Colegiado Gestor: intervindo nos processos de trabalho, fortalecendo a gestão participativa e resgatando auto-estima
No dia 29 de maio de 2012, foi implantado o Colegiado Gestor do HILP, sediado em Teresina, com o objetivo de descentralizar as decisões, atuando como um fórum de negociação e pactuação de questões trazidas pelos representantes de cada setor de trabalho, na busca de melhorias na qualidade do atendimento e funcionamento do hospital. O grupo, coordenado pelo Advogado Sérgio Henrique, que também é o ouvidor do hospital, se reúne na última quarta-feira de cada mês, colocando os trabalhadores e gestores em roda, problematizando as questões demandadas no âmbito hospitalar, em busca de soluções coletivas.
A primeira iniciativa do grupo foi a formação de uma comissão para construção do regimento interno, tendo em vista definir a organização e forma de funcionamento do grupo, para fazer frente ao papel a ser assumido na direção de uma gestão participativa e democrática. Após a construção, o documento será submetido a uma análise de todo o colegiado para os ajustes necessários.
O primeiro encontro do grupo, realizado no dia 24 de junho, superou as expectativas em termo de participação. As demandas trazidas pelos representantes de cada setor de trabalho foram tantas, que houve a necessidade do agendamento de outro encontro na semana posterior, para continuidade das discussões e negociações das questões demandadas. Sintetizamos em 3 grupos as questões discutidas e pactuadas:
1- Área do Acolhimento: As demandas espontâneas de outros municípios que chegam na recepção do hospital, geralmente deixadas pelas ambulâncias. Este é um problema recorrente e já discutido em outros encontros, e que ainda não foi encontrada uma solução adequada. O HILP não dispõe de serviço de urgência, no entanto diariamente, chegam usuários trazidos pelas ambulâncias, em busca de atendimento. E a questão é sempre a mesma: a quem compete o devido encaminhamento para a rede de urgência, ao médico plantonista ou ao recepcionista? Nenhum dos dois quer assumir a responsabilidade do encaminhamento. O médico entende que uma vez atendendo e fazendo o encaminhamento para um serviço de urgência, fica caracterizado o atendimento emergencial no hospital, alimentando a cultura de que chegando lá em qualquer situação de urgência, receberá um atendimento médico. Já as recepcionistas temem encaminhar um paciente que possa estar em estado grave e vir a falecer no trajeto para a urgência. Como propostas, foi sugerido Pela Drª Leiva (representante da equipe médica),que após a reforma do hospital, fiquem porteiros no portão de acesso do hospital para o direcionamento das ambulâncias ao atendimento de urgência, evitando assim o abandono dos pacientes na porta do hospital. Foi sugerido também, o reenvio de correspondências para os secretários de saúde lembrando que o hospital não atende urgência. Porém, isso é suficiente? Resolve o problema? Muitos questionamentos e protestos surgiram em torno da proposta inicial. E se o paciente, como disse uma das recpcionistas, chegar grave, dará tempo chegar no serviço de urgência sem o agravamento do seu estado clínico? Sérgio (Coordenador) sugeriu a construção de um protocolo para o acolhimento dessas demandas na porta de entrada. Até porque, não basta apenas informar ao usário que o hospital não dispõe de atendimento de urgência. É preciso analisar o estado clínico do paciente e se necessita de ambulância para chegar ao serviço de urgência, caso esteja sem transporte. A questão é complexa, e como a coordenadora do GTH não estava presente na reunião (se encontrava noutra frente de trabalho), o problema será rediscutido no próximo encontro. Ainda sobre o acolhimento, foi discutido o fluxo de atendimento no ambulatório e a proposta da implantação do serviço “Posso Ajudar” para a melhoria do fluxo e da comunicação na recepção. 2- Área da Ambiência: Precarização do PABX e do Serviço de Manutenção. Os dois setores não foram contemplados no projeto de reforma do hospital e estão com a ambiência comprometida, com equipamentos inadequados para um funcionamento resolutivo. Como propostas, foi sugerida a reforma dos dois ambientes com aquisição de equipamentos novos. E enquanto a reforma não sai, será feito um mutirão no serviço de manutenção para retirada do material inservível, limpeza e organização do espaço, melhorando o bem-estar do trabalhadores. Outro aspecto discutido na ambiência, diz respeito à disponibilidade de um espaço para a acolhida do corpo do paciente por ocasião do óbito. Quando da ocorrência do falecimento do paciente, o corpo é retirado imediatamente do leito, e encaminhado para o Necrotério do HGV, o que às vezes produz um descontentamento na família pela não aceitação da transferência. Foi discutida e pactuada também a mudança do piso da brinquedoteca, que é encarpetado, e totalmente inadequado para a saúde das crianças. 3- Gestão de pessoas/saúde do trabalhador: Carência de profissionais nos setores do serviço de nutrição, recepção, portaria e serviço social, o que vem sobrecarregando os trabalhadores dos respectivos setores; ausência de um programa de ginástica laboral para os trabalhadores. Propostas: Convocação de candidatos aprovados no último concurso da SESAPI para ampliação da equipe de trabalho nessas áreas de trabalho; articulação com o CEREST para discutir a questão.Outras questões tão importantes como estas foram discutidas e pactuadas, com estabelecimento de prazos de cumprimento, que serão acompanhados e monitorados pelo colegiado.
Os movimentos e resultados disparados pelo colegiado gestor vêm produzindo protagonismo e subjetividades nos espaços de trabalho, resgatando a autonomia e a autoestima dos trabalhadores, pelo empoderamento conquistado frente a gestão.
O próximo encontro do colegiado está agendado para o dia 25 deste mês. Previamente, cada representante fará uma roda de discussão no setor de trabalho que representa, para problematização e levantamento dos problemas que deverão ser levados para o colegiado, que extrapolam a capacidade de decisão dos supervisores de área.
Por Emilia Alves de Sousa
Pensar na humanização da saúde portanto, é pensar numa gestão participativa que acolha os trabalhadores e usuários, ouvindo-os, escutando-os nas suas demandas, buscando soluçoes conjuntas. É pensar numa gestão mais compartilhada, mais democrática no cotidiano das práticas de saúde, que envolvem as relações, os encontros, buscando novos modos de organização do trabalho em saúde, alterando os processos de trabalho