A 3º Oficina Local do Projeto AcolheSUS começou com uma Assembleia dos Usuários e familiares para retomar as atividades em 2018. Este projeto passou a fazer parte da pauta das Assembleias que acontecem mensalmente.
Houve três momentos marcantes que deram visibilidade ao trabalho conjunto dos usuários, trabalhadores e gestores Estaduais e Municipais na construção do AcolheSUS do Estado do Pará.
Primeiro movimento: A presença da Ouvidora da SESPA que se sentiu a necessidade de sair da “salinha” e ouvir os usuários dos CAPS, não apenas deixar só o folder mas conversar, foi desenvolvido um projeto de Ouvidoria Ativa, a equipe irá percorrer todos os CAPS com perspectivas de mapeamento da percepção dos usuários da Rede de Saúde, e ainda, encaminhamento da demanda para as áreas responsáveis, além de uma devolutiva presencial e um relatório aos usuários.
Fala de um usuário: “Eu sou meio desconfiado, porque não vieram antes? Será que isso aqui vai ter resultado?
A Secretária do Estado de Saúde do Pará (SESPA) possui uma ouvidoria central e 13 ouvidorias regionais, para atender 144 municípios. A responsável por este dispositivo ressaltou que este tem como uma das atribuições dar informações, e responder perguntas como: onde eu posso ser atendido por um cardiologista? Como é o fluxo para chegar nesse especialista?
O segundo momento: Foi feita a leitura na Assembleia dos Usuários de uma carta para o Conselho Estadual de Saúde se referindo a demanda enviada ao Ministério Público Federal, considerando o mesmo como um órgão fiscalizador dos recursos do SUS. A reivindicação diz respeito a garantia do acesso aos medicamentos prescritos para seu tratamento. Inclusive este desafio é prioritário no Plano de Ação, como foi colocado por um usuário:
Usuário: “A maioria dos usuários compra medicamento. O projeto de Acolhimento aqui é primeiro para cuidar dessa parte de medicação! A maioria não tem condições de comprar medicamentos, esse empurra empurra já vem de outros carnavais. Agradeço a vinda da Ouvidoria mas vocês têm que vir sempre porque eu tenho que tomar meu medicamento porque se não como dizem: a vaca vai para o Brejo”.
Usuário: “Eu sou filho de Deus, minha mãe disse: agradeça e peça! Eu agradeço a Ouvidoria da SESPA porque eles ouviram nosso grito! Estamos sofrendo sem medicação! O que eu tenho a pedir? Continue dando atenção! Nós surtamos sem medicação…o *HC vai ficar lotado! e meu segundo agradecimento são para os funcionários do CAPS que coloca mais água no feijão!”
*HC: Hospital de Clíncias Gaspar Vianna
Usuário: “E se a gente tem que pegar condução para pegar medicamento em outro lugar, temos que ter passe livre!”
Usuária:”O gerente da unidade de saúde se assusta com as receitas, ele não sabe que meu medicamento está lá… Eu fico triste porque eu acho que eles têm que voltar a estudar porque eu queria confiar neles!”
Trabalhadores do CAPS relatam que a Secretaria Municipal de Saúde de Belém(SESMA) tem feito vários movimentos para sanar esta situação, ocorrerá uma reunião nos dias 30 e 31 de janeiro, com gestores das unidades municipais, coordenações distritais de Saúde do município de Belém, referência técnica farmacêutica e farmacêuticos da Unidade Básica de Saúde para reorganizar o processo de trabalho voltado à dispensação de medicamentos no município.
Há duas Unidade Municipal de Saúde(UMS) com expertise para acolher o usuário de Saúde Mental, o Projeto AcolheSUS tem movimentado reuniões no município. Vem sendo desenvolvido pela SESMA em parceria com a SESPA, um trabalho de matriciamento na perspectiva de ampliar à Atenção em Saúde Mental na Atenção Básica para 17 UMS.
O terceiro momento contou com a apresentação do Plano de Ação na Assembleia dos Usuários e familiares que contou com a presença de aproximadamente 105 pessoas, incluindo a ENSP – LASER, CGPNH, representantes do GEL e GEE e trabalhadores do CAPS para debater o Plano de Ação do Projeto AcolheSUS, na perspectiva de circunscrever suas atividades, para posterior elaboração dos indicadores pertinentes para o processo de monitoramento e avaliação.
Por Raphael
Sob a perspectiva de um usuário ex-CAPS tenho a dizer que esse relato, demonstra alguns avanços importantes ao trazer a participação da ouvidoria, ao mesmo tempo em que evidencia carências e crises que podemos identificar quando o usuário fala que se precisa buscar remédio em outro lugar, deve ter o passe livre. Antigamente em Joinville os usuários do CAPS tinham passe livre, mas infelizmente as coisas mudaram e hoje apenas as pessoas com deficiência tem este benefício. Sem o passe livre muitos usuários acabam desistindo inclusive do tratamento no próprio CAPS, já que atualmente para cortar gastos o número de passes comprados pela prefeitura destinados a esse público e mesmo o transporte próprio do serviço está muito reduzido.
Achei bastante forte o usuário agradecer a SESPA, que nesse caso está em comparação á DEUS! Mostra que normalmente as coisas não funcionam e quando funcionam ganham essa dimensão divina e fora do comum.
Espero que o AcolheSUS possa transformar várias realidades aí e que essa empolgação e participação não se esvazie durante o processo.
Raphael