O Filme “Estamira” e a realidade na atenção Psicosocial
É num cenário repleto de restos como a própria Estamira diz, que surge esta mulher, vítima de sofrimento mental. A realidade devastadora e excludente revela de forma análoga como são tratados os doentes mentais. Tudo aquilo que não entendemos ou não aceitamos, excluímos, Estamira sofre de esquizofrenia não é aceita, por isso seu lugar, seu lar é um depósito de lixo.
Estamira teve uma vida boa quando jovem, depois de um casamento fracassado passou a desenvolver os sintomas psicóticos, teve dois filhos, que também não sabiam muito bem como lidar com a situação, o filho queria interná-la a filha achava a internação violenta demais, esse comportamento dos filhos também reflete a falta de informação a respeito da doença mental.
A Estamira “invisível” não era atendida no campo psicosocial, sua identidade não era respeitada. Em determinado momento do filme ela relata que os médicos não passam de copiadores tratam todos os doentes com um único remédio, não consideram outros contextos como seu meio e outros determinantes.
Segundo Saraceno (2011), o doente mental tem no modelo biomédico sua cidadania violada, pois existe neste atendimento em determinismo claro, que aponta uma causa para cada doença mental e como consequência um tratamento específico. Uma atitude simplificadora diante do enorme sofrimento que a doença mental causa no sujeito e no seu ambiente familiar.
O processo de atenção psicosocial deve começar com o reconhecimento de que cada ser é produtor de sentido e que aqueles que sofrem da doença mental não estão nesta condição apenas por serem doentes mentais, mas sim por falta de uma resposta adequada às suas enfermidades e aos seus sofrimentos psicosociais.
Estamira não tinha ( e sabia disso) sua identidade respeitada, o fato de ser psicótica à tornava um ser incompreensível ao olhar dos outros e por isso era aniquilada por um atendimento que não dava conta de suas reais necessidades.
A tolerância segundo o autor é a forma de aceitação a diversidade, isso só será possível quando saúde e cidadania forem vistas como inseparáveis.
A carismática e por vezes assustadora personagem do filme Estamira, carecia de atenção, é provável que sua história pudesse ter sido diferente se o seu atendimento tivesse ocorrido através de um serviço de qualidade com um sistema de espaços físicos e de recursos humanos capazes de interagir com a atenção básica de saúde, com setores do sistema sanitário, com outras agências sociais e com a comunidade circundante.
O filme demonstra quão dura é a caminhada daquele que sofre com a doença mental, que é excluido de todas as maneiras restando à eles estarem em depósitos de pessoas, sejam estes depósitos, as clínicas de internação ou os lixões como o caso da Estamira, ela no entanto era livre e mesmo presa a sua doença dispertava admiração de quem convivia com ela, o que demonstra que se o modelo de atendimento mudar, a qualidade de vida destes doentes pode se tornar melhor.
Por Emilia Alves de Sousa
"A tolerância é a forma de aceitação a diversidade, isso só será possível quando saúde e cidadania forem vistas como inseparáveis"
É esta a aposta que todos nós defensores do SUS fazemos, uma saúde resolutiva e produtora de subjetividades, onde os usuários sejam incluidos e protagonistas do seu tratamento. Onde todos sejam olhados, escutados e respeitados nas suas singularidades.
Também me emocionei com a história da Estamira, e me incomodei com a forma como ela foi tratada pela sociedade. Uma forma banalizada e excludente.
É sempre prazeroso ler as suas publicações Ederson!
Um grande abraço!
Emília