Alternativas ao modelo medicalizante dos comportamentos

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 Apontamentos para estabelecer parâmetros de atendimento alternativo ao modelo  medicalizante

 

 

Origem dos encaminhamentos/demandas de diagnóstico e/ou tratamento:

 

Várias vertentes para pensar:

 

de onde parte o pedido?

Escola, profissionais de saúde – pediatra, psiquiatra, psicólogo, neurologista e outros -, busca própria – no caso de adolescentes, por exemplo – e família.

A origem do encaminhamento, trabalhar sobre ela é construir/desconstruir o problema.

 

– como chega o pedido? Que tipo de formulação é trazida?

Um problema, uma questão, um diagnóstico, uma doença, um modo de ser considerado problemático?

 

– o quê e como fazer?

 

Construção conjunta: pensamos que a análise do que é trazido como uma dificuldade ou problema deve sempre ser feita JUNTO com as crianças, adolescentes e famílias. É preciso mapear numa construção conjunta aquilo que vem como uma “queixa”. Muitas vezes, se isto for suficientemente cartografado, chegamos a uma reconfiguração da questão inicial, com saídas potentes relativas ao que foi trazido como um estado sintomático.

 

Produzir uma quebra na narrativa que define algumas realidades como doenças é um passo importante que pode ser acionado já neste início de avaliação. Este “modo de fazer” é uma espécie de devolução do “produto” – sintomas, estados – ao processo de produção – contexto que produziu uma subjetivação daquela espécie e não outra.

Trata-se de “engordar” o campo problemático que se nos apresenta , abrindo-o para a entrada de outras variáveis que ampliam a clínica.

 

Escutar as crianças: crianças e jovens são os principais interessados em compreender o porque de seus encaminhamentos aos especialistas. E, por vezes, os últimos a serem ouvidos. Chegam pelas mãos dos adultos, muitas vezes na condição de objetos passivos de observações e/ou rotulações paralizantes.

A aplicação de testes pode intensificar este lugar de passividade. A escuta os retira desta condição. E geralmente emerge um discurso que surpreende os adultos, com formulações esclarecedoras do que se passa com eles.

 

A figura do diagnóstico: esta vertente é talvez a mais delicada para pensarmos.

 

Perguntas: É possível trabalhar em saúde mental sem recorrer aos diagnósticos padronizados?  O que pode a clínica sem a figura do diagnóstico? O sofrimento psíquico é melhor abordado se recorrermos a diagnósticos psiquiátricos?

 

Vamos “engordar” o campo problemático, levantando mais questões a serem pensadas.

Ideal, norma, padrão, estatística, freqüência na população são os pilares que sustentam a idéia de diagnóstico. Tipos, formas, fôrmas são os produtos subjetivos criados pelas práticas diagnósticas em saúde mental.

 

Ora, se estamos exatamente em um campo marcado pela dimensão da singularidade, não cabe trabalhar com padronizações de qualquer tipo. Nosso campo psi é pautado pela sutileza das observações, pelos detalhes absolutamente fundamentais para o entendimento. Usa tecnologias “leves”de inferências sutis e delicadas sobre as subjetivações, uma espécie de realidade virtual se comparado às outras disciplinas.

Nada que seja conservador de UM modo de ser, sempre o mesmo – posto que serve de padrão para o enquadramento de qualquer indivíduo, ignorando-se as diferenças – nada disso cabe quando se trata de subjetivações. Aliás, produz-se DOENÇA ao padronizar, enquadrar e destratar as diferenças. Afirmá-las é dar passagem às forças de criação. É promover atmosferas ativas/criativas onde não há lugar para a falta.

 

Diferenças:  Promover o cuidado em saúde é uma das tarefas mais demandadas socialmente hoje. E com ênfase nas diferenças individuais.

Os modos de ser e viver podem ser diferenças que colocam em xeque as normas, os padrões anteriormente aceitos e considerados “normais”, o “esperado para a idade”.

 

Como proceder quando nos deparamos com a necessidade de cuidar e, ao mesmo tempo, com a injunção, também socialmente dada, de enquadrar, delimitar e gerir os comportamentos considerados “inadequados”? Ademais, alguns deles podem provir de zonas de experiências, de emergência de novos modos de ser e viver. Diagnosticá-los como sintomas de novas doenças pode se mostrar um cuidado excessivamente apressado que acaba por descuidar e destratar.                                        

 

 

 

Maria Luiza Carrilho Sardenberg

 

Coletivo de cuidadores da Redehumanizasus.net