Autores: Danilo Mendes da Silva e Vicente Normandi Bezerra Higino
Acadêmicos do Curso de Educação Física
Monitores PET-Saúde Digital – GAT 12 da Universidade Federal de Alagoas (UFAL)
Coautora: Maria Joselia Cardozo de Melo Fisioterapeuta – Secretaria Municipal de Saúde de Maceió/AL – eMulti
As primeiras semanas de atividades na UDA forneceram uma visão ampla sobre o funcionamento da unidade e, ao mesmo tempo, abriram espaço para vivências práticas mais profundas por meio das visitas domiciliares. No nosso primeiro dia, Danilo e Vicente, Monitores do PET Saúde Digital, participamos de uma conversa inicial com a preceptora Josélia, que, devido a fatores pessoais da mesma, teve tempo reduzido para apresentação. Ainda assim, foi possível compreender a organização do serviço: às quartas-feiras são realizadas as visitas domiciliares, e a sala inicialmente identificada como multiprofissional é compartilhada por profissionais de Educação Física, fisioterapeutas, psicólogos, nutricionista, terapeuta ocupacional e residência multiprofissional do HU.
Josélia explicou que a UDA desenvolve diferentes ações ao longo da semana e que o espaço utilizado funciona como uma sala de cuidados, onde são realizadas práticas como auriculoterapia, ventosaterapia e atendimentos a crianças com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor. Reconheceu, entretanto, que essas atividades nem sempre ocorrem no ambiente ideal, mas são mantidas por atenderem demandas importantes do território. Durante essa primeira conversa, ela destacou que, inicialmente, nossa atuação nas visitas seria voltada à observação e aplicação dos questionários, enquanto ela conduziria o diálogo clínico com cada paciente.
Também discutimos questões organizacionais. Vicente sugeriu a criação de um e-mail institucional para facilitar a comunicação e o acesso aos questionários, proposta prontamente aceita. Em seguida, Josélia nos apresentou o funcionamento do prontuário eletrônico (PEC) utilizado na UDA para registrar evoluções e agendamentos, destacando que o prontuário não atende plenamente a todos os profissionais, já que foi estruturado prioritariamente para médicos e equipes da Estratégia Saúde da Família. Soma-se a isso o fato de haver poucos equipamentos disponíveis, o que muitas vezes gera espera entre os profissionais.
Mesmo com o pouco tempo, surgiram diálogos importantes. Josélia perguntou se tínhamos dificuldades de abordagem como timidez, o que retomou discussões que já vínhamos fazendo sobre empatia e acolhimento no atendimento. Também conversamos sobre formas de melhorar a comunicação com os usuários, como a notificação de consultas por e-mail e criação de materiais informativos para exposição na entrada da unidade.
Na semana seguinte, iniciamos as visitas domiciliares com a preceptora. Antes de sairmos, ela revisou o PEC e apresentou breves informações sobre os pacientes. Durante essas visitas, algumas experiências ampliaram ainda mais nossa compreensão sobre a realidade dos pacientes. Na residência do senhor Airton, por exemplo, observamos como fatores estruturais como idade, renda e apoio familiar se conectam diretamente às intervenções. Ele já apresentava melhora da marcha após semanas de exercícios, e pudemos auxiliar nas atividades de flexibilidade, fortalecimento e equilíbrio. Em outra visita, destinada a um paciente que não estava em condições de participar devido à indisposição não tivemos como realizar nenhum tipo de intervenção, porém nesse período que estávamos realizando essa visita, conversamos com sua mãe e tia, aplicamos o questionário e ouvimos relatos sobre as dificuldades de locomoção e de cuidado no cotidiano, especialmente relacionadas ao peso do paciente e à demanda física da família para assisti-lo.
A experiência evidenciou na prática como os determinantes sociais da saúde influenciam diretamente o cuidado, especialmente no que se refere às condições de vida, ao suporte disponível e à sobrecarga emocional das famílias. Em outra visita, essa relação ficou ainda mais clara. Diferentemente da maioria das residências que costumávamos encontrar, chegamos a uma casa ampla, com espaçosuficiente para que a paciente pudesse caminhar e realizar exercícios com mais segurança. Ali, conhecemos também seu cônjuge, que desempenhava papel essencial no processo de cuidado: compra de materiais para as atividades, auxiliava na administração de medicamentos e a acompanhava nas idas à UDA. Esse apoio cotidiano mostrava, de forma concreta, o impacto positivo das redes familiares sobre a reabilitação.
Nesse contexto mais favorável, realizamos exercícios como sentar e levantar e pequenos percursos para estimular a confiança e a independência da paciente, que ainda demonstrava receio de caminhar sem apoio. Enquanto a preceptora coordenava as intervenções, aplicamos o questionário, reforçando a integração entre o trabalho prático e a coleta de informações importantes para o acompanhamento do caso em si e também conhecendo mais a população e como acontece o seu uso do meio digital para a Saúde.
Ao longo dessas experiências, ficou claro que nossas visitas não se limitavam ao aspecto técnico. Elas revelavam as condições sociais, emocionais e estruturais que atravessam o cuidado em saúde. Situações como a indisponibilidade de pacientes, o medo de caminhar, a sobrecarga de familiares e as limitações de acesso mostraram, na prática, aquilo que estudamos principalmente aspectos relacionados aos determinantes sociais da saúde. As vivências reforçaram que saúde não depende apenas de intervenções físicas, mas de todo o contexto que envolve cada pessoa: sua rotina, sua casa, sua rede de apoio e sua relação com os serviços de saúde