidos por profissionais de diversas áreas e demais estagiários de outros cursos. Além disso, a possibilidade de acompanhamento dos mesmos pacientes por algumas semanas em diversos cenários do seus planos terapêuticos singulares foi muito importante para criação de vínculo e observação implícita do quadro clínico.
No CAPs Rostan Silvestre também tivemos a oportunidade de conhecer como funciona na prática uma residência terapêutica, bem como a enfermeira responsável de uma das RTs, e os moradores de uma RT feminina e outra masculina. As RTs realmente tem esse potencial transformador na vida de pessoas, conseguimos observar que pessoas que viveram grande parte das suas vidas em hospitais psiquiátricos acabam trazendo consigo dificuldades de entrosamento, movimentos estereotipados, e outras questões que são visivelmente quebradas dentro do contexto do CAPS. Nesse sentido, as oficinas de música, de dança, de jogos acabam sendo um momento para quebrar esses paradigmas, para se relacionar, para se incluir e ser aceito ser sem julgado. E, para nós, foi uma alegria sentir que eles depois de tantos anos conseguiram fazer parte de um todo muito maior e se sentirem incluídos em uma grande família.
Sabemos que ter uma doença psiquiátrica é, quase sempre, carregar o estigma da incompetência e da incapacidade. O CAPS, por meio do trabalho que executa, nos mostra que existem estratégias de enfrentamento e superação que ratificam a possibilidade ter uma doença psiquiátrica e ainda assim ter uma vida profissional e afetiva comum. As pessoas do CAPS nos mostraram que um trabalho feito diariamente e melhorando conforme necessidade faz com que as pessoas sejam vistas não somente como pacientes, mas como pessoas com direitos que têm sido acessados, fortalecidos por meio do trabalho que executado nos CAPS.
Por fim, gostaríamos de agradecer a todos do CAPS Dr. Silvestre em nome de Karini Omena que nos acolheu e orientou tão bem e ao professor Sérgio Aragaki por nos incentivar a olhar os pacientes de uma forma mais sensível e humana.
“É necessário se espantar, se indignar e se contagiar, só assim é possível mudar a realidade.”
Nise da Silveira
Figura 1: Internos Beatriz, Fábio e Amanda na campanha do Agosto Lilás – conscientização
sobre a violência contra a mulher.
Figura 2: Interna Beatriz e Alexandra, usuária do CAPS que venceu a eleição para ser
secretária do Conselho Gestor do serviço.
Figura 3: Os três internos com alguns membros da equipe do CAPS Dr. Rostan Silvestre.
Por Beatriz Pereira Braga
Amei, a vivência no CAPS é isso ❤️