Área de deambulação em Centro Obstétrico

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O tema do meu TFG em Arquitetura e Urbanismo foi o projeto arquitetônico de uma maternidade. Tal maternidade foi concebida sob a ótica da humanização de partos e nascimentos. 
 

Gostaria de comentar aqui um dos espaços que  valorizaram muito o projeto e ao mesmo tempo, o que mais provocou questionamentos: A área de deambulação.

De acordo com a RDC 36 da Anvisa (que regulamenta os serviços de atenção obtétrica e neonatal), tanto os Centros de parto normal quanto os hospitais que possuem Centro obstétrico devem possuir área de deambulação. 

Interessante notar que esta área não é um ambiente de apoio, mas sim um ambiente-fim e, portanto obrigatória. Isto exclui a possibilidade de utilizar corredores e outros espaços para tal fim. O hospital precisa ter uma área exclusiva para isto.
 
 

Mas, como projetar uma área de deambulação?

A única orientação que o texto da RDC 36 nos fornece é que esta pode ser interna ou externa, preferencialmente coberta, a fim de ser utilizada em dias de chuva ou sol.

Comecei minhas reflexões pelo significado da palavra deambulação (dicionário uol):
 
deambulação
de.am.bu.la.ção
sf (lat deambulatione) Digressão, passeio.

deambular
de.am.bu.lar
(lat deambulare) vti e vint 1 Passear, vaguear: Deambulava pelo campoGostaria de deambular um pouco. vtd 2 Fazer mover-se em passeio: Precisamos deambular o corpo, é uma necessidade higiênica
 
Percebe-se que a mulher deverá ter o direito de passear, vaguear, divagar, caminhar ao acaso. Na verdade a mulher não será obrigada a caminhar, afinal durante o parto natural é a mulher que decide o que quer fazer, desde sua vontade não implique em riscos para sua saúde ou do bebê.
 

Compreende-se, portanto que o espaço deverá ser estimulante ao passeio, ou este se tornaria em mais um tipo de imposição além das muitas a que são submetidas diariamente as muitas parturientes em centros obstétricos convencionais.

O próprio significado da palavra exclui qualquer tentativa de espaços pequenos e centralizadores, nos quais a mulher ficaria andando em círculos.

Embora existam várias possibilidades para que o espaço seja estimulante ao passeio, este poderia ter  algumas destas características:

  • Boa iluminação e ventilação;
  • Visualização do exterior, de preferência ajardinado (cuidando sempre para que a mulher não se sinta observada);
  • Locais para se apoiar ou sentar durante as contrações;
  • Visuais diversas, que podem ser criadas com o uso curvas ou reentrâncias que criem complexidade espacial;
  • Equilíbrio de cores quentes e frias predominando as quentes por serem mais favoráveis às atividades físicas;
  • Uso de vegetação compondo espaços que incentivem o passeio;
  • Amplitude.

 

A maioria dos hospitais são concebidos com espaços minúsculos visando a economia de área, afinal o espaço hospitalar é bastante caro, tanto na fase de construção quanto de manutenção. No entanto, para deambular, ou melhor, passear, provavelmente o projeto arquitetônico deverá prever uma área bem maior do que o usual em centros obstétricos.
 

 

Ao projetar este espaço, a arquiteta ou arquiteto deve ter sempre em mente que a mulher deve por si mesma sentir vontade de conhecer o ambiente e, portanto passear por ele e que este passeio deve ser prazeroso.
 
Liliane Camargos
Arquiteta Urbanista