Reflexões sobre o 2º Seminário Nacional da PNH, por Sheylla Maria Rodrigues

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Companheiras e companheiros da PNH

Comecei a escrever este texto no domingo pela manhã, final de semana após o seminário da PNH. Um tanto confusa e ainda pensativa sobre nosso evento, fomos eu, meu companheiro Moisés, Adail e Teresa tomar uma cervejinha. Fomos ao “Bar do gaúcho”, lugarzinho simpático e popular, próximo à minha casa. Naquele momento, o que poderíamos conversar, além das nossas impressões sobre o seminário da PNH?  Teresa e eu estávamos contagiadas pelo encontro e Moisés e Adail se renderam diante da nossa empolgação. Adorei essa conversa porque tinha dentro de mim tantas perguntas, coisas a falar e ouvir. Esse papo pôs em questão minhas certezas, ajudou-me a reafirmar princípios, me desarmou, ajudando-me a ter mais calma, enfim, dando-me abertura para o que não sei responder, nem entend er. Entendi que não deveria precipitar minhas análises, nem deixar os clichês falarem mais alto.

Destacamos a importância do seminário para todos e cada um de nós, no sentido de repensarmos a política, as nossas crenças, o que é a humanização, a inclusão, no conjunto das políticas do atual governo, do MS etc. Gostaria de dividir com vocês minhas impressões e farei isso levantando alguns pontos:

1)      Agradecimentos: Em primeiro lugar, parabenizar o coletivo MS, nas pessoas do coordenador  Dário Pasche e da nossa consultora Teresa Martins, por sustentarem esse processo com muita determinação. O coletivo MS soube conduzir o seminário de forma bastante democrática, incluindo, sempre que possível, as nossas demandas. Soube construir junto. Estão de parabéns, igualmente, os consultores e apoiadores da PN H que, em cada estado, vêm desenvolvendo um forte trabalho de ampliação dos coletivos locais. Isso fica claro na representação do seminário. Estavam presentes trabalhadores das mais diversas categorias – agentes de saúde, psicólogos, médicos, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, secretários de saúde, estaduais e municipais, promotores de saúde, intelectuais das universidades, representantes dos conselhos, do MS, etc. Gostaria de fazer uma ressalva especial ao companheiro Ricardo Teixeira e aos editores da RHS. Fiquei impressionada com a determinação de vocês em transmitir nosso evento. Percebia que as dificuldades eram muitas, mas vocês não desistiam diante de nenhum empecilho.  Aí vi que a ética e o compromisso falavam mais alto, pois centenas de trabalhadores, nos estados e municípios, esperavam por essa transmissão. Ricardo, Jacqueline, Patrícia e Claudia, saibam, senti um carinho imenso por vocês, assim c omo uma profunda gratidão pela grande contribuição da RHS à nossa PNH.

2)      Pontos positivos: Minha análise do encontro, portanto, é muito positiva, mesmo sabendo das dificuldades de se construir uma proposta que, como disse meu companheiro, no barzinho, está na contra-mão das políticas predominantes no atual governo. Segundo ele, como o Estado brasileiro e os governos são mo vidos pelo calendário eleitoral, o que não servir ao espetáculo eleitoral de cada conjuntura, não se constitui  prioridade. Isso independe, disse ele, da boa vontade do Lula ou de qualquer outro governante: é o jogo que deve ser jogado, segundo as regras do campo político nacional. Bom, análise de sociólogo!!! Eu, particularmente, penso, depois da conversa, que isso faz sentido embora, mesmo com as dificuldades, estejamos avançando e o seminário foi um bom exemplo.

Não é comum no País  um encontro com participação de 1200 pessoas em que todos têm espaço de fala, de expressão das suas idéias, mesmo não estando em total consonância com as diretrizes da política proposta. Todos falaram, fossem como propositores nas mesas ou rodas, moderadores, fossem apresentando pôsteres, falando nos pequenos grupos ou na Ágora. Ninguém saiu mudo desse encontro.

Em encontros passados, aprovamos a decisão de ampliar os coletivos locais e fizemos isso!! Nossa política é de inclusão e estamos fazendo isso: inclusão dos trabalhadores, gestores, usuários, movimentos sociais, coletivos organizados etc. O companheiro Júnior, presidente do Conselho Nacional, enfatizou como a PNH tem penetrado no SUS. Disse que, por onde anda, nas caravanas ou nos diversos encontros, tem-se ouvido a voz da PNH.

Assistimos também, neste encontro, a apresentação de inúmeros trabalhos que estão mexendo, de forma significativa, com as relações de poder em vários serviços do país e em algumas gestões. As  alianças políticas para fora do MS têm se ampliado. Para mim, foi muito significativo ver, no espaço da Ágora, aquela multidão gritando repetidamente os nomes de Dário, Edu e Gastão ou os aplausos sem fim de reafirmação da PNH.  É como se dissessem: “Nós os legitimamos enquanto autênticos representantes  dessa Política e do SUS!!”

3)      Questões: Como lidar com essa ampliação, com a diversidade? Como acolher tantas  idéias, jeitos de fazer que nem sempre estão em consonância com a PNH? Como me despojar do meu autoritarismo, das minhas verdades, preconceitos e disputar o sentido para as transformações no SUS?  Lembro de um pôster que vou nomear assim: “Um olhar de amor, um gesto de afeto”.  Isso me levou  a pensar…  pensar… Como é interessante essa atividade, essa ação!! Como deve ser bom ser acolhido nos momentos de dor, na solidão dos hospitais…  Ter no serviço uma técnica que acalme os bebês nas UTIs… E por aí fui pensando. Mas, me censurei e lembrei: essas ações são tão pontuais! Isso  muda processo de trabalho, transforma  nossas vidas, transforma o SUS? Então, coloquei meu pensamento na roda e perguntei: até que ponto essas ações mudam nossas vidas? Aí entramos no debate para disputar o sentido da humanização. Gostei da discussão e vi que não existe uma saída mais democrática, respeitosa que essa.

Outra questão que me fez refletir, foram as manifestações de religiosidade da nossa gente: os agradecimentos a Deus para o que de bom se realiza nas nossas vidas. Durante um bom tempo, na minha trajetória como militante política,  confesso que isso me incomodou, porque eu associava essa evocação a Deus ao comodismo e à subordinação. Queria convencer as pessoas que não era por aí, que elas fossem revolucionarias, acreditassem em si, no seu poder de transformação, não num Deus salvador. Eu as escutava, mas sempre dava um jeitinho de catequizá-la. Hoje me pergunto qual de nós era mais adepto de uma seita religiosa: se os prisioneiros das crenças populares ou os militantes de esquerda messiânicos.

4)      A grupalidade do RN: Por último dizer que fiquei muito feliz em ver os secretários de saúde do estado e município de Natal no nosso Encontro. Foi muito gratificante ver o Dr. George participando das rodas, empolgado com os debates/proposições, com a força e energia do Encontro. Ele ficou impressionado, pois o que fizemos é diferente das “palavras de ordem” das políticas tecidas em outros espaços. Também adorei ver na comitiva do RN, as agentes de saúde do Panatis, Lucinalva e Josefa, apresentando a Tenda do Conto, os  professores da UFRN, os gestores da SESAP, os companheiros e companheiras do Conselho de Saúde, o Núcleo Articulador da PNH/RN, todos  muito envolvidos. Senti que formamos uma grupalidade. A Tenda do Conto mostrou ser um dispositivo potente, que pode ser armado em qualquer lugar desse país, proporcionando uma rápida e acolhedora interação entre as pessoas. Gostaria de agradecer particularmente a Beth Barros, Eymard Mourão, Paulo Amarante, Erasmo , Annatália e Teresa Martins, os quais, na Tenda, contaram histórias importantes e significativas, tanto do ponto de vista pessoal quanto relativas  à história do SUS.

 

Um forte abraço. Sheylla Maria