Divagando com Barthes

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Divagando com Barthes

 
Considerando que a escrita oceânica
procede de nascente profunda
o ser em sua intimidade a prova
um tira gosto nas entrelinhas 
o grau zero da escrita de Barthes
desnuda os signos e, com efeito
o paladar varia de lugar
[de amante para amado e vice versa]
 
A lógica da coisa é livrar-se da neura
isto é, encontrar a neutralidade
a transparência nas cores
e a luz nos sombreados.
 
A escrita oceânica não se prende a estética
mas liberta-se ao tocar a essência do universo
e não descarta a contrariedade que se mostra em registro
uma vez escrito, está sujeito a ser encontrado
por si ou por um outro, não estará livre do espanto
pois nem sempre se reconhece
uma carta de amor escrita de próprio punho
o tempo envelhece o papel
e as palavras perdem o sentido que tinham.
 
Entregar-se a um romance
ou mergulhar de cabeça vai além do desejo
de conhecer espécies exóticas
é necessário encarar o medo de logo adiante
encontrar uma rocha e, quem sabe
sofrer um traumatismo craniano…
 
O gelo costuma aliviar a dor
então é prudente revisar o congelador
se vazia a forma você arrisca ter de sair no meio da noite
e se caso precisar, use com cuidado para a pele não queimar
visto que o reflexo do corpo pode falhar.
 
A entrega à escrita assinala um estilo próprio
a subjetividade conecta-se no intimo grau
para se compreender o ato da entrega
é necessário entregar-se ao desconhecido
onde não há lugar para se banalizar o afeto
ou potencializar o efeito vil endereçado ao beijo   
a representação do afeto não se situa trancafiado
em confeitarias, em lojas de conveniências
ou em syber cafés, mas isso não significa dizer
que não pode nascer ali ou em qualquer outro ser!
 
[Denize Mafalda]
 
P.S. Penso que o trabalho em saúde tem a ver com a entrega… e não há entrega possível sem afeto!