Os “Macacos” de Maceió
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Foram milhões de anos de evolução. Em algum ponto remoto do passado, nossa espécie ancestral foi obrigada a descer das árvores na quais estava muito bem adaptada. O ter que ficar no chão parece ter determinado a necessidade de um andar mais ereto. Com o passar dos milênios, a capacidade de andar cada vez mais ereto produziu um cérebro mais competitivo e comportamentos sociais que faziam as hordas gradualmente se transformarem em grupos com hierarquia complexa onde o sinergismo das várias individualidades tornava a busca por alimento e alguma proteção da natureza cada vez mais bem sucedida.
O resto já sabemos com alguma precisão. Espécies hominídeas foram sucedendo umas as outras, produzindo instrumentos mais complexos, vencendo os limites impostos pelo meio e, finalmente, produzindo e expandindo o grande diferencial da espécie humana. Ao mesmo tempo em que nos adaptávamos ao meio, íamos produzindo um meio que se adaptava às nossas necessidades a partir do casamento perfeito entre nossos cérebros e mãos. Ai não paramos mais: veio a agricultura que gerou aldeias, que geraram cidades, que criaram civilizações, que engendraram elaboradas religiões. Cada vez mais insatisfeito, os homens em nome de suas divindades iam diminuindo as distâncias entre os outros homens.
Novos artefatos, estradas, caminhos foram construindo impérios maiores e cada vez mais complexos em sua orgnização. Guerras, guerras, guerras. Junto a rapidez de comunicação, a rapidez de matar, potencialmente mais eficiente a cada nova contemporaneidade: pedra, tacape, lança, arco e flecha, espada, catapulta, besta, bacamarte, rifle, rifle de repetição, metralhadora, bombas, bomba nuclear, bomba de nêutrons, armas químicas, armas biológicas…nossa criatividade mortífera não tem mais fim.
Chegamos então aos limites da evolução ou, quem sabe, a uma nova etapa do processo evolucionário que ensaia uma espécie de retorno às origens. Dizem os biólogos que em algum momento do passado tremendas transformações ambientais em florestas da África equatorial (dramáticas erupções vulcânicas, inundações, tempestades, aumento de temperatura, desertificação etc), fizeram com que aqueles especializados porem frágeis macacos tivessem que descer das árvores pois elas deixaram de existir.
Agora novas tempestades obrigam os descendentes daqueles heróicos símios a voltarem para as árvores. Nas últimas semanas mais de trinta moradores de rua foram assassinados nas ruas de Maceió. Não que isso seja incomum em moutras cidades brasileiras. Mas Maceió chama atenção pela quantidade de mortes e por uma certa sensação de impunidade, afinal, como mais de 30 pessoas podem morrer das mais variadas e bárbaras formas sem que os assassinos sejam presos até agora? Talvez porque homens que vivam nas ruas não sejam vistos como homens…no máximo "macacos" inteligentes!
E como "macacos" inteligentes que são, chegaram a uma brilhante conclusão. Parece que tantos milhões de anos de evolução não teriam valido a pena. Massacres, a santa inquisição e os campos de concentração eram os indícios do passado que mostravam que nossa genialidade esbarrava em certos limites éticos. Pois os “macacos” inteligentes de Maceió, seres humanos que moram nas ruas, entenderam que numa sociedade que os exclui sistematicamente – inclusive os colocando na última fronteira da exclusão que é a morte – só existe um caminho a seguir: voltar para a proteção das árvores!
É isso mesmo caro leitor. Moradores de rua ameaçados em sua integridade física resolveram se proteger no alto das árvores e lá estão construindo suas "casas". O ciclo se fecha. Estamos diante da nova aurora da humanidade. A civilização está sendo refundada nas árvores! Não mais na África equatorial. O novo Éden da humanidade é Maceió!
A notícia que inspirou esse post chafurdado na barbárie pode ser encontrada em aqui
Por Maria Luiza Carrilho Sardenberg
Hominídeos seriam aqueles que, num registro ainda animal, matam seus companheiros desafortunados? Quem são estes infelizes de agora???
Tua notícia me faz lembrar também as últimas do preconceito contra os nordestinos.
tristes trópicos…
beijo
Iza