Saúde digital no território: uma experiência de escuta e mediação cultural na USF Denisson Menezes

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PET Informação & Saude Digital

Grupo de Aprendizagem Tutorial 12

Monitoras: Celiane Mendes, Laryssa Vieira, Leticia Padilha

Acadêmicas do Curso de Medicina da Universidade Federal de Alagoas (UFAL)

Preceptora: Rosimeire Machado Barbosa (USF Denisson Menezes – SMS Maceió/AL)

 

A experiência relatada ocorreu no âmbito do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde – PET Saúde/Informação e Saúde Digital, por meio do Grupo de Aprendizagem Tutorial 12 (GAT 12), cujo foco é a educação midiática e a saúde digital nos territórios. As atividades foram desenvolvidas na Unidade de Saúde da Família Denisson Menezes, em Maceió (AL), com o objetivo de compreender como a população se relaciona com as tecnologias digitais em saúde e quais desafios atravessam esse processo no cotidiano do cuidado.

Ao chegarmos à unidade, fomos acolhidos pela preceptora Rosimeire, que inicialmente nos conduziu por uma visita aos diversos setores da USF. Esse momento foi fundamental para compreender a dinâmica de funcionamento da unidade, os fluxos de atendimento e o papel central da Atenção Primária como espaço de vínculo, escuta e cuidado contínuo. Em seguida, acompanhamos os atendimentos realizados pela preceptora, que naquele dia estavam voltados à puericultura, enquanto realizávamos a aplicação do questionário de Saúde Digital junto às mães que aguardavam atendimento.

Durante o período em que estivemos na unidade, conseguimos entrevistar seis usuárias. As conversas, que inicialmente tinham como foco a aplicação do instrumento, rapidamente se transformaram em espaços de escuta e troca. Foi possível perceber, de forma muito concreta, a situação de vulnerabilidade social vivenciada por grande parte das famílias atendidas, marcada por limitações econômicas, sobrecarga de cuidados e dificuldades de acesso a recursos básicos.

Um dos aspectos que mais chamou atenção foi a relação das usuárias com a informação em saúde no ambiente digital. A maioria relatou utilizar predominantemente redes sociais como principal fonte de informação, enquanto ferramentas oficiais do SUS, como o Meu SUS Digital e o Gov.br, eram pouco conhecidas ou raramente utilizadas. Além disso, muitas afirmaram não ter o hábito de verificar a veracidade das informações acessadas nas mídias sociais, o que evidencia a forte presença da desinformação no cotidiano dessas mulheres.

Essa vivência evidenciou que a saúde digital, embora amplamente discutida nas políticas públicas, ainda chega de forma desigual aos territórios. A tecnologia existe, mas não se traduz automaticamente em acesso, autonomia ou cuidado qualificado. Fatores como dificuldade de acesso à internet, baixa familiaridade com aplicativos, linguagem pouco acessível e ausência de orientação contribuem para o afastamento dessas ferramentas da vida real das usuárias.

Mais do que dados coletados, a experiência na USF Denisson Menezes nos permitiu refletir sobre a importância das relações humanas no processo de digitalização da saúde. A escuta atenta, o acolhimento e a conversa respeitosa mostraram-se fundamentais para compreender as reais necessidades da população e para perceber que nenhuma tecnologia se sustenta sem vínculo e sem mediação cultural. Nesse sentido, a prática reforçou a ideia de que a saúde digital precisa caminhar junto com as chamadas tecnologias leves, baseadas no encontro, no diálogo e na construção compartilhada do cuidado.

O relato dessa experiência reafirma o compromisso do PET-Saúde com a integração ensino–serviço–comunidade e com os princípios da humanização do SUS. Ao nos inserirmos no território, aprendemos que promover saúde digital é, antes de tudo, promover escuta, reconhecer desigualdades e construir caminhos possíveis junto com as pessoas. É nesse encontro entre tecnologia e humanidade que se abrem novas possibilidades para um cuidado mais equitativo, acessível e verdadeiramente humanizado.