Encontro do coletivo Nordeste II em Teresina

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Estamos mais uma vez juntas pensando em como compartilhar com vocês o vivido nestes dois dias de atividades da PNH no Estado do Piauí.

As cenas nos vêm à mente e os fragmentos das conversas nos arrebatam provocando reflexões. Estamos alegres, sorrindo à toa, numa cumplicidade que se revela na abertura profunda para construir, apoiar, aprender e acima de tudo sentir o que as palavras não podem materializar. Conversávamos sobre o quanto cada uma tinha sido provocada nesses dois dias em Teresina.
Lembramos que logo na chegada, fomos recebidas por Emília que exibindo seu sorriso acolhedor, nos conduziu até a sua casa onde tivemos uma conversa regada à cajuína bem gelada. Falamos sobre  o HILP, a RHS, as belezas de Teresina, o encontro dos rios, o churrasco de bode e a cachaça mangueira. A Serra da Capivara roubou nossas atenções porque declarada Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO e abriga o mais importante sítio arqueológico do nosso país, cujas inscrições rupestres são indícios da mais antiga ocupação do homem em terras americanas. Os assuntos fluíam  e se interligavam de modo leve, assim como os pontos da toalha de crochê colorida sobre a mesa. Falamos do nosso nordeste, da necessidade de refletirmos sobre a sua história, olhar para si, para o lugar de vitimização ainda tão forte no nosso contexto, do anseio por legitimidade levando-nos ao ponto de copiar o que não é nosso.  Um exemplo dado e que nos fez rir, diz respeito ao anúncio colocado na porta de uma casa no bairro das quintas em Natal, com os seguintes dizeres: “ensina-se carioca”. Ficamos imaginando a professora ouvindo uma palavra dita de forma seca pelo nordestino interessado em falar mais bonito e em seguida o acréscimo do “chiado” nas últimas sílabas, como modo certo de pronunciá-las. Como fortalecer a diversidade do ser, de cada lugar, enxergar-se, “deslocar-se desses mecanismos aprisionadores e denunciar tanto um lado como o outro, como parte das artimanhas de nossa dominação e poder ter outras artimanhas, outras manhas, outras manhãs", como nos fala Durval Muniz.

No dia seguinte, na reunião do Comitê Estadual da PNH observamos a força daquele  coletivo e empolgadas com a rodada de apresentação das experiências locais, cochichamos: que maravilha! Essa política tem militância  em todo Brasil, né? Annatália, Emília, Maria Vieira, Loli, Ana Eulálio, Amparo, Jesus Mousinho, Raimunda, Clara, Valéria, Fátima, Soraya e tantos outros, dão sustentação ao coletivo de apoiadores da PNH local, que se movimenta com sabedoria, desafiando o “vai e vem” dos gestores e as antigas certezas. Suas falas anunciam que a política não tem foco único: a visita aberta, a pesquisa de satisfação dos usuários, o direito à acompanhante, o parto humanizado, a rede no berço, as rodas de conversas, a educação permanente, vão se impondo a partir das singularidades de cada local.

Assim, prosseguimos as discussões confirmando que a realização do I Seminário Regional Nordeste II cuja construção foi uma das razões dessa reunião, aprofundaria as experiências de cada lugar, buscando enxergar em nós a diversidade e a potência criativa desses coletivos. Nos dias 15 e 16 de setembro, estaremos mais uma vez juntas, nos encontrando na alegria da troca que respeita, fortalece, critica, discorda e, acima de tudo, não aponta verdades, mas transpõe fronteiras buscando desestabilizar antigas convicções para, quem sabe, como afirma Durval Muniz, “dar lugar a novas espacialidades de poder e de saber”.  

Sheylla e Jacqueline