HUMANIZAÇÃO DO PRE-NATAL??É ISSO??
Retorno a essa Rede depois de alguns meses… Estive em silêncio, porém sempre atenta! Desde que se fala em humanização do pré-natal, venho observando alguns pontos que contradizem este projeto. Muito se fala que a Atenção Básica que não funciona; tudo o que não dá certo, tudo o que sobrecarrega é culpa da Atenção Básica. Mas tem serviços que buscam a melhoria, se esforçam e não medem esforços para que o usuário tenha o seu atendimento adequado. E, quando se fala em Pré-Natal, digo de risco habitual mesmo, vejo que a Estratégia de Saúde da Família tem procurado realizar a sua parte. É claro que temos profissionais e profissionais em todos os ramos, não é só na Enfermagem, e Medicina que isto acontece… Tenho acompanhado muitos profissionais bons, comprometidos, atentos aos casos que necessitam do uso de antibióticos, como as infecções urinárias e as leucorréias, que podem resultar em prematuridade, até porque hoje, uma morte materna implica em uma série de interrogações, entremeadas com processos, cassações, etc… Mas o mais doloroso é ver que uma gestante acompanhada por você, desde o início do pré-natal, sem dúvida quanto ao seu último ciclo menstrual, chega ao termo e lá na referência que temos é informada que ainda restam quatro semanas de gestação, porque a ultrassonografia mostra isso. Aonde o exame clínico, altura de fundo uterino, cartão de pré- natal devidamente preenchido pode ser colocado em segundo plano? Porque não ouvir o que a gestante tem para contar? Porque ao chegar à maternidade, com o encaminhamento da atenção básica para o obstetra, este não é sequer informado que existe uma gestante para ser examinada? (A este, realmente não podemos culpar). Quem resolve tudo é a parteira… Não tenho nada contra estas profissionais, são na verdade parceiras, que isto fique bem claro. Outras vezes ao obstetra é levado o exame e, ele sem ver a paciente manda o recado que retorne mais adiante. Digo existem profissionais muito competentes, que olham a paciente, acolhem a paciente e transmitem o que elas precisam naquele momento, paz e tranqüilidade. Quantas grávidas estão indo e voltando sem serem examinadas pelo obstetra e quantas mulheres entraram em trabalho de parto no tempo previsto pela equipe que a encaminhou… São mulheres com perdas transvaginais de liquido amniótico, com sangramentos, aumentando o risco de infecção, e conseqüente aumento de mortalidade materno-infantil. Recentemente uma gestante confessou que teve medo de morrer na hora do parto; o feto estava em apresentação pélvica, com 39 semanas foi encaminhada ao obstetra que a informou que ainda restavam 3 semanas para o parto. Este disse a ela que se sentisse algo antes retornasse. Insatisfeita pedi que ela procurasse outro hospital com o encaminhamento, e procurasse o Serviço Social para levá-la ao obstetra. Não teve êxito também. A assistente social fez o seu papel, mas.. ela é um dos que fazem parte da chamada equipe multiprofissional. Voltou para casa, diga-se de passagem, ela reside em um município vizinho, de menor porte. Entre idas e vindas, ao completar 40 semanas e 3 dias, houve ruptura de membranas e ela retornou ao hospital , ficou a espera do obstetra durante toda a noite, pediu a parteira que avisasse ao médico e continuou esperando até o dia amanhecer. Colocaram a paciente na sala de parto e, ao posicioná-la para o parto transvaginal, uma técnica que havia atendido a mesma na semana anterior, foi avisar ao obstetra que, ao chegar, de imediato mandou levá-la para o centro cirúrgico que ali era uma cesariana. Graças a Deus o RN não teve problemas, sem sinais de prematuridade. E a mãe escapou de ser mais uma vítima, por um triz não fez parte da estatística que mostra a mortalidade materna. Infelizmente este relato tem sido uma constante em muitos serviços, apesar do título parto humanizado a realidade é outra. Eu ainda acredito que tudo pode mudar,é bastante olhar para o outro , rever os conceitos, refletir sobre o nosso papel na sociedade. O SUS tem muito a nos oferecer, eu sou uma usuária, se eu não contribuo como pode haver mudanças?Se eu não acolho como posso cobrar acolhimento? Um abraço!