Não destruam meus sonhos
“Eu tenho uma espécie de dever, dever de sonhar, de sonhar sempre, pois sendo mais do que um espetáculo de mim mesmo, eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso. E assim construo o ouro e sedas, em salas supostas, invento palco, cenário para meu sonho entre luzes brandas e músicas invisíveis.”
Fernando Pessoa
Não permitirei jamais que destruam meus sonhos. Precisamos dos sonhos para sobreviver, para fortalecer-nos e seguir em busca de algo que nos faça feliz. É o que nos move: o sonho e a felicidade. A busca incessante do ser humano, essa tal de felicidade, que parece tão inatingível, mas pode estar pertinho da gente: no nascer do sol; no sorriso de uma criança; na saudação de alguém que não conhecemos, mas que parece ser gentil; no abraço caloroso de um amigo que há muito não víamos; ao ler um bom livro ou ao assistir um filme prazeroso. São tantos os momentos…
Por isso, repito, não deixarei jamais que destruam meus sonhos. Meu sonho de ver uma sociedade mais justa, de ter uma saúde pública de qualidade, de ver a promoção e a prevenção sobrepor a medicina curativista e hospitalocêntrica, de vislumbrar o indivíduo em todas as suas dimensões, um sonho de ver gestores comprometidos com a atenção básica e com um sistema de saúde capaz de atender o cidadão integralmente.
Um sonho de pessoas mais felizes com os profissionais de saúde, e que estes estejam sempre dispostos a acolher, de modo que o outro seja o seu principal objetivo.
Não destruam meus sonhos: de dançar Pastoril, de acolher o idoso, de emocionar-se sempre que nasce uma criança na qual passamos nove meses acompanhando a mãe, ou de chorar quando a morte nos leva pessoas que cuidamos no dia a dia do fazer PSF. São tantos os momentos vivenciados: crianças que nasceram e hoje são adolescentes, mulheres que se unem e buscam melhores condições de vida, idosos que semanalmente insistem em encontrar-se e viver cada momento como se fosse o único.
Não destruam meus sonhos: de acreditar que o Fórum de Qualidade de Vida de Felipe Camarão esteja latente em cada um de nós e possamos revivê-lo em qualquer momento. E, possamos, sim, mesmo enfraquecidos, ressurgir das cinzas e lutar por uma saúde desejada desde Alma Alta – Saúde para todos no ano 2000 – e que muitos, sanitaristas e sociedade civil, homens e mulheres sonharam com uma saúde universal, sem reservas, plena.
Não permitirei que não me deixem acreditar no ser humano, na ética soberana, no caráter, na solidariedade, na generosidade, no respeito com o outro, na compaixão e no desejo de apaixonar-me sempre por aquilo que acredito e que teimo em sonhar.
Natal, 06 de outubro de 2011,
Meine Siomara Alcântara.
Por jacqueline abrantes gadelha
Meine!
A fila de votação da RHS é sempre surpreendente, mas hoje confesso que a surpresa foi bem maior. Que beleza encontrar aqui você e Fernando Pessoa nos falando sobre o "dever de sonhar". Lindo! Chegue junto, vem pra perto, precisamos nos apoiar. Tem muita gente teimosa por aqui!
Um grande abraço,
Jacqueline