Portadores de distúrbios mentais em municípios de pequeno porte
Em algumas cidades de pequeno porte, nos deparamos com um sério problema de saúde pública, que é uma alta incidência de distúrbios neuropsiquiátricos. Tenho acompanhado isto de muito perto, pois atuo numa área com uma média de 2000 pessoas, das quais 10% são portadores de tais distúrbios. O município possue uma população em torno de 11mil habitantes, e não foge à regra onde 12% da população padece de distúrbios mentais. Há muitos casos depressão, distúrbios bipolares, epilepsia, todos ligados à herança familiar e ainda a consaguinidade. Outro fato é a ociosidade, o alcoolismo e assim sucessivamente…Venho há uns três anos realizando um levantamento das pessoas que necessitam de medicamentos controlados, e que buscam a unidade de saúde para a manutenção da prescrição dos mesmos. Comecei a observar que uns ficavam esperando até o fim do atendimento para renovarem as suas receitas e isso me sensibilizou, comecei a ter um outro olhar sobre estes. Não era justo, se posso e devo priorizar esta demanda, porque não colocar isto em prática? Os pacientes da área percebendo que estava sendo garantido o seu atendimento, começaram a buscar em intervalos regulares a UBS para o seu atendimento. No município não dispomos de psiquiatra em sua rede primária, há um convênio com a especialidade, para onde são encaminhados estes pacientes que necessitam de reavaliação; aqueles mais graves, chegam a ser hospitalizados no município viizinho. Aí vem a questão: não temos população suficiente para implantaçãpo de um CAPS mas temos pacientes suficientes para este serviço. Existe a necessidade de medicamentos que não é suficiente para atender a este grupo de pacientes,é alto o consumo de benzodiazepínicos e outros correlatos, antidepressivos , neurolépticos, anticonvulsivantes. É preciso fortalecer a atenção básica, precisamos de equipe multidisciplinar para trabalhar com estes pacientes, . A Política de Saúde Mental deve ser revista, inclusive os parâmetros para implantar a rede de atenção psicossocial. A partir desse trabalho e da insistência em conseguir acolher estes pacientes de forma humanizada, finalizamos o levantamento de toda a população e, a equipe técnica do município está elaborando o nosso projeto e unindo forças para conseguir implantar este serviço, visando a melhoria da qualidade de vida. Vamos conseguir!É o SUS com os seus desafios!
(Jailda Silver – médica)
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Por Shirley Monteiro
Jailda, concordo com a sua preocupação quando diz que :
"É preciso fortalecer a atenção básica, precisamos de equipe multidisciplinar para trabalhar com estes pacientes, . A Política de Saúde Mental deve ser revista, inclusive os parâmetros para implantar a rede de atenção psicossocial."
E acrescento: Será que muitos destes usuários que buscam atendimento focado na medicalização, e a mantém como única forma de intervenção ainda que sem o acompanhamento adequado do psiquiatra, que seria a supervisão semanal ou quinzenal, não poderia estar sendo cuidada com outras tecnologias de cuidado mais relacionais e socializantes ?? Falo inclusive de uma tecnologia que primasse pela escuta qualificada, práticas psicocorporais, Grupos operativos, pois sabe-se que o chamado "sofrimento difuso" ou ainda o "código do nervoso" tende a ser interpretado por transtornos mentais, quando na verdade são oriundos de causas psicossociais mais abrangentes. Importante seria fazer uma reavaliação deste uso contínuo de medicação. O que achas ??