SOBRE MARIELLE E O TRABALHO EM REDE

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Marielle era uma porta-voz. Talvez tenha sido por isso que chorei com sua morte. Teria ela levado consigo a minha voz? Quem falaria agora por mim e por milhões, que impossibilitados de falar, apostavam na voz de Marielle?

Muitos não falam por medo. Poderiam ser calados de maneira forçada e não teriam garantias sobre se um novo porta-voz assumiria seu lugar. No fundo não são covardes, são simplesmente estrategistas tentando manter a voz, como aquele que mantém uma chama achando que sem ela inexistiria fogo na Terra.

Mas Marielle não tinha medo. Insanidade? Fantasia? Prefiro acreditar que ela acreditava.

Ela sabia que sendo porta-voz, não era a dona da voz. E nunca foi ambiciosa tentando usurpá-la. Os usurpadores sim, temem pela perda, temem pelo silêncio. Ela acreditava que sua voz era a voz de uma rede, e que sua morte devolveria a voz a seus respectivos donos. Eis o segredo de sua coragem: acreditar na rede.

Dar-se conta da rede e saber-se parte dela não é esperar que alguém fale por nós. Mas saber que alguém fala quando um outro está impossibilitado. Em outro momento trocarão de lugar. Na rede, o porta-voz é porta-vozes.

Marielle, obrigado por me fazer me dar conta da minha voz.

Você estava certa, sua voz permanece, PRESENTE!