Manifesto Universidade Popular de Arte e Ciencia no Ocupa Nise
UNIVERSIDADE POPULAR DE ARTE E CIÊNCIA – UPAC
A UPAC – Universidade Popular de Arte e Ciência apresenta a todos os participantes do seu II Congresso seus princípios filosóficos, pedagógicos e as ideias-força que regem seu anti-programa pedagógico.
Desde já declaramos publicamente e a quem interessar possa, que nossa proposta educacional está calcada em uma visão de educação que toma a vivência como caminho e considera o saber-de- experiência-feito como ponto de partida, base da produção do conhecimento. Aqui referenciamos um dos nossos mestres, Paulo Freire, que nos ensina que o conhecimento provém da experiência. Nos ensina ainda, dialogando com nossa mestra maior, Nise da Silveira, que não se educa só pela racionalidade. Portanto apresentamos a amorosidade como princípio fundante de nosso caminho pedagógico e que gera o afeto catalisador, grande legado de Nise que, por sua vez, gera cuidado e alegria também conceitos que nos iluminam e orientam o nosso caminhar. Aprendemos com Baruch de Spinoza que somos afetados pelas paixões e que as paixões que geram alegria despertam nossa potência de viver. Portanto as paixões alegres constituem-se também referencias de nossa pratica pedagógica. Também dialogando com Nise e Spinoza referendamos a idéia de Deus como algo inerente ao humano, síntese entre transcendência e imanência, sagrado e profano, corpo e espírito. Apresentamos a vida como centralidade, biocentrismo em vez de antropocentrismo. Portanto nossa universidade referencia as praticas tradicionais como o xamanismo, o candomblé e tantas outras, como caminhos de aprendizagens significativas, de fortalecimento da identidade e dos desvelamento do que Jung chamou de inconsciente coletivo. Na UPAC propomos uma ciência intuitiva, que considera a importância do ato criador e onde criação não se separa da invenção. Onde a poesia e a cultura popular revelam a beleza do conhecer que gera luz, faz nascer novas possibilidades de transformação do cotidiano em suas complexidades. Referenciamos ainda Paulo Freire ao compreendermos o humano como inacabado em sua incompletude que valoriza o saber do outro e da outra respeitando as diferenças e reconhecendo as semelhanças propondo o exercício da alteridade produtor de polifonias e policromias.
Parte de uma visão ética que considera a fraternidade e a solidariedade como ideias-força e compreendendo a circularidade sistêmica, propõe mandalas como sínteses reflexivas e movimentos em teias que referendam a conjugação do verbo esperançar como estratégia de conquista da liberdade.
E para que esses princípios e ideias-força possam materializar-se, nós atores sujeitos, protagonistas desta construção, aprendizes da arte do bem viver, propomos caminhos nos quais é possível conjugar o ser, saber e o querer, e onde a escuta sensível, o afeto, geram movimentos em potência, atitudes propulsoras para que o mergulho nas vivências produza a abstração acerca do vivido. Nosso caminhar pelos caminhos da terra nos ajudará a construir uma organização que rompa com as hierarquias e as estruturas rígidas; nossa dança pelas chamas energizantes do fogo alimentará a nossa rebeldia e manterá vivo o nosso espírito de luta; nosso navegar pelos caminhos das águas manterá viva a nossa criança e com ela a espontaneidade, o mimo com os que se achegam, a energia brincante que se faz roda-cirandando, cantando e colorindo os espaços com alegria a se expressar nos sorrisos, nos beijos e abraços; nossos vôos pela energia do ar, espalharão poemas e canções e convivendo e partilhando, ensinando e aprendendo vamos construindo o sentido mais profundo da ajuda mútua, do respeito, do diálogo, do ser feliz, onde o processo educativo se faz manifestação, festa, celebração.
Sabemos que muitos são os que se deixam afetar pelas paixões tristes, geradoras de dor, medo, limitações que produzem marcas, cicatrizes, o medo que amordaça, produz amarras. Essas situações-limite são por vezes fardos pesados que muitos insistem em carregar e geram adoecimentos. Mas não as vemos como barreiras intransponíveis: acreditamos que é possível romper com o preconceito, a culpa, e a exclusão. Dizemos não à prisão, à drogadição.
Conjugamos o verbo esperançar e como protagonistas desse caminhar vamos construindo o inédito viável rumo à nossa utopia. Nesse não lugar, essa escola sem paredes, nós, crianças, idosos, homens e mulheres de todas as cores e de todas as raças, com família e sem família, com eficiências e deficiências, artistas, músicos, abre alas, saltimbancos, educadores e educandos, mães de santo, xamãs, bruxos, magos, monstros, cuidadores e cuidadoras, loucos por arte e por vida vamos desenhando nosso percurso com o respeito a todos os seres, promovendo a inclusão dos diferentes, dos oprimidos em busca da independência em um processo de organização pautado na liberdade que tem a emancipação como conquista.
Rumo ao inédito-viável seguimos em frente sem medo da felicidade, da alegria ou da loucura ofertamos a nossa gratidão aos nossos mestres da cultura popular, Nise da Silveira, Baruch de Spinoza, Nelson Vaz, Amir Haddad, José Pacheco, Heloisa Helena e tantos outros, por iluminarem nossos caminhos com seus ensinamentos e a todos os que ousaram conosco experenciar a loucura, a arte e a ciência nessa ocupação.
Por Emilia Alves de Sousa
Olá Verinha,
Que beleza de projeto pedagógico! A sua descrição poética dos caminhos traçados em busca de uma formação calcada na liberdade, na pluralidade, na emancipação do sujeito me contagiou. Como gostaria de voltar no tempo e experimentar essa escola sem paredes, sem muros, de loucuras, de artes, de ciências, de vidas potentes e pulsantes!
Parabéns!
Um abraço!
Emília