Humanização e gestão participativa: metodologia enfoca trabalhadores de saúde

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Veja notícia publicada nesta segunda, 16 de fevereiro, no Boletim da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca.

 

Humanização e gestão participativa: metodologia enfoca trabalhadores de saúde
 

Integrar reflexão coletiva e distribuição de responsabilidades para obter melhor avaliação e planejamento estratégico dentro dos hospitais públicos é o que defende a pesquisa ‘Humanização nos serviços de saúde: gestão estratégica no trabalho, produção em saúde e análise cultural’. O projeto inédito, que envolve três diferentes instituições, faz parte do Grupo de Pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca ‘Gestão e Planejamento’, cadastrado no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Este projeto tem a coordenação colegiada entre a ENSP e o Instituto de Pesquisas Clínicas Evandro Chagas (Ipec/Fiocruz).

De acordo com Elizabeth Artmann, líder do grupo de pesquisa junto com Francisco Javier Uribe Rivera, ambos pesquisadores do Departamento de Administração e Planejamento em Saúde da ENSP, o trabalho utiliza uma metodologia ainda pouco difundida no Brasil. A Démarche Stratégique ou processo estratégico, visa articular a racionalidade no atendimento às necessidades da população com ampla participação de atores privilegiando mudanças e aprendizado como fenômenos próprios e permanentes das organizações. “Os objetivos dessa pesquisa envolvem a construção de um projeto coletivo que aproxime a direção e os centros assistenciais das instituições ou os profissionais que atuam na ponta. É um enfoque que respeita a dimensão cultural, e por isso é um processo de longo prazo. Uma mudança de cultura não acontece de uma hora para outra”, apontou Elizabeth.

Esse enfoque de gestão hospitalar, originado na França, foi trazido para o país pelos pesquisadores Javier e Elizabeth em 1997. O método já foi utilizado em alguns hospitais de alta complexidade no Brasil, mas sua aplicação em um instituto de pesquisa como o IPEC é considerada uma experiência inovadora. Essa pesquisa está aplicando a Démarche Stratégique nas instituições envolvidas. São elas: o Instituto de Pesquisas Clínicas Evandro Chagas, o Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) e também o Hospital Estadual Doutor Dório Silva, localizado na cidade de Serra, no Espírito Santo.

Cada um dos subprojetos passou pelo Comitê de Ética em Pesquisa, sendo que possuem financiamento próprio. Além de pesquisadores e profissionais das instituições envolvidas, alunos de mestrado e doutorado também participam desse projeto. “Como usamos essas experiências como reflexões acadêmicas, teóricas e até de propostas de gestão, sempre procuramos envolver nossos alunos em trabalhos práticos, e, assim, a experiência refletida torna-se tema de dissertações e teses”, comentou Elizabeth.

Élida Azevedo Hennington, integrante do subprojeto do Ipec/Fiocruz, destacou que as diferentes reflexões se conjugam a favor da humanização nos serviços de saúde. E disse ainda que essa questão é estimulada pela Política Nacional de Humanização do Ministério da Saúde (PNH/MS). “Poder discutir a gestão participativa e o processo de humanização no trabalho em saúde a partir dos seus sujeitos é um avanço. Durante muito tempo, essa questão foi voltada apenas para a satisfação dos usuários”, argumentou Elida. Ela apontou que profissionais com boas condições de trabalho e satisfeitos cuidam melhor dos usuários dos serviços de saúde.

Na primeira quinzena do mês de fevereiro, pesquisadores envolvidos no projeto se reuniram com a alta direção e profissionais de diferentes setores do Hospital Dório Silva com o objetivo de discutir os resultados parciais da aplicação da Démarche Stratégique e produzir consensos sobre questões estratégicas para o Hospital. “Na verdade, o consenso de propostas é uma prerrogativa da aplicação desse método. Vamos comparar os resultados obtidos em reuniões entre os diferentes setores para estabelecer prioridades para elaboração do plano de ação”, apontou Elizabeth.

Em 2006, esse método foi aplicado na Unidade Materno Infantil do Hospital Dório Silva. Para Elisabeth, isso contribuiu para sua revalorização e posição estratégica perante a missão do hospital. “Esses resultados foram relatados num artigo publicado na última edição da Revista de Saúde Pública mostrando a potência do método como instrumento de gestão. Hoje, a atual direção defende a aplicação do método em todas as áreas do Hospital com o objetivo de apoiar sua reestruturação”, confirmou Elizabeth.

“É importante destacar também”, continuou ela, “que essas instituições envolvidas já estavam discutindo a sua missão e gestão. Uma missão não dura eternamente, ainda mais no momento em que vivemos, em que a tecnologia, as oportunidades e os interesses mudam a todo instante. Nós temos sempre que nos adaptar. Por isso, a aplicação da Démarche é um processo contínuo e que requer tempo. Não se pode impor transformações. Esse método tem um desenho específico para isso. A aplicação possibilita a previsão de mudanças e respeita a cultura institucional. Isso é extremamente relevante”, concluiu a pesquisadora da ENSP.