Suicídio é um fenômeno complexo que pode afetar indivíduos de todas as idades, classes sociais, gêneros e etnias. Os números registrados pelo Ministério da Saúde são alarmantes! No Brasil, o suicídio é a quarta maior causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos, e 23% dos suicídios notificados no País ocorrem na Região Sul.
Conforme pesquisa realizada em 2016 pelos profissionais, Abel Petter e Verena Augustin Hoch, o coeficiente de mortalidade por suicídio no Estado de Santa Catarina representa quase o dobro da média nacional, sendo que no Extremo Oeste os índices registrados são ainda mais expressivos/relevantes.
Cultura social da felicidade
O suicídio é resultado de um adoecimento mental grave, que repercute na vida das pessoas de forma profunda e irreversível. Há inúmeros fatores causadores, entre eles a cultura social da felicidade, onde não é permitida a demonstração de sofrimento ou tristeza, impondo ao indivíduo a sensação de incompreensão que pode levar ao agravamento do quadro.
O assunto passou a receber atenção significativa após o surgimento de jogos de incentivo a práticas de automutilação. Recorrente entre adolescentes em idade escolar, demonstra que a população jovem tem vivenciado profundo sofrimento psíquico, visto que, o ato de lesionar o próprio corpo indica que há questões emocionais de caráter insuportável ao indivíduo.
A Psicologia compreende a automutilação como uma estratégia para alívio da dor emocional, extravasamento de sentimentos como tristeza, ansiedade, tensão, vazio, bem como para distrair a atenção de sofrimentos profundos. No entanto, o alívio imediato alcançado através da autolesão tem repercussões negativas e é um sinal extremamente importante de que é preciso buscar ajuda imediatamente.
O suicídio é um tabu social, assim como tudo que é relacionado a ele. Apesar disso, o assunto deve ser considerado um problema de saúde pública, sendo necessário o desenvolvimento de ações de saúde mental e prevenção em todos os âmbitos.
Procure ajuda
Se você tiver pensamentos sobre suicídio ou ações de automutilação, ou conhece alguém que esteja passando por isso, saiba que há formas de superar esse sofrimento. Procure ajuda!
Onde buscar ajuda: CAPS, Unidades Básicas de Saúde, Unidades de Pronto Atendimento, Emergências, Hospitais, CVV (disque 188 – ligação gratuita) bem como profissionais de saúde.
Por Maria Luiza Carrilho Sardenberg
Assunto muito bem vindo à nossa rede e que requer uma qualificação constante principalmente pela escuta e acolhimento das falas dos jovens. Parece que o suicídio tornou-se algo mais frequente entre eles. E isto nos faz pensar sobre em que momento parece impossível desejar fazer parte deste nosso mundo e as razões disso.
Muitos atribuem o suicídio aos quadros depressivos, mas se assim fosse, teríamos proporções de epidemia e muito mais em adultos pois é onde a medicalização da vida se apresenta tomando as tristezas como se fossem depressão.
Trabalho com jovens e escuto algo que vai além das questões mais emergentes nesta idade. Todas eles trazem uma questão comum de fundo ético-político num sentido amplo. Que mundo é esse onde é possível “conviver” com tantas iniquidades, injustiças, desigualdades?
Os jovens mostraram do que são capazes nos movimentos massivos de rua, nas ocupações das escolas, no desejo de um outro mundo possível macro e micropoliticamente falando. Querem participar intensamente para mudar tudo o que está aí. E com toda a certeza, o que os faz esmorecer, interromper abruptamente um processo de expansão de vida são as forças mortíferas que pretendem conservar as velhas formas.
Sabemos que a construção subjetiva de um sujeito é moldada em grande parte pelo espírito do tempo em que vive. Não é à toa, aliás, que a prática do suicídio se dê nos grandes centros urbanos, no sul de nosso país como mostra a pesquisa referida no post. É aí que os efeitos do modo de vida neoliberal atingem seu grau mais sinistro e desarticulador de possibilidades vitais.