ACOLHER É MUITO MAIS DO QUE ADMINISTRAR HORÁRIOS E AGENDAMENTOS

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Debates
JOSE CARLOS DE CAMARGO 11/06/2016

Quem procura os serviços de saúde, a priori, já vem com uma expectativa pré concebida, geralmente direcionada para sua demanda.  Essa porta de entrada pode ser acolhedora e aconchegante, na medida em que faz uma diferença muito grande a forma como essa “dor” é recebida, acrescida de toda a gama de dores do cotidiano (familia, finanças, trabalho, política, violência…).

A espera, o sistema de fichas, o humor do balconista também com suas dores e problemas, o sertar-se ou ficar em pé, ao lado das outras dores só intensifica o que a pessoa já traz. É preciso repensar essa chegada, disponibilizar um acolhimento onde, se pelo menos a intervenção esperada não acontece ou tem sua demora, pelo menos lhe possibilite uma escuta atenciosa, criativa, participativa e produtiva. Não justifica a falta de recursos humanos se toda a equipe fica centralizada na consulta médica ou na dispensação de medicamentos…

Acredito numa atenção à saúde onde a atenção é voltada para as ações “para fora”, e não na espera passiva do que chega. A consolidação do SUS deve estar centrada na construção e participação cidadã. Precisamos urgentemente avançar nos conceitos de acolhimento, transformando-o numa ação dinâmica e de disseminação de compromissos, mudar o Posto de Saúde (local de chegada), para um “farol de saúde, onde esta seja disseminada.

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7 Comentários

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Por Emilia Alves de Sousa

Oi José Carlos,

Gostei da sua postagem trazendo essas reflexões sobre a atenção em saúde, os modos de acolher centrado na co-participação e  cidadania. Você propõe a transformação da unidade de saúde em uma farol de saúde. Muito legal! O que você sugere para essa transformação? Como sair de um foco de luz centralizado para um um farol que transversaliza e dissemina?

Uma ideia de puro contágio!

AbraSUS!

Emília

    Por JOSE CARLOS DE CAMARGO

    Em meu município o tal Humanizasus tem acontercido ao contrário, infelismente. O modelo utilizado ainda é o baseado no modelo de consultório particular com agendamento e filas… O modelo de avaliação ainda é centrado em número de procedimentos para repasse ao FMS. Essa postura não facilita as ações de integração. Acredito que a organização de funcionamento de um posto de saúde deve ser organizada com a participação dos usuários, sendo definido pelas características de seu território e essas discussões de “falta de profissionais, de material, de estrutura” deve estar aberta para a participação, afinal de contas a unidade de saúde esta dentro de um território, não um ovni enviado pela nave mãe do hospital (hehehe). Acredito que o modelo de atenção de cada unidade deve ser construído em conjunto com a população do território como co-responsáveis de seu funcionamento, assim como as escolas, etc. Talvez um pouco utópico, mas estaremos parando de fazer de conta.

Por deboraligieri

Olá, José Carlos.

É bastante comum eu ouvir de profissionais e educadores em saúde que os usuários buscam uma oferta específica dos serviços de saúde, um tipo de atendimento escolhido a priori. Mas a situação inversa também acontece, quando os trabalhadores já dispõem de uma oferta pronta sem conhecer a realidade particular do usuário. Havia uma época em que eu frequentava mensalmente o pronto-socorro de um hospital perto da minha casa por conta de fortes coolicas menstruais. Assim que eu chegava, todas as vezes, o atendente me perguntava “qual a especialidade?”. Na primeira vez respondi “não sei, sou a paciente, você que me diz qual a especialidade pra resolver a dor que eu sinto”. Mas nas vezes seguintes, passei a responder “tenho coolicas menstruais, vim tomar buscopan na veia, como no mês passado”, quando já chegava ao pronto-socorro com o atendimento escolhido de antemão.

Apesar de ir ao mesmo pronto-socorro (na época particular) por meses seguidos, e das fortes coolicas menstruais serem um sintoma típico de endometriose, ninguém que lá me atendeu chegou a cogitar a hipótese. O atendimento que eu recebia tinha começo, meio e fim, era pontual. Niguém analisou o meu histórico, sequer investigaram ou encaminharam para investigação a evolução das minhas dores com o tempo. Depois de alguns anos, lendo um pouco mais sobre o assunto, e sabendo que a minha irmã tem endometriose (problema que costuma afetar mulheres da mesma família) consultei um ginecologista com o propósito de investigar a hipótese, que após os exames foi confirmada.

Essa é uma lógica que nos captura (pacientes e profissionais) se não soubermos fazer esse diálogo mais democrático como você propõe. Na UBS que frequento aqui em São Paulo o setor com mais problemas é justamente o balcão de atendimento, onde as pessoas deveriam ser acolhidas e ouvidas para a identificação de suas demandas, e para posterior construção conjunta de soluções possíveis dentro do sistema. Mas o que acontece muitas vezes é que esse acolhimento se resume a fornecer uma senha para o usuário marcar uma consulta com especialista ou clínico geral, ou para receber seus medicamentos, como você bem aponta. 

Por esta razão, debater o acolhimento como ferramenta de produção e disseminação de saúde é uma oportunidade linda para nos aprofundarmos nos princípios democráticos do SUS e sua efetivação na prática, para que os equipamentos de saúde sejam mais que um farol, mas a própria luz de saúde!

Abraços,

Débora

 

Por Raphael Henrique Travia

Oi José Carlos,

Fico feliz com sua postagem  e deixo aqui minha opinião, enquanto cidadão residente em Joinville.

Acredito que a expectativa pré-concebida de qualquer usuário que busca os serviços de saúde é ter sua demanda resolvida, ou então encaminhada para o local onde possa receber atendimento adequado.

Muitos fatores influenciam o humor do Agente de Saúde Pública “que está na linha de frente, atrás do balcão”. Investimentos em infraestrutura também são necessários, mas a situação de Saúde em Joinville com o Gestor Municipal que temos atualmente é tenebrosa.

Falta remédio e falta recursos humanos e estruturais adequados.

Não adianta fazer o melhor acolhimento do mundo, se o atendimento não for eficiente…acredito essas ações devem caminhar juntas, onde o próprio médico deve perceber-se como parte da equipe e ser tratado de forma mais igualitária pelos trabalhadores e gestores  e não uma “divindade externa”. 

Abraços!

Raphael

 

    Por JOSE CARLOS DE CAMARGO

    Também acho que a gestão de direitos básicos no país é vergonhosa, senão criminosa e assassina. No entanto, existem uma forma de dizer “não podemos atender essa demanda” que não seja com cara feia ou plaquinha na porta. Mesmo não podendo oferecer um serviço necessário, podemos compactuar com o usuário um compromisso de empoderamento da saúde através da participação ativa diferente de correr ao Fórum. Tá ruim e, pelo andar da carroça, vai piorar. Mas nós que “estamos no balcão” podemos fazer diferente… Não podemos penalizar os usuários com o acrescimo de nossas dores.