“Yes, we can”.
por Rita de Cássia de Araújo Almeida
psicanalista
“Yes, we can”. Este foi o lema da campanha presidencial de Barack Obama em 2009. A intenção era obvia: transmitir uma mensagem de esperança e motivação endereçada ao povo americano, mas, também não deixou de ser um recado ao mundo, uma forma de reafirmar o poderio americano depois de uma década de desgastes e crises .
Obviamente que esse lema carrega o brio e a capacidade de superação do povo americano, qualidades capazes de fortalecer e enobrecer qualquer país do mundo, e das quais ninguém duvida. E mesmo com todos os abalos políticos e econômicos sofridos nos últimos anos, os EUA ainda se mantêm como a nação mais poderosa do mundo. Enfim, todos sabemos do que podem os EUA. Entretanto, o que esperávamos com o final da Era Bush é que os Estados Unidos começassem a entender algo a respeito do que eles não podem.
Primeiramente os EUA não podem continuar acreditando, defendendo e se baseando na idéia de que o que é bom para eles é bom para outros povos ou para o mundo. Tal premissa, preconceituosa, etnocêntrica e prepotente, lamentavelmente reafirmada por Obama, impede que os Estados Unidos entendam que não podem tratar os demais países como meros coadjuvantes de uma cena onde eles são a personagem principal.
Os EUA não podem manter medidas protecionistas que resguardam seus produtos e provocam concorrência desleal no mercado mundial, prejudicando os demais países.
Os EUA não podem simplesmente desconsiderar ou desrespeitar os protocolos internacionais assinados para tentar reduzir a poluição e a devastação do meio ambiente, simplesmente para preservarem sua própria economia.
Os EUA não podem manter embargos econômicos, com o de Cuba, por exemplo, sob a justificativa de não concordarem com esta ou aquela concepção ou diretriz política e econômica.
Os EUA não podem desrespeitar a soberania de países independentes sob quaisquer alegações, não podem tratá-los como se fossem o quintal de sua própria casa.
Os EUA não podem mais defender e sustentar a idéia de que é possível resolver divergências ou impasses na política mundial por meio de intervenções militares. Não podem promover e sustentar guerras, especialmente sob a falsa alegação de que são em nome da liberdade, da democracia ou da paz.
Todos sabemos que os EUA e o povo americano podem muito, mas estamos especialmente interessados que eles compreendam que, ainda sim, não podem muitas coisas.
A vitória de Obama representava para o mundo a derrocada do conservadorismo de direita de Bush e o fim de uma política externa carregada e intolerância política e religiosa,arrogância e violência. Obama é, sem dúvida alguma, bem mais simpático e carismárico que Bush e tem um discurso bem mais ameno, entretanto, na prática,infelizmente, ele não tem feito muito diferente de seu antecessor. Continua preso à sua máxima de campanha que diz que sim, os americanos podem, esquecendo-se de considerar que os outros povos também podem: os libios podem, os palestinos podem, os mexicanos, os brasileiros, os cubanos,os iranianos, os russos e os coreanos também podem. Esperávamos que com Obama, os EUA deixassem de lado a idéia de que o mundo gira em torno deles, mas, parece que ainda não foi desta vez.