Alien, ação!

12 votos

Companheiros do RHS, neste tempo de tantos formatos e identidades, que tal um retalho da alma?

ALIEN, AÇÃO!
29/06/92
Sou um roto contorço do que pareço
E, embora não saiba, já esqueço
O saber do saber que há em mim.
Confesso tremer de frio e fome
Diante do fausto que consome
A simplicidade, que era um fim.
Que fez comigo a sociedade?
Despojou-me do anjo e do homem,
Inventou-me a total insaciedade,
A nobreza e a honra já me somem.
Precisar já não sei o que preciso,
Se me perde o real significado,
De verdades vitais me fiz conciso
E de nadas para mim necessitado.
Retirou-me a fé, plantou razão,
Sem amor me tornou crucificado
E às máscaras de ferro deu vazão,
Do meu corpo tornou-me alienado.

Nas horas, desfez toda a história
E da cura me fez desprecisado,
Sou um ser sem tempo, sem memória
Que de si não sabe ter cuidado.
E meu Deus tão grato, tão querido,
Do meu lar o fez desabitado,
E meu pai, minha mãe, já preteridos,
Sepultaram com eles meu legado.
Sou um ser sem corpo, um corpo sem ser,
Sem futuro, presente ou passado,
Sempre em busca de mim, vivo a tecer
Ilusões que me tornam escravizado.
Basta de cordões, arre marionete,
Dos grilhões quero ser já libertado,
Minha alma quer ser o canivete
Retalhando o desejo aprisionado!
Miguel Angelo Barbosa Maia