Sobre malas e manicômios: memórias dos esquecidos

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Por Aislane Oliveira

Segundo o dicionário Priberam da Língua Portuguesa, ‘Mala’ vem do francês Malle, que significa caixa revestida de couro ou lona, usada normalmente para transporte de roupas e/ou outros pertences, em viagens.

Não existem indícios na história de como foram criadas as primeiras bolsas/malas ou de como seria sua forma, o que se sabe é que desde o início dos tempos a comunicação já estava presente na vida humana. Por exemplo, através de desenhos os povos primitivos registravam seus costumes, sendo encontradas, então, imagens com a figura feminina portando bolsas.  Além, é claro, de que esses grupos pré-históricos eram nômades e viviam se deslocando de lugares de acordo com sua necessidade de obter alimentos, como já sabiam que a pele dos animais (couro) servia para proteção do corpo, pode ter surgido daí a ideia de criar um “recipiente” capaz de guardar alimentos e/ou outros objetos necessários para a viagem.

O trabalho de Jon Crispin consistiu em fotografar cerca de 400 malas encontradas no manicômio Willard Asylum For The Chronic Insane (Asilo Para Cronicamente Insanos de Willard), lugar este que funcionava desde 1869, e que fechou suas portas em 1995.

Segundo alguns estudos, foi através da reforma psiquiátrica que tornou possível o início da luta pela extinção de locais como o Asilo Para Cronicamente Insano de Willard. A luta antimanicomial consiste principalmente em lutar pelos direitos da dignidade aos pacientes psiquiátricos, “luta essa com um olhar para o ser humano como sujeito de todas as ações, tendo como princípios a desinstitucionalização do manicômio” (LEAL, s/p, 2012). A reforma psiquiátrica visa modificar o sistema de tratamento clínico da doença mental, eliminando como forma de tratamento a internação e exclusão do paciente da sociedade.

O trabalho do fotógrafo Jon Crispin nos proporciona uma viagem pelo passado desses pacientes que tiveram suas vidas eliminadas de uma sociedade munida de pré-conceitos. Cada mala registra a simplicidade, os sonhos e os desejos de cada um dos internos que foram mantidos guardados, na esperança de que um dia eles pudessem finalmente voltar para suas casas, para uma vida normal. As fotografias representam um tipo de resgate à lembrança dessas pessoas que por lá foram esquecidas.

Saiba mais em: (En)Cena – A Saúde Mental em Movimento