Proseando sobre o parto e sobre as doulas

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 Segundo Dr. Michel Odente: “ Se quisermos verdadeiramente mudar a humanidade temos que mudar a forma como nascemos.”

O parto é um momento de grandes expectativas para a mulher e para a família, e quase sempre vem acompanhado de muito tensionamento e nervosismo também. Nessa hora, a mulher precisa se sentir segura, precisa de alguém que esteja ao seu lado transmitindo-lhe tranquilidade e incentivo. O nascimento por mais natural que seja, expõe a mulher a situações  peculiares que impõem um cuidado humanizado, não só para a parturiente, mas para os familiares envolvidos. Mãe e filho precisam de muito carinho, de muito “aconchego.” Quanto maior o apoio na hora do parto, maior a possibilidade de um nascimento feliz, sem sofrimentos para a mãe e para o bebê.

Até o início da década de 60, os partos na sua grande maioria, eram feitos  no domicílio,  pelo médico de confiança da família e ou por parteiras, no caso das famílias de baixa renda, oportunidade em que a mulher recebia além do cuidado médico,  uma atenção diferenciada/acolhedora dos familiares . Uma atenção especial que passava até pelas refeições. Quem não se lembra do famoso “pirão de parida”, feito preferencialmente de galinha caipira ?  Após o parto, todos os cuidados eram tomados no sentido de que a mulher “parida” se sentisse bem. Barulho, conflitos nem pensar. A mulher era poupada de tudo. Não podia “quebrar o resguardo”, falavam os mais “experientes”. Eram 30 dias de “resguardo”, sendo poupada de qualquer situação que provocasse preocupações/sofrimentos. Eram Só alegrias.

No final da década supracitada, os partos passaram, predominantemente,  a serem  realizados no espaço hospitalar,  apoiados nos ideais médicos que consideram o hospital o local mais seguro para o parto. A mudança, de certa forma passou a produzir uma alteração na dinâmica do apoio familiar, num momento tão importante da vida. Até bem pouco tempo, a mulher atendida pelo SUS, durante o parto contava apenas com a presença dos profissionais envolvidos. Era um atendimento desumano, em que muitas vezes o bebê ficava num berçário distante,  numa perversa dicotomia mãe-filho.

Com a proposta da Humanização do Parto e Nascimento iniciada na década de 90,  com o propósito de melhorar a qualidade da atenção à mãe e ao bebê e consequentemente,  reduzir as complicações do parto e a  mortalidade perinatal e materna, começa a surgir a presença das doulas nas maternidades.

Doula, aquela que serve a outra mulher. Esse é o significado da palavra de origem grega. Nas maternidades, a doula acolhe e acompanha a parturiente e seus familiares, antes, durante e depois do parto, pois ela auxilia também na interação entre mãe e bebê e na prática de amamentação.

Pesquisas científicas tem mostrado que com a presença das doulas, o parto evolui com menos dor, com mais tranquilidade e rapidez, reduzindo a necessidade de intervenções médicas  e a presença de depressão pós-parto, possibilitando assim, uma experiência mais gratificante para a mãe, com impacto satisfatório no relacionamento trinômico: mãe-bebê-pai e no aleitamento materno.

“As doulas criam espaço de escuta, proporcionam interação e acolhimento, contribuindo para o parto humanizado, para que a experiência natural do parto fora do contexto domiciliar seja um ritual mais próximo do familiar, integrado aos recursos tecnológicos e de competência humano-científico, com acolhimento e respeito.” ( Karla, 2011)

O trabalho das doulas voluntárias, no Brasil foi iniciado no Hospital Sofia Feldman, em Belo Horizonte, no ano de 1997. No hospital Santa Marcelina, em São Paulo, no ano de 2000, e nas maternidades públicas do Rio de Janeiro com o surgimento do grupo Amigas da Luz, em 2002. No Estado de Pernambuco, na cidade de Recife, a Prefeitura implantou nas três maternidades municipais o Programa Doula Comunitária Voluntária. Em 2002, na Policlínica e Maternidade Professor Barros Lima, pioneiro na região Nordeste.

No Maranhão, a Maternidade Marly Sarney e o Hospital universitário investiram no trabalho com as doulas após o Plano de Qualificação. No Piauí, a Maternidade Evangelina Rosa também tem mudado a rotina do hospital com esse importante modelo de atenção ao parto.

Com o propósito de garantir e incentivar o processo de humanização do nascimento nas maternidades, o SUS, nos últimos anos, tem demandado diversas portarias e manuais de orientação que incluem incentivo ao parto natural, presença de familiares com a parturiente durante o processo de parto e nascimento, adaptação do ambiente hospitalar para a melhor acolhida da mãe e do bebê, estimulando o alojamento conjunto, o acompanhamento do pai e da doula. que ofertam apoio físico e emocional à parturiente.