Em visita à rede de saúde de Alegrete/RS, deparei-me com essa e outras obras de arte feitas pelos usuários. Linda colcha-estandarte! Voz de muitos, que segue pelas ruas do Alegrete, nas paradas do Orgulho Louco, que é, senão, uma semente de esperança. Interessada e parada na cena, ouvi as vozes que saíam dos pontos de costura… muitos autores nos inspiram, mas me interessa esses anônimos da vida! Outro dia fiquei feliz com uma frase bem simples, mais ou menos assim: "que não julguemos ignorantes as pessoas só porque não sabem aquilo que sabemos, porque também ignoramos o que eles sabem"… e conhecem da vida. Quantos modos de viver há? A cada encontro com alguém, descobrimos novos. Compreender isso, pode se tornar a fonte para os "Projetos Terapêuticos Singulares".
Mais palavras-vozes saíam dali… umas gritavam, outras sussurravam tímidas e até calavam. O que estamos fazendo nos serviços de saúde nesses nossos dias? O que podemos?Arrepia ai?! Parar para ouvir, conversar, acompanhar o modo de viver de cada um, aceitar que ele faz seu caminho, misturar vidas no encontro, afetar, produzir outros caminhos de cuidado, cuidar da vida, deslocar-se do que se sabe para aquilo que não sabemos…
Estremeço…
Dois dias depois de tirar essas fotos, chega no meu celular um pedido de leito. Logo depois, uma segunda mensagem, que copio: "Luciane temos que desistir da internação do paciente de XXX, pois o mesmo se nega a internar e se internarem por força ele ameaça de se matar. A família está tentando tomar outras providências.
Agradeço tua atenção
Muito Obrigada"
Minha resposta:"Precisamos conversar urgente!" ———-
O que estamos fazendo?
Na lateralidade, acolhimento, quem acolhe quem?
O que pode potencializar a vida? Como produzir mais alegria nos serviços de saúde para que os caminhos sejam outros?
No país das diferenças sociais, o viciado leva a culpa!!!! Quem são os que movem o mercado negro das drogas? Prender o traficante já é fácil. Culpabilizar, criminalizar, manter o usuário em "alas fechadas para tratamento terapêutico"? E alguém nos diz que falta de dinheiro nos leva à loucura. Captura pelo capital, insanos pela falta de…
Os amores perdidos costurados no quente do tecido vermelho… se está ali a cigana que desceu só para preparar a alquimia. Sentiu o perfume?
Ali encontro… redes afetivas!!!! Ainda bem…
Vira Natal, nascimento, possibilidades… disseram-me que foi inspiração da Judete Ferrari, motor no nome 🙂 ambas, a rede afetiva e a colcha da vida.
Alegrete/RS, 16/08/12
CAPS II
Por Shirley Monteiro
Belo, dolorido, real e Forte !!
& potencializa ainda mais, nossos desejos de mudança.
Bjos,
Shirley .