Stella, voce estará sempre em rede conosco!

Pat, lembra que caí nos braços dela quando desmaiei no encontro da PNH em Brasília?

Oi Pat,

Sem dúvida, uma bela homenagem à nossa querida amiga Stella Maris que nos deixou hoje para brilhar em outro plano. Uma psicóloga e cidadã argentina que adotou o Brasil como a sua pátria para morar e trabalhar. Uma profissional que fez muitos movimentos sociais, e que teceu muitas redes conectivas, redes quentes em defesa do SUS, da humanização do SUS, ao longo da sua trajetória aqui no Brasil. Foi Coordenadora da frente de Mobilização Social da PNH. Foi uma grande parceira aqui na Rede HumanizaSUS, onde produziu várias postagens dando visibilidade aos movimentos produzidos por ela, e aos seus posicionamentos políticos. Quantas vezes fez contato comigo, às vezes tarde da noite, pedindo ajuda para a publicação das suas postagens. Costumava dizer que não sabia lidar bem com as ferramentas da rede. E era sempre um prazer ajudá-la.
Stella era a mulher dos fóruns, fóruns em defesa das políticas públicas! Aqui no Piauí, ela ajudou a mediar, provavelmente o maior fórum já realizado no território do SUS, no Estado: “O Mobiliza Piauí, o Cidadão está aqui”, que contou com a participação de movimentos sociais, de trabalhadores e de usuários da saúde, para uma escuta sobre o SUS, sobre as suas necessidades de saúde. Deu gosto ouvi-la falar com o seu sotaque forte argentino “Devemos produzir sujeitos mais empoderados, que brilhem e que lutem por sua autonomia” (Stella Maris, 2013)”

https://redehumanizasus.net/66068-mobiliza-piaui-o-sus-que-temos-na-visao-dos-movimentos-sociais/

Vá em paz minha querida amiga! Onde você estiver, receba o meu abraço saudoso!

Emília

Stella Presente! Saudades, saber que se foi nos deixa sem palavras, pura emoção, saudade…continuemos a luta…luto que se transforma em verbo, como faria Stellita…

Te extraño, Stellita!
Em uma das últimas mensagens que te enviei pelo zap, tomando un buen vino, gravei um áudio dizendo “te extraño”, e você me respondeu algum tempo depois dizendo que eu estava falando muito bem espanhol. Mas eu nem sabia o que era mesmo sentir saudades de você. A gente não se via sempre, se via e se falava quando dava (o que para mim é quase nunca), mas nos últimos tempos felizmente a gente até se falava mais, comecei a perguntar mais de coisas do cotidiano que sempre preferi charlar ao vivo e a cores. Mas na última vez que você esteve aqui em casa comecei a perceber que poderia ser mais próxima das pessoas queridas. Você vinha tomar um café e resolvemos comprar um vinho e um pedaço do pão que você gostava ali naquela padaria cheia de frescura aqui na rua. Voltamos pra casa e ficamos conversando junto com o Patrício até quase meia noite, e você me disse que nossa amizade, pelo meu comportamento distante no cotidiano, parecia superficial, mas que quando nos encontrávamos o sentimento era outro, éramos próximas, e bem próximas. Desde que te conheci e nos tornamos companheiras de expedições da PNH (na primeira você me ligou dizendo que era um convite para um “programa de índio”, e depois rindo explicou que era mesmo, uma visita a uma aldeia indígena, a Aldeia Brilho do Sol) você se tornou uma grande amiga, minha e do Patrício. Ele recuperou outro dia uma mensagem sua desejando parabéns atrasado um dia depois do aniversário dele.
Hoje você faria aniversário, talvez a gente não se encontrasse, talvez você inventasse algum programa diferente (como na foto com a Cathana vestidas de bruxa num restaurante com tema medieval – poderia chamar o Brasil de Bolsonaro), ou talvez não. Mas você estaria ahí. Na verdade, parece que você ainda está aqui, sua partida não se materializou pra mim já que não pude estar no seu enterro. Embora a pandemia ainda não tenha acabado, posso afirmar com certeza que este foi um dos momentos mais difíceis pra mim durante o período de isolamento a que ainda me submeto como grupo de risco, não poder me despedir de você presencialmente. Já havia pensado antes nisso (sou amiga próxima da morte também, conheço bem seus gostos e sua predileção pelos crônicos), e sempre me consternou muito essa ideia de não poder fumar mais um cigarrinho com você, tomar outro vinho, ir contigo em outra conferência de saúde e, depois de uma semana juntas, ouvindo você roncar alto no quarto do hotel e deixar o celular com todos os avisos sonoros funcionando durante a noite, não querer te ver por uma semana. Pra depois fazer tudo de novo e achar super divertido!
Quando você foi internada parei de fumar. Embora soubesse da gravidade do seu quadro clínico (bem parecido com o que aconteceu com meu pai, portanto conhecia as baixas chances de uma recuperação, mesmo assim) imaginei que, caso você retornasse, poderíamos compartilhar as dificuldades da abstinência do cigarro, faríamos juntas essa trajetória. Mas você foi pra outro caminho, e eu nem pude ajudar com algum direcionamento (como você fez pra mim no mapa que desenhou dos lugares interessantes de Buenos Aires), porque não podia estar com você. Isso me dói, me dói muito!
Ainda estou aqui olhando o telefone pra te ligar, mas sei que você não estará mais do outro lado da linha. Seja lá onde você estiver, hoje tomo novamente un buen vino (talvez não tão bom quanto a ginebra e o mantecol que você me trazia da Argentina a meu pedido quando voltava de lá após as festas de fim/começo de ano) em sua homenagem, lembrando de sua linda presença nesse mundo e na minha vida, minha amada amiga e companheira de luta em defesa da saúde pública e do direito à saúde (consignei seu nome em ata de reunião do Conselho Municipal de Saúde de São Paulo como a grande guerreira da saúde que foi e sempre será, agora com registro em ata!). Agora sim sei o que é de fato sentir saudade de você. Te extraño, Stellita, te extraño!

Te estraño, Stellita!