
O Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família de Lagarto é vinculado ao Hospital Universitário de Lagarto (EBSERH) e tem duração de dois anos. Atualmente, conta com sete residentes, sendo dois do segundo ano e cinco do primeiro ano, e realiza suas atividades práticas em três Unidades Básicas de Saúde do município de Lagarto, incluindo a Clínica de Saúde da Família José Antônio Maroto, local onde ocorreu a experiência relatada. O programa é composto por quatro enfermeiros, um terapeuta ocupacional, uma psicóloga e um farmacêutico, garantindo uma abordagem multiprofissional no cuidado à saúde da população.
Em uma segunda-feira, em meio a um dia de grande demanda na Unidade Básica de Saúde, recebi uma cartinha de uma filha preocupada. Ela dizia que, apesar de todos os esforços (mudar a alimentação, ajustar os horários dos remédios, incentivar caminhadas) nada parecia funcionar. A glicemia da mãe, Dona Maria (nome fictício), de 68 anos, continuava alta. Mais do que isso, a filha percebia que a mãe havia perdido a vontade de se cuidar. Nas consultas, Dona Maria confirmava essa impressão. Sempre calada, com um olhar triste, respondia apenas o necessário. As consultas acabavam se resumindo à renovação de receitas e à solicitação de exames, sem grandes avanços em seu estado de saúde. Até que, em um dos atendimentos, decidi mudar a abordagem. Em vez de começar pelos resultados da glicemia, perguntei:
— Dona Maria, o que a senhora gosta de fazer no dia a dia, o que lhe dá prazer?
Ela me olhou em silêncio por alguns segundos e, então, esboçou um sorriso tímido, o primeiro que vi em muito tempo. Contou que sempre gostara de bordar, mas havia parado depois da morte do marido. Acrescentou que, com o tempo, as dores da fibromialgia também a afastaram dessa atividade, pois já não conseguia se dedicar a trabalhos maiores.
A partir dali, iniciamos uma nova construção de cuidado. Conversamos sobre como o bordado poderia voltar a fazer parte de sua rotina, de maneira adaptada, com peças menores e mais leves, que lhe permitissem continuar a prática sem sobrecarregar o corpo. Sugeri participar do grupo de fibromialgia e também da Academia de Saúde, espaços que poderiam ajudá-la a se conectar com outras pessoas e a compartilhar suas experiências. Nas consultas seguintes, encontrei uma Dona Maria diferente. Ela trazia pequenos bordados para me mostrar, feitos especialmente para conseguir terminar com mais facilidade e apresentar nas consultas. Contava, orgulhosa, que vizinhas haviam começado a fazer encomendas. Seu humor havia mudado. Ela passou a se alimentar melhor, retomou as caminhadas, agora acompanhada de uma amiga. E, pouco a pouco, sua glicemia começou a se estabilizar. Mais tarde, sua filha me disse que, depois de muitos anos, via a mãe novamente animada, cuidando de si mesma com entusiasmo. Percebi, então, que o que fez a diferença não foi apenas a mudança na medicação ou na dieta, mas sim o resgate do sentido de vida de Dona Maria.