Nas instituições hospitalares, além dos profissionais de saúde que assistem diretamente os pacientes, há os profissionais das áreas de apoio e administrativas que tem pouco ou nenhum contato direto com os pacientes, mas que são imprescindíveis para o atendimento à saúde.
Na maioria das vezes, os profissionais das áreas do laboratório, farmácia, cozinha hospitalar, suprimentos, administrativos, etc., exercem suas funções mecanicamente, pois lidam com prontuários, materiais, lâminas, exames e dietas exigindo padronização de rotinas, condutas e controles. Essas atividades passam a ser automatizadas e impessoais, levando a uma rotina de serviço onde apesar do objetivo final ser a assistência ao paciente, os profissionais não conseguem visualizar que seu trabalho faz parte de um contexto e que é importante ao bom atendimento ao paciente.
O “Projeto Conhecendo quem faz”, idealizado pelo Serviço de Terapia Ocupacional do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (ICr – HCFMUSP), consiste em realizar visitas, com as crianças e adolescentes internados, nessas áreas do hospital que não têm contato direto com os pacientes. Tem como um dos objetivos favorecer a aproximação dos profissionais de áreas de apoio e administrativas com as crianças e adolescentes internados no ICr – HCFMUSP. Essa aproximação permite a sensibilização desses profissionais para o significado da execução das tarefas, mostrando que objetivo final de todo o trabalho é, direita e indiretamente, voltado à recuperação da saúde da criança internada.
As crianças internadas realizam “visitas” semanais nos setores administrativos e de apoio. Elas são previamente liberadas pela equipe médica e de enfermagem, de acordo com as condições clínicas, necessidade ou não de auxílio na locomoção e nível de dependência de oxigênio. São acompanhadas pelo Terapeuta Ocupacional que apresenta e correlaciona os setores com as rotinas e procedimentos vivenciados por elas durante o processo de internação.
Durante as visitas, os profissionais explicam para as crianças o funcionamento do setor e demonstram, na prática, como são realizados os pedidos de compra do hospital, o preenchimento de determinados formulários, a análise dos exames, as montagens das dietas aos pacientes, etc.
Além das visitas, aplicou-se um questionário com os profissionais para avaliar o projeto. As perguntas abordavam a compreensão dos profissionais sobre a importância do projeto e se de alguma forma houve alteração no desenvolvimento do seu trabalho
A seguir, algumas respostas obtidas no questionário:
1. Você acha importante receber visitas semanais dos pacientes internados no Instituto da Criança, através do Projeto “Conhecendo Quem Faz”?
– “Sim, porque podemos conhecer aquela “pessoinha” que muitas vezes conhecemos só por nome ou número (do prontuário)”. (Anônimo)
– “Sim, porque eles ficam muito ‘feliz’ e isso é gratificante para ‘agente’”. (A. -Nutrição)
– “Sim, é bom as pessoas saberem sobre o nosso serviço”. (Anônimo).
– “Sim, porque todos os exames realizados no Laboratório ‘começa’ a ter uma importância muito grande, pois faz conhecer o paciente e exame, diminuindo distância entre Laboratório e paciente”. (S. – Laboratório)
2. O contato direto com os pacientes mudou de alguma forma o seu trabalho?
– “Sim, é sempre um estímulo a mais ver a verdadeira razão do nosso trabalho ser realizado, ou seja, a criança tendo um bom atendimento”. (A. E. – Recursos Humanos).
– “Sim, porque me sinto mais humana, pois sei que não estou trabalhando só para um bloco de concreto e sim com vidas (ser humano), eu tenho orgulho quando eles vêm me visitar”. – (M. – Finanças).
– “Sim, porque quando pensamos em cada paciente, procuramos nos dedicar mais, pois o resultado final sempre será refletido no paciente”. (T. – Diretoria Executiva).
– “Sim, a partir do momento que começaram as visitas, os exames realizados que eram tratados de uma maneira técnica começaram a ‘serem visto’ com mais humanidade, carinho”. (F. – Laboratório)
– “Sim, faz muito bem ter contato com os ‘paciente’ que conhecemos apenas no papel e podermos saber mais de suas vidinhas”. (M. A. – Faturamento).
CONCLUSÃO
Percebeu-se que o Projeto tem uma repercussão positiva não somente aos profissionais, mas também aos pacientes, pois auxilia na compreensão da criança do processo de hospitalização e conseqüentemente da aceitação e adaptação ao ambiente hospitalar; diminuindo os sentimentos negativos desencadeados pelo desconhecimento e incerteza frente à rotina hospitalar.
O principal fato destacado no questionário respondido pelos profissionais foi a motivação e dedicação ao trabalho após a visita dos pacientes. O contato com a criança hospitalizada sensibilizou alguns participantes na reflexão de que as atividades realizadas cotidianamente são voltadas ao cuidado com o outro, e não meramente burocráticas ou técnicas.
O “Projeto Conhecendo Quem Faz” torna-se assim, uma importante estratégia de ação na motivação e satisfação dos profissionais em relação ao desenvolvimento de sua atividade rotineira, pois da mesma forma que todo processo de conscientização deve ser interno e natural, a motivação é uma consequência do autoreconhecimento e autovalorização de seu trabalho.
Por Sandra Ramos
ótima iniciativa! Sandra Ramos- Arapiraca/AL.