“O SUS que não se vê”
por Rita de Cássia de Araújo Almeida
Este mês a Revista Radis da Fiocruz publicou excelente matéria intitulada: “O SUS que não se vê” que trata de mostrar o real tamanho e abrangência do Sistema Único de Saúde. O ensaio se baseia em dados colhidos por pesquisa do IPEA, publicados
O primeiro, e possivelmente o maior equívoco deles, é acreditar ser possível que algum brasileiro não seja usuário do SUS. O sistema faz parte do dia a dia de todos nós, mesmo que, às vezes, de maneira invisível. Utilizamos o SUS ao almoçarmos em um restaurante e ao adquirimos produtos alimentícios e medicamentos, por exemplo, pois todas as ações de vigilância sanitária são atribuições do SUS. As campanhas de vacinação para controle e erradicação de doenças, propagandas e campanhas educativas para prevenção de doenças e agravos à saúde, pesquisa e produção de medicamentos e terapêuticas, além de acesso a tratamentos de alta complexidade, especialmente aqueles que não interessam ao sistema privado, são algumas das ações do SUS que a maioria desconhece. Sendo assim, ao contrário do que se imagina, o SUS não se limita aos atendimentos oferecidos nos postos de saúde ou hospitais públicos, sua abrangência é de tal proporção que é impossível que algum brasileiro possa dizer que nunca tenha utilizado o sistema.
Quando discute o nível de satisfação dos brasileiros com o SUS a pesquisa é ainda mais reveladora: o índice de satisfação do brasileiro é maior entre os que se dizem usuários do sistema, enquanto que o percentual dos que o consideram ruim ou muito ruim é maior entre os que afirmam não fazerem uso dele. Partindo desta constatação a matéria abre uma discussão importante sobre a influência da mídia na opinião da população a respeito do SUS. A revista denuncia uma “má vontade” da grande imprensa para com o SUS, na medida em que se interessa preferencialmente por relatos e imagens de pessoas afetadas pelas falhas do sistema, ao mesmo tempo em que não atribui ao mesmo as ações que dão certo e os indicadores positivos resultantes de tais ações.
O SUS é um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo, invejado por outros países como os EUA, por exemplo. Tem um programa de imunização de doenças que é um sucesso, sendo o responsável pela erradicação de várias delas. O impacto do SUS na redução da mortalidade infantil é indiscutível. O Brasil tem um sistema de tratamento e prevenção de HIV/aids exemplar e é o sistema público que mais faz transplantes e hemodiálises no mundo todo, incluindo a manutenção de uma rede de doadores com excelência
A matéria defende que essa propaganda negativa do SUS se deve, em parte, por uma orientação ideológica neoliberal, cujo interesse é sustentar o discurso de que o público não funciona. Seduzida por tal discurso a classe média vem cada vez mais procurando pelos planos de saúde, acreditando que desta maneira não precisará utilizar o SUS e reforçando uma idéia que precisa perder força: a de que “o SUS é para os pobres”.
Sabe-se, no entanto, que a cobertura dos planos de saúde se dedica basicamente a consultas e exames ou tratamentos de baixo custo, ou seja, aqueles procedimentos que trazem mais lucros para as seguradoras. Os demais, por necessitarem de maior abrangência ou complexidade, e que obviamente os planos não cobrem por serem muito caros, ficam a cargo do SUS. Para se ter uma idéia, segundo o Ministério da Saúde, há uma estimativa de que cerca de 20% dos usuários de planos de saúde se utilizam dos serviços hospitalares do SUS, o que equivale a um custo que pode chegar a 1 bilhão por ano, custo que não é ressarcido ao SUS pelas seguradoras.
A idealização do SUS tem raízes numa concepção de saúde integral, solidária, humanitária, democrática e que não seja objeto das leis do mercado. Esse diferencial já seria suficiente para defendermos o SUS como patrimônio nacional, estabelecendo com ele uma noção maior de pertencimento e agregando-lhe o valor que realmente merece. Entender que “o SUS é nosso” se faz fundamental para militarmos em sua defesa, a fim de lhe garantir financiamento adequado e melhoria na qualidade de seus serviços e ações. Por isso, se lhe perguntarem se você é usuário do SUS não se envergonhe em dizer que sim. O Brasil agradece.
Por Rejane Guedes
Olá Rita.
Muitos desconhecem as ações do SUS que estão no âmbito da ANVISA, do controle de zoonoses, da vigilância de portos e aeroportos e muito mais.
Nesses tempos em que nos deparamos com tantos embates é preciso resgatar e visibilizar as experiências exitosas de nosso Sistema Único de Saúde.
Aqui na RHS temos encontrado muitas dessas experiências pelo Brasil afora.
Adotei a estratégia de mostrar os posts aos colegas do Hospital. O efeito é interessante, pois muitos desconheciam a dimensão do SUS, mesmo trabalhando nele.
Saudações ‘Susistas‘.