Colóquio na PUC – SP discute a experiência de Paris com a questão da medicalização da infância
Colóquio: MOVIMENTOS DE RESISTENCIA À EXCLUSÃO SOCIAL.
01/03/2012, quinta-feira
Movimentos de resistência na atualidade em favor da promoção da saúde mental de crianças e suas famílias. Construção de espaços de acolhimento e escuta.
Organização e apoio dos professores dos Núcleos de quinto ano de Crise e de Educação, do Projeto Espaço Palavra e do Programa de Pós Graduação em Psicologia Social.
10hs. Apresentação do “Fórum de discussões sobre a medicalização da educação e da sociedade” e do Fórum parceiro na França “PASDE0DECONDUITE”.
Mesa redonda:
Marilene Proença (Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade)
Christine Davoudian (PASDE0DECONDUITE)
Silvana Rabello (articuladora)
14hs. Filme:
“UMA TERRA DO FUTURO” 28mns., de Christine Davoudian.
Apresentação de seu trabalho:
Uma prevenção “suficientemente boa” em torno de situações de extrema precariedade em perinatalidade. O trabalho em PMI.
Christine Davoudian irá apresentar seu trabalho com as gestantes (ilegais no país – sans papier) na PMI de St. Dennis (Centre de Protection Maternelle et Infantile da região de St. Dennis – França).
Articuladora: Isabel Khan Marin
PUC-SP
Rua Monte Alegre, 984, Perdizes.
Auditório 239
Segundo andar do Prédio Novo.
Entrada Gratuita.
8 Comentários
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Por Luciane Régio
Sabe que se eu estivesse ai, na quinta, a gente iria junto! E, não é que o post chegou à primeira pagina 🙂
Trago a foto do outro viu, aqui está!!
Bjs, Lu
Por Shirley Monteiro
Bjos Iza,
Por esta resistencia em crescimento e expansão, contra a medicalização da Vida e das nossas Crianças !
Shirley .
E seria muito bom! Vou encontrar muita gente da saúde mental que não vejo há tempos.
Nos vemos em abril, né? Virtualmente todos os dias…
um grande beijo,
Iza
Enviado por Marco Pires em sab, 18/02/2012 – 13:51.
Querida Iza, nossos diálogos me estimulam e animam a continuar praticando o pensamento e pensando a prática.
Desejar a próporia opresão é como evadir-se de responder ao tempo da existência com paciência e tolerância. Mais efetivamente a pressa é uma fuga do tempo e portanto, da existência. Inadvertidamente se foge do sofrimento, sem se dar conta de que, assim, se evita o sofredor. Confundimos facilmente o ser com o sintoma.
Isto inclui as crianças, dos outros e as nossas. Um racionalismo perverso reivindica um construcionismo absoluto. E a superação de qualquer contingência, seja o desemprego, a separação de um casal, tudo pode ser vivenciado sem dor. Se a dor vem, damos, buscamos ou exigimos um remédio, afinal não sentir profundamente é um direito de todos.
Nestes sofrimentos modernos em que não está em questão a sobrevivência imediata, mas sim modos e formas adequadas, confortáveis de evitar o incomodo causado pela relação com o outro fora do esquema divino ou da contingência, tudo é urgente.
Para quem já passou fome em uma família numerosa ver pais e mães desesperadas com o comportamento de um ou dois adolescentes em um cotidiano de classe média parece frescura. Mas a infelicidade se infiltra pelos cantos da vida hiper-confortável e para cada solução há um novo incômodo inerente.
As férias escolares, decorrentes da existência de escolas e rotinas de atenção às crianças para além da vida familiar, aparecem como meses de torturas em que os pais alegam não saber o que fazer com os filhos. Um absurdo, pois estar com os filhos implica em desconfortos, movimentos e repetições contínuas. Educar também é isso.
Criamos, conquistamos um Estado de bem estar social onde temos acessos a inúmeras formas de sociabilidade. Porém, e curiosamente, nos angústiamos com o mundo da mesma forma que os caçadores coletores lamentavam a contingência. Uma lamúria constante na mídia que transforma o cotidiano em um horror. Exatamente como ou similar ao terrível fato de viverem em abrigos precários e estarem expostos ao perigo dos predadores e da fome, coisa comum em tempos antigos.
Além dissso, é comum vermos as pessoas se queixando do comportamento da maioria dos seus semelhantes. Avaliando os confortos indignos, mas sedutores, de ser como todos, basicamente equivocados e incompetentes. Ao passo em que lamentam os custos de serem corretos. Uma série de premissas como essas, em que é comum julgar-se bom em um mundo de errados e bem sucedidos, impacta diretamente as nosssas crianças.
Tudo que há deve ser corrigido, pois separa-se de mim pelo erro. Sentamos em frente a TV e espiamos o mundo. Ao lado das crianças falamos que tudo está errado e que se fosse como desejamos, como fazemos, ao custo de nossa felicidade, o mundo seria melhor.
Imagino o tipo de confusão em que atiramos nossos filhos ao julgarmos tudo e todos desta forma. Pois se as crianças aceitarem que tudo está errado, que seus pais tentam ou desistiram de agir corretamente porque isto é improdutivo em termos de custo benefício, como elas reagirão ao e no mundo real.
desta forma parece que nosso tempo é marcado pela busca de remédios, remendos e concertos. Para tudo, parece haver uma solução negligenciada e óbvia. Daí, dá-lhe pílulas e comprimidos. Substâncias mágicas em que o óbvio está concentrado e a solução (soro) cura rapidamente.
Que tal uma outra premissa? A de que somos como todos os demais humanos. E não muito diferentes dos demais animais. Como seria diminuirmos as diferenças para o nível das contingências em que cada um é atirado pela vida?
Que de resto, somos humanos, ligados pela solidariedade e pela tolerãncia e não separados pelas receitas, bulas e figurinos, certos ou errados.
Em algumas tradições a separação é o sinônimo do erro e o bem um outro nome para a unidade. Que a diversidade é efeito dos modos e não das "essências". A riqueza da diversidade pode ser permitir a alteridade sem nos privar da unidade.
Um beijo!
responder
Marco,
Enviado por Maria Luiza Car… em dom, 19/02/2012 – 20:55.
Não entendi bem o que vc quis dizer com "não sentir profundamente é um direito de todos". Penso exatamente o contrário e o que vemos com algumas formas de terapias e medicamentos na saúde mental é justamente o silenciamento do sofrimento. Para a psicanálise, alvo do ódio destes pais franceses e, arriscaria dizer, de muitos outros por aí, o sofrer é algo produtivo de pensamento para se construir as saídas possíveis. Saídas efetivas e não paliativos que, ao serem retirados, produzem recidivas ainda piores.
Não sou masoquista nem partidária do sofrimento pelo sofrimento. Percebo que nos esforçamos por esquivar nossas crianças de todo e qualquer sofrimento. Doce ilusão… Os poetas nos ensinam desde sempre:
"Pense: a infância não é difícil em todos os seus contextos inexplicados? Não são difíceis os anos de menina – tal como cabelos longos e pesados, eles não puxam a cabeça para o abismo de grande tristeza? E isso não deve mudar; se, para muitos, a vida de repente se torna mais fácil, mais despreocupada e mais alegre, isso é porque eles pararam de levá-la a sério, de carregá-la realmente e de senti-la e preenchê-la com seu ser mais autêntico. Isso não é progresso no sentido da vida. Isso é uma renúncia a todas as suas vastidões e possibilidades. O que se exige de nós é que amemos as coisas difíceis e aprendamos a lidar com elas. Na dificuldade estão as forças amigas, as mãos que trabalham sobre nós. No meio da dificuldade, deveremos ter as nossas alegrias, nossa felicidade, nossos sonhos: aí, diante da profundeza deste pano de fundo, eles se erguem, e só então vemos como são belos. E só na escuridão da dificuldade nosso precioso sorriso ganha sentido; só então ele brilha com sua luz profunda, sonhadora, e, na luminosidade que ele por um momento espalha, vemos as maravilhas e os tesouros que nos cercam."
( Cartas do Poeta sobre a Vida – Rainer Maria Rilke )
Preciso dizer mais alguma coisa?
Iza
responder
O que eu quis dizer…
Enviado por Marco Pires em dom, 19/02/2012 – 21:13.
Já me escapa e não me pertence mais. Será o que cada leitor tomar para si. Já se me perguntarem, aí é que é outra coisa mesmo. Pois tenho a chance de renegar, reafirmar, reformular, etc…
Lendo o restante de teu comentário tive a sensação de que tentei dizer isto mesmo que Rilke te ajudou a dizer. Mas fui suscinto demais, ou quem sabe menos poético. Enfim, o que eu penso que as pessoas manifestam como sendo um direito não implica que seja o que eu mesmo penso, ou que eu concorde com isso. Foi um juizo unilateral de fato e não de valor.
Claro que voce não precisa dizer mais, mas quando diz é muito bom. Além do que, há coisas, que bem ou mal, só nós mesmos poderemos dizer.
Um beijo!
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sincronicidade
Enviado por Maria Luiza Car… em dom, 19/02/2012 – 21:23.
Então estamos afirmando a vida juntos, Marco! Com todas as suas vastidões e possibilidades, como disse o poeta…
Obrigada pelo carinho de sempre! É recíproco.
Iza
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errei o nome do "Pasde0deconduite"…
Enviado por Maria Luiza Car… em sab, 18/02/2012 – 12:36.
Desculpem o meu francês primário!
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Maria Luiza Car…
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Comentário: *
Por Luciane Régio
Ontem, copiei todo os comentários do Marco e o teu para trazer também!! Criei um arquivo no word, cheguei a copiar e não enviei. Surpresa boa ver que não adianta… nos comunicamos de outras formas hehe. Bjsss 🙂
Iza,
depois do encontro nos conte, um pouco, as novidades. Infelizmente não poderei estar presente.
bjs
cris
Contarei sim, Cris! O assunto é sério e faz parte dos modos fascistas de viver…
Iza
Por Maria Luiza Carrilho Sardenberg
O filósofo Michel Foucault se perguntava sobre o que leva a humanidade a se submeter ou, o que é pior, a desejar a sua própria opressão. Toda a sua vida e obra nos abriram o entendimento desta paradoxal condição. Freud e Reich também desvendaram os mecanismos de poder que roubam as potências humanas.
Associações de pais de crianças autistas, portadoras de TDAH e outros supostos transtornos que "sobrevoam" a vida das crianças saíram em passeata em Paris. Muito louvável seria se o protesto fosse na direção da busca de compreensão do que está produzindo tantos transtornos deste momento de abertura para o mundo e de abertura de mundos que é a infância. Sou uma otimista incorrigível, dizem.
O que desejam esses pais?
A criação e promulgação de uma lei contra as práticas psicanalíticas! Parece coisa de terceiro mundo, mas, pasmem, trata-se da França! E por que desejariam esse contra-senso?
Trata-se de práticas que se ocupam destas questões sem abrir mão da inclusão no tratamento do combate dos modos de produção destes sofrimentos. Não se trata de diagnosticar e culpabilizar a criança, num movimento apaziguador de conflitos, tornando-a passiva e objeto de intervenções medicalizantes. Estas silenciam os sujeitos e suas histórias. Mas, todos somos testemunhas hoje da onda simplificadora das vivências, numa ditadura da máxima velocidade da resolução de conflitos. A "eficiência" tem pressa. E a indústria farmacêutica também, por motivos mais óbvios…
O movimento "Pasde0deconduite" ( "chega de zero em conduta", numa tradução livre), criado na França como uma espécie de resistência aos modos de tratamento mais comuns e estratégicamente apressados, se alia ao "Fórum sobre a Medicalização da Educação e da Sociedade" em nosso país.
Christine Davoudian, médica generalista em Paris, virá ao Brasil e dará uma palestra na PUC-SP sobre a história destas resistências. Pelo fórum tupiniquim, falará a nossa querida Marilene Proença ( Psico-USP). Mando o link abaixo.
Apostemos sempre nas possibilidades de afirmação da vida, denunciando os modos "brandos" de captura das potências de diferenciação pelos novos/velhos poderes. Foucault também nos lembrava que "onde há poder, há resistência".