Parto Humanizado?
Gostaria de me solidarizar com o desabafo do médico obstetra Edson Borges, de Belo Horizonte, Minas Gerais, em e-mail enviado, onde coloca de maneira nua e crua a realidade de muitas salas de parto neste país e principalmente a postura de alguns conselhos regionais de medicina, que em nome da ética, têm atacado as chamadas Casas de Parto.
“Nessa disputa envolvendo assistência ao trabalho de parto e nascimento, não existe nenhuma pureza dentro dos conselhos. Os augustos, quase divinos conselheiros – encastelados em sua ética parcial – não estão assim tão interessados nos sujeitos principais do parto: a mulher, o bebê, a família. Estão ali para proteger o poder e os privilégios da categoria que representam – importantíssima, sim, mas nem por isso proprietária da fisiologia humana. Fazem uma balbúrdia quando se trata de compartilhar a assistência com outra categoria – obstetrizes e enfermeiros obstetras – e outros modelos de assistência – ainda que comprovadamente eficazes e seguros em vários outros países do mundo. Mas se calam, ou se acomodam em inúmeras outras situações, flagrantemente ilegais, absurdamente antiéticas, ou explicitamente desumanas… Nossas maternidades estão abarrotadas de profissionais desse tipo, que vão trabalhar sem gostar do que fazem, e que descontam suas raivas nas mulheres que vão lá parir. O que os CRM’s fizeram daquele estudo que mostra que cerca de 25% das mulheres são violentadas dentro das maternidades, na hora do parto? O que tem feito nossos CRM’s, tão "preocupados" com a ética, contra médicos obstetras, anestesistas, pediatras (não todos, claro, mas muitos, muitos!!), que sistematicamente agridem mulheres nas mesas de cirurgia – principalmente quando são negras, obesas e pobres? Tem levantado a voz, pelo menos? Alguém foi punido, por isso? Ou isso é tão inerente à prática, que não vale a pena discutir? Claro que os CRM’s não fazem nada… A fazer algo, teriam que reconhecer que MÉDICO(a) OBSTETRA NÃO SABE ASSISTIR UM PARTO NORMAL EUTÓCICO. Mas isso é demais… Porque na sequencia teriam que reconhecer que outros profissionais – não médicos, e uns poucos médicos – sabem o que eles não sabem; e que tem muito a aprender com esses outros. E que talvez as CASAS DE PARTO possam ser locais mais adequados para o nascimento, e que a obstetriz e o enfermeiro obstetra, são tão capazes quanto eles na assistência ao parto. E isso eles não parecem dispostos a fazer. Isso é um desabafo, absolutamente pessoal…”
Edson Borges de Souza, Médico Obstetra – Belo Horizonte
Muitas são as mulheres violentadas nesse Brasil afora sem que muitos engravatados levantem-se e indignem-se com a situação.
Gostaria de felicitá-lo por tão sábias colocações que nos tiram da inércia e do comodismo de achar que "do jeito que tá, tá bom".
Dizer que ele é alguém de muita coragem e, por que não dizer, de audácia também, ao desafiar os colegas de profissão, cujas práticas são tão corriqueiras no ele descreve com tanta veracidade.
Como eu gostaria que o espírito que o move também possa tocar outros na prática do bem, tornando possível o livre exercício da liberdade de muitas mulheres, mães e bebês, de homens interessados verdadeiramente em suas companheiras e de famílias que só querem ter o direito de estar próximo a quem lhes são caros, em um momento tão sublime da vida, o parto e nascimento.
Que neste ano que se aproxima possamos nos confraternizar, mas acima de tudo, possamos fazer o bem, sem olhar a quem. E diga-se de passagem, fazer o bem, nem sempre significa ser "bonzinho". Sejamos mais justos e comprometidos com a vida e não com interesses meramente profissionais e cooperativistas.
Um excelente 2012 para todas e todos!
Por catia martins
Sheylla, maravilha vc ter trazido o desabafo corajoso de Edson pra rede!!!
Ao ler a raiva e a indignação de Edson e de tantos profissionais que estão cansados das barbaries feitas diariamente em nome do saber, em nome de uma suposta saúde fico me perguntando…. Já sabemos que o modelo atual não respeita a mulher, o bebe e sua família. O modelo atual tampouco possue respaldo científico. Além disso, ainda alimenta as altas taxas de mortalidade materna e infantil. Como profissional de saúde também me pergunto quando vamos renunciar a clinica como instrumento de controle e tomá-la em sua potência de produzir vida…
Este post precisa estar na 1° página!!!
Catia