Competência na cúpula da Opas
Leia abaixo o editorial publicado nesta quarta-feira (1) no Jornal do Brasil sobre a eleição do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, para a presidência do Conselho Diretor da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). O texto cita, entre as "credenciais" que Temporão possui para assumir o cargo, a história de militância do ministro na construção do SUS e seu compromisso com ações de prevenção e de humanização.
Competência na cúpula da Opas
A eleição do ministro da Saúde, José GomesTemporão, para a presidência do Conselho Diretor da Organização Pan-Americana
de Saúde (Opas), anunciada na segunda-feira, constitui não só um motivo de orgulho para o Brasil, mas também a coroação de uma fase auspiciosa da política de saúde pública brasileira. Assim se constroem grandes nações: com programas duradouros e confiáveis, conduzidos por gestores respeitáveis.
O período de acertos na área da saúde começou ainda na gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso, com a adequada escolha de José Serra para ocupar a pasta. A continuidade desse processo foi sacramentada em definitivo no ano passado, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nomeou o médico José Gomes Temporão – discípulo do grande e saudoso sanitarista Sérgio Arouca – que levou consigo a experiência adquirida à frente de instituições como o Instituto Vital Brazil, do qual foi presidente de 1992 a 1995, e o Instituto Nacional do Câncer (Inca).
A insistência de Lula em manter Temporão à frente do Ministério da Saúde merece, também, enfáticos elogios. Afinal, aqui e ali surgem vozes dissonantes em relação à presença do ministro no posto que ocupa. Comentários que, ainda hoje, inundam corredores e ante-salas do poder vêm, certamente, dos que prefeririam não um "médico-médico", mas um médico-político à frente do ministério – alguém suscetível não às necessidades da população, mas às de certos "especialistas" de plantão, ávidos, quem sabe, por mais verbas para projetos, no mínimo, desnecessários. Definitivamente, não é esse o perfil de Temporão.
__________
A atuação de Temporão contribuiu – e muito – para a criação
do SUS
__________
À frente do Conselho Diretor da Opas estará um brasileiro que vê como algo primordial, por exemplo, investimentos em políticas de prevenção e implementação de projetos e programas que atendam às reais necessidades da saúde pública brasileira, vista pelo ministro de forma ampla, abrangendo ações preventivas como a assistência social e a questão sanitária. Aliás, a destacada atuação deTemporãono movimento sanitarista brasileiro contribuiu – e muito – para a criação do Sistema Único de Saúde (SUS).
Quando esteve no comando do Inca, Temporão deu aula de gestão, implantando o novo modelo participativo e compartilhado, o Projeto de Humanização, e o processo de acreditação hospitalar em todas as unidades assistenciais. Ainda durante sua direção, foram criados no Inca o Banco Nacional de Tumores e DNA e o BrasilCord. Foi lançada, ainda, a Campanha de Doação de Medula Óssea, que, em apenas um ano, duplicou o número de cadastramentos no Registro de Doadores de Medula Óssea (Redome).
Temporão exibe, portanto, credenciais consideráveis para presidir o Conselho Diretor da Opas, cargo que representa o segundo lugar na hierarquia da instituição – abaixo apenas da Conferência Sanitária Pan-Americana. Trata-se de alguém que não chega para fazer número – muito menos, favores – mas para dar continuidade a uma obra construída com sabedoria e perseverança, apesar das intempéries e dificuldades.
Dificuldades essas que só podem ser vencidas com a junção de qualidades e capacidades inerentes a quem, durante uma vida dedicada à saúde, acumulou experiências valiosas como professor, pesquisador, médico e gestor.
Que o Brasil continue dando passos seguros e firmes rumo à melhoria das condições de sua ainda precária saúde pública. Que Temporão, agora acumulando responsabilidades à frente do Ministério da Saúde e da Opas, aproveite a oportunidade de ampliar os horizontes da saúde em nosso continente.
Por Cláudia Matthes
Espaços importantes que fazem com que se fortaleçam políticas públicas de saúde e se expraiem experiências.