Valorização do Trabalho e do Trabalhador: “larguemos as foices”!

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Apenas apontamentos para refletir…

“Do trabalho vivemos e pelo trabalho morremos. Há condições de trabalho que nos matam mais rapidamente, seja quando as condições naturais ou sociais são muito ásperas, seja quando “os senhores” concentram tal grau de poder que exploram ao limite o trabalho de escravos ou de trabalhadores.” (Campos, 2007)

Os horizontes não deixarão de existir porque não sabemos voar!

 

 

 

Entre os princípios norteadores da PNH estão a “construção de autonomia, capacidade de realização e protagonismo dos sujeitos e coletivos implicados na rede SUS”; e, “a responsabilidade conjunta desses sujeitos nas práticas de atenção e gestão” (Brasil, 2009).
Caracterizando-se como uma “política que atravessa todas as instâncias do SUS” (MS, 2008), baseando-se nos princípios acima, a qual corrobora com a idéia de que: “Trabalhar é gerir. Gerir junto com os outros” (Brasil, 2009).

“O trabalho ocupa um lugar privilegiado na vida dos seres humanos. Não é neutro em relação ao que provoca no sujeito: nos serviços de saúde, o trabalho é potencialmente produtor de sentido, quando é inventivo e participativo; e pode ser também produtor de sofrimento e desgaste, quando é burocratizado, fragmentado e centralizado” (Brasil, 2009).

A produção de sentido no/do trabalho construído coletivamente, em co-gestão, possibilita a participação de todos, desde que não somente “circule a palavra, mas o próprio sentido” (Passos, 2008). “A gestão coletiva das situações de trabalho é critério fundamental para a promoção da saúde” (Brasil, 2009) e ainda Campos (2007) diz que “a gestão participativa é uma medida preventiva fundamental para a saúde do trabalhador”.

Os Grupos de Trabalho de Humanização (GTHs) são coletivos organizados que podem, através do princípio da transversalidade, atravessar saberes e poderes, produzindo encontro de subjetividades, protagonismo e autonomia dos sujeitos. “(…) a partir da compreensão do mundo do trabalho e como este pode tornar-se tanto um espaço de criação e de promoção de saúde (autonomia, protagonismo), quanto um espaço de embotamento, riscos e sofrimento” (Brasil, 2009, p.12).

Os afetos estão sempre presente no mundo do trabalho, porque o trabalho não existe sem as pessoas que o realizam, sendo o “trabalho uma ação humana” (Codo, 2007). Como seres humanos, todos somos complexos, dotados de subjetividade, e reconhecer isso, respeitar e incluir o modo de cada um trabalhar é fundamental para a realização profissional/pessoal do trabalhador. O empoderamento do trabalhador para que ele experencie o que é co-gestão, subjetividade, autonomia, protagonismo é fundamental para a mudança de paradigmas do trabalho em saúde, alterando processos de trabalho.

“Isolar subjetividade do trabalho é inútil, impossível e improdutivo”, é uma afirmação feita por Elton Mayo, sociólogo, citado por Wanderley Codo, doutor em Psicologia Social, em matéria publicada pela revista Psique Ciência & Vida (nº 13, p.66-67, 2007), além de dizer que mesmo no século XX quando a “fábrica expulsou o afeto e exigiu que as emoções ficassem em casa”, o “afeto frequentava o trabalho de soslaio, clandestinamente, por meio do comentário maledicente nos bares depois do expediente, das conversas furtivas no banheiro, dos olhares desafiadores que provocavam ele e ela apesar da vigilância do capataz”. Codo conta que evoluímos de uma sociedade industrial para uma de serviços “em que é impossível taylorizar o trabalho e mais impossível ainda é eliminar o vínculo entre as pessoas, o lugar privilegiado do afeto”. E mais: “Ele faz parte da produtividade”.

Então, como transversalizar hierarquias, rodiziar, co-gerir, incluir, subjetivar? Tecnologias de conversa, “redes de conversações” em Teixeira (2005) apostam em caminhos possíveis para a construção de “inteligências coletivas”, “afetivas”, capazes de alterar processos de trabalho e mesmo potencializando a experimentação de “outros modos de existência”. “Precisamos trabalhar pelo salário, mas também para dar sentido e significado a nossa vida e à sociedade em que vivemos” (Campos, 2007).
Os desafios são muitos. “Como humanizar a atenção ao usuário sem criar organizações humanizadas, sem co-construir trabalhadores capazes de cuidar de si mesmos e dos outros?” (Campos, 2007)

 

Apoiadora Institucional da PNH

GTH / SMSAS – São Sepé

 

Brasil. Ministério da Saúde. Trabalho e redes de saúde. Brasília : Ministério da Saúde, 2009.

Brasil. Ministério da Saúde. HumanizaSUS: Documento base para gestores e trabalhadores do SUS. Brasília: Ministério da Saúde, 2008.

Campos GWS. IN: Santos-Filho SB, Barros MEB (orgs). Trabalhador da Saúde: muito prazer! Protagonismo dos trabalhadores na gestão do trabalho em saúde. Ijuí: Ed. Unijuí, 2007.p 11-15.

Teixeira RR. Humanização e Atenção Primária à Saúde. Ciência & Saúde Coletiva. 10(3):585-597.2005.