“Humanização uma nova cultura de atendimento”
Autores: Mariana Crepaldi de Oliveira, Franciele de Oliveira Marangueli, Fúlvia de Souza Veronez .
O programa de Humanização é uma proposta do Ministério da Saúde e tem como objetivo principal implementar no ambiente hospitalar uma prática acolhedora; considerando os aspectos físicos, subjetivos e sociais que compõe o atendimento à saúde. Visa proporcionar a aproximação entre profissionais e usuários num clima que facilite as relações e proporcione a qualidade de vida para todos.
Segundo a cartilha do PNH (Política Nacional de Humanização) humanizar é garantir à palavra a sua dignidade ética. Ou seja, o sofrimento humano, as percepções de dor ou de prazer no corpo, para serem humanizadas, precisam que as palavras com que o sujeito se expressa sejam reconhecidas (MS, 2000a).
Os valores que norteiam essa política são a autonomia e o protagonismo dos sujeitos, a co-responsabilidade entre eles, os vínculos solidários e a participação coletiva no processo de gestão.
Os hospitais que possuem equipes de humanização podem contar com os seguintes profissionais: médicos, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, entre outros. Nesse trabalho gostaríamos de destacar a figura do psicólogo.
O Psicólogo e o Projeto Humanizar
As equipes de Humanização formadas por psicólogos têm como objetivo criar um ambiente que proporcione mínimas condições de conforto e confiança ao individuo durante o período de hospitalização.
A proposta de humanização está centrada na possibilidade de comunicação e diálogo entre usuários, profissionais e gestores, busca instituir uma “nova cultura de atendimento”.
Dessa forma esperamos que o paciente participe da sua recuperação ativamente, que ele seja o protagonista da sua história, pois assim estaremos atendendo o paciente de maneira integral sem nenhum tipo de fragmentação.
De acordo com a Organização Mundial de saúde a integralidade pode ser entendida como uma ação resultante da interação democrática entre atores no cotidiano de suas práticas na oferta do cuidado de saúde, nos diferentes níveis de atenção do sistema (MS, 2000).
A integralidade está presente no encontro, na conversa, na atitude do médico que busca prudentemente reconhecer, para além das demandas explícitas, as necessidades dos cidadãos no que diz respeito à sua saúde. A integralidade está presente também na preocupação desse profissional com o uso das técnicas de prevenção, tentando não expandir o consumo de bens e serviços de saúde, nem dirigir a regulação dos corpos (Gomes, 2005).
Assim, resgatar a humanidade do atendimento envolve atenção, acolhimento e compreensão por parte de quem presta o serviço de acordo com as necessidades emocionais e culturais dos usuários.
Atribuições do Agente de Humanização
A equipe de humanização tem a função de redimensionar o espaço da vista e do acompanhante para ajudar na identificação das necessidades do doente, através do contato com a família manter a inserção social do paciente durante sua internação, incluir a comunidade nos cuidados com a pessoa doente, permitir a integração das mudanças provocadas pela internação, oferecer acolhimento no momento da internação e em situações criticas a pacientes e familiares, orientar os pacientes sobre as regras do hospital (horários, entrada de alimentos, medicamentos, presença de crianças, entrada com travesseiros e cobertores), realizar atividades lúdicas e recreativas com os pacientes (jogos, desenhos, revisas, fantoches, etc), colaborar com o trabalho da enfermagem no caso de pacientes resistentes, incentivando a alimentação, a aceitação dos procedimentos médicos, de modo a facilitar as relações entre usuário e equipes.
Uma forma de humanizar o atendimento no hospital centrando o foco na criança é através da arte, principalmente para pacientes que ficam internados por muito tempo.
Os jogos a pintura, o desenhar, o recortar o colar, enfim o brincar tem como objetivo sempre melhorar a qualidade de vida no período de hospitalização, estimulando a produzir e fazendo com que se sintam mais realizados ao desempenharem essas atividades.
Em unidades pediátricas de acordo com Wellington Nogueira, com a criança não tem planejamento. Quando ela tem atenção e o respeito que merece qualquer lugar pode se transformar em um mundo encantado (COREN-SP, 2004).
As principais conseqüências da união de profissionais para a humanização são o aumento da produtividade, a diminuição do tempo de internação e a melhoria do relacionamento externo.
Se a instituição hospitalar se mobiliza buscando caminhos que possam levar o paciente ao encontro da sua humanização, certamente o psicólogo terá papel decisivo nessa estruturação.
Bibliografia
MS (Ministério da Saúde) 2000. Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar. Brasília. (Mimeo)
MS (Ministério da Saúde), 2000a. Manual do PNHAH. Brasília. (Mimeo)
GOMES, Márcia Constância Pinto Aderne; PINHEIRO, Roseni. Acolhimento e vínculo: práticas de integralidade na gestão do cuidado em saúde em grandes centros urbanos.
Interface (Botucatu)., Botucatu, v. 9, n. 17, 2005. Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-32832005000200006&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 10 Maio 2007. Pré-publicação
NOGREIRA W; Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo. COREN- SP; ed.42.
Por patrinutri
A Política Nacional de Humanização da atenção e da gestão do SUS é sem dúvida uma ousadia. Sua aposta desafia conceitos antes já cristalizados na saúde, como por exemplo a idéia de funcionar sob uma ordem programática, ou seja cada ação fechada em uma caixinha. Ao ser política a PNH vai para além de ações governamentais para resolver problemas, vem para valorizar os princípios do SUS e das experiências exitosas vivenciadas em todo o Brasil.
Ao propor o princípio da inseparabilidade entre atenção e gestão reconhece a importância de cada ator envolvido no processo de produção de saúde, não se limita a tratar sintomas e debelar doenças, mas em incluir na roda o que de bom e de ruim acontece na saúde pública brasileira, buscando soluções coletivas.
Ou seja não podemos reduzí-la a uma nova estética na atenção do SUS, mas temos que considerar seu aspecto ético e político para então falarmos do que é PNH, muito além de uma "nova cultura do atendimento" (sic).
Não falamos aqui de indivíduos isolados capazes de humanizar a saúde, buscamos um fazer coletivo, a abertura da roda, a possibilidade de sustentabilidade do SUS por um fazer co-responsável.
A PNH não é um pó mágico que se tira da cartola para solucionar os problemas da saúde é uma construção, um processo coletivo e nesta perspectiva não só no hospital devemos fazer saúde, onde aliás em muito se busca aplacar doenças através de tecnologias cada vez mais complexas.
Nossa aposta é produzir rede em favor do SUS, que ampliem o acesso ao sistema e cada vez mais corroborem para a concretização dos princípios do SUS como a integralidade, equidade e universalidade.
Humanização na saúde se faz não só no hospital, não só na porta de entrada das instituições, se constróe na atenção e na gestão da saúde coletiva e pública.
Estão neste processo gestores, trabalhadores e usuários do sistema único de saúde.
Foi-se o tempo que colocáva-se os usuários nesta posição passiva de mero receptor das ações dos profissionais de saúde ou instituições. Atualmente, mais do que nunca estes usuários são efetivos participantes do controle social, da clínica ampliada, das rodas de conversa sobre humanização.
Se ainda não são em alguns locais é porque a PNH ainda não conseguiu infiltrar-se, mas em breve estes espaços se concretizarão.
Nosso rumo é pela inclusão, pelo fazer coletivo, pela ousadia de dizer que humanização é mais que ação humanitária ou solidariedade, é respeitar as diferenças, é desacomodar-se, é uma ação política sem ser necessariamente partidária. mas não é ingênua, nem puritana, é ação, mobilização.
Uma roda a rodar!
Patrícia S. C. Silva
Blumenau SC