Acolhimento e Descentralização da profilaxia das IST’s às Vítimas de Violência Sexual no HE

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         Uma das ações do GTH, como proposta de intervenção nas linhas de cuidado, é a descentralização da profilaxia às vítimas de violência sexual para o HE (Hospital de Emergência Dr. Daniel Houly). O HE, hospital público especializado em trauma pertencente à rede estadual de saúde, apesar de fazer parte da Rede de Atenção às Vítimas de Violência Sexual – RAVVS, ainda não oferta os exames, nem o coquetel antirretroviral, ou seja, não oferece o atendimento integral como preconiza as diretrizes ministeriais, mas apenas o atendimento médico e psicossocial, assim como os encaminhamentos e transporte para deslocamento à referência. Vale salientar que o HE, por estar localizado na cidade de Arapiraca, sede da 2ª macrorregião de saúde, atende vítimas de traumas de 54 municípios do Estado de Alagoas (Regiões do Agreste, Sertão e Baixo São Francisco), como também de alguns municípios limítrofes dos Estados de Pernambuco, Sergipe e Bahia. Em todo o Estado de Alagoas, apenas o Hospital Escola Maternidade Santa Mônica, localizado na capital, Maceió, a 136km de distância, oferece tal serviço. Diante do exposto, a descentralização deste serviço será de extrema importância para os usuários, para os trabalhadores, para a gestão, pois ao tempo em que se diminui o tempo de espera para a profilaxia, o risco de infecção e a revitimização, reduz-se os gastos com deslocamento e o desgaste da equipe.

      A escolha deste projeto se deu em 2017 a partir de levantamento de problemas através de rodas de conversa entre os representantes do GTH, coordenadores e profissionais de saúde. A proposta foi levada à Gerência da Unidade em reunião com direção geral, direção médica, direção administrativa, gerência de enfermagem, coordenação da emergência e coordenação do GTH. Com o aval da equipe gestora o projeto foi colocado em prática com a realização de algumas reuniões com a finalidade de realinhar o fluxo interno de atendimento às vítimas de violência sexual, com foco no atendimento mais acolhedor, procurando preservar sua privacidade e evitando a revitimização.

      Com relação à descentralização da profilaxia, movimento mais complexo que exige o envolvimento de atores externos ao HE, o GTH estabeleceu contato direto com a Gerência de Ações Estratégicas (GAEST) e com a Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado da Saúde (SESAU) para discussão dos limites e possibilidades para esta ação. Nossa solicitação foi acolhida e até o momento quatro reuniões foram realizadas com a pauta da descentralização. A primeira aconteceu na SESAU, no dia 08 de agosto onde estavam presentes membros da SESAU e profissionais médicos, psicóloga e assistente social do HE. A segunda reunião aconteceu em 14/08, no HE, com a equipe do GTH a fim de socializar as discussões da reunião anterior e dar início a alguns encaminhamentos solicitados. Uma participação importante foi a do coordenador do Núcleo de Educação Permanente, pois foi discutida, dentre os assuntos, a programação de capacitações para todos os servidores, enfocando o Acolhimento como diretriz. Em um terceiro momento (20/08), aconteceu uma conversa entre a coordenação do GTH, coordenação da Clínica médica e a diretora geral do HE, dra Regiluce Santos, sobre as necessidades postas como estruturação de sala (consultório) exclusiva para esses atendimentos, com foco na ambiência, que promova acolhimento e relaxamento a essas vítimas.

      No dia 10 de setembro, aconteceu um movimento muito especial no HE, com uma mesa redonda composta por todos os coordenadores e/ou seus representantes, equipe diretiva (HE), profissionais da SESAU (GAEST E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA), representante da RUE e apoiadora do Ministério da Saúde Marilda Yamashiro. Este momento, conduzido pela coordenadora do GTH (Andréa Lira) foi apresentado um vídeo de Manu Silva sobre abuso sexual (trecho do filme “O Silêncio de Lara”) com o intuito de sensibilizar os presentes através da música contida no vídeo, representando a voz dos usuários, ausentes naquele momento. Na sequência a coordenadora da RAVVS (Camile) conduziu a reunião mostrando a necessidade de reorganização da rede interna do hospital, com ampla discussão entre os presentes. Ficaram estabelecidos alguns encaminhamentos como: redefinição do Fluxo interno de atendimento, estruturação de consultório específico, planejamento das capacitações, levantamento de necessidades de insumos. Como produto, foi formado um Grupo Condutor para dar prosseguimento às atividades inerentes à ação. Este grupo local foi formado pelos coordenadores dos seguintes setores: GTH, Epidemiologia hospitalar, RUE, Clínica médica, Emergência, Gerência de Enfermagem, NEP, CAF, NIR, Serviço Social e Psicologia.

      No próximo passo (realinhamento do fluxo) estaremos incluindo representantes dos usuários para que a tríade usuário-trabalhador-gestor, tripé da PNH, seja respeitada e o usuário também seja protagonista neste processo. Este trabalho, tão gratificante, permite pôr em prática as diretrizes da PNH, tendo em vista que o acolhimento, a gestão participativa e cogestão, a ambiência, a clínica ampliada, a valorização do trabalhador e a defesa dos direitos dos usuários são percebidas em vários aspectos deste movimento. O trabalho está apenas começando, mas temos certeza que, com o empenho de todos, nossos usuários poderão ter acesso a um serviço mais integral e de qualidade, respeitando seus direitos e os princípios do SUS.

      Andréa Paula Lira – Coordenadora do GTH/HE