Começou a “Reforma Sanitária” americana!

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Vários jornais em todo país repercutiram, essa semana, declaração do Ministro Temporão sugerindo ao presidente Obama que se espelhe na experiência brasileira do SUS para pensar nos rumos da reforma do sistema de saúde americano.

O Ministro, evidentemente bem informado, sabe que o que vem sendo perseguido como solução para o falido sistema americano guarda inúmeras semelhanças com o sistema que vimos construindo há mais de vinte anos e, de forma extremamente feliz, destacou esse fato para fazer uma apaixonada defesa do SUS.

Completou seu discurso afirmando: “Se eu tivesse o orçamento que a nova ministra da Saúde dos Estados Unidos tem, a gente faria o melhor sistema de saúde do mundo disparado aqui. Lá são US$ 670 bilhões e nós estamos, modestamente, com R$ 50 bilhões”.

Estas notícias foram destacadas em post publicado nesta Rede pela Mariella, há dois dias. Confiram: “Temporão aconselha SUS aos EUA

Para quem quiser saber mais sobre a “Reforma Sanitária” (Health Reform) disparada nos EUA tão logo Obama tomou posse e descobrir as semelhanças e diferenças com a nossa Reforma Sanitária, divulgo o website lançado ontem (05/03/09) para acompanhamento deste processo pelos cidadãos americanos: https://www.healthreform.gov

É claro que será preciso o conhecimento da língua inglesa para isso. Por isso, destaco alguns pontos importantes do que descobri por lá.

Primeiramente, o objetivo deste website: “Ele permitirá aos Americanos acompanhar cotidianamente o Fórum sobre Saúde da Casa Branca, compartilhar suas idéias sobre a reforma da saúde com a Administração Obama e assinar um manifesto em apoio ao compromisso do Presidente Obama de fazer aprovar uma reforma integral da saúde neste ano.”

O primeiro documento disponibilizado neste website é o Relatório Americans Speak on Health Reform:  Report on Health Care Community Discussions (“Americanos Falam sobre a Reforma da Saúde: Relatório sobre as Discussões Comunitárias sobre a Assistência à Saúde”).

Em dezembro, o presidente eleito Obama convocou os cidadãos americanos a realizarem discussões em suas comunidades sobre suas preocupações com a saúde e identificarem soluções. Foram realizadas, nos dois primeiros meses deste ano, 3276 Discussões Comunitárias que reuniram 30.603 participantes nos 50 estados do país. Os 3276 relatórios produzidos foram analisados e resumidos por 25 membros da equipe de governo e voluntários, produzindo o Relatório acima mencionado.

Para um país em que a “participação e o controle social” não são diretrizes constitucionais do sistema de saúde, é um esforço e um resultado impressionantes, que nos dão uma medida do processo de mobilização e mudança em curso naquele país. Eu diria que, apenas neste breve início de governo Obama, o sistema de saúde norte-americano já deu um salto expressivo na sua humanização e na sua afirmação como política pública, não acham?

O vídeo abaixo mostra um pouco desse processo das Discussões Comunitárias, acompanhando o caso de um cidadão americano e de sua participação nas dicussões de sua comunidade, até a síntese do Relatório final em Washington. Para quem não entende a língua, as imagens já falam bastante e, talvez, seja possível achar alguém por perto que ajude na tradução e que também vai achar este vídeo interessante:

 

Outro conjunto de informações interessantes disponíveis no site (e que são destaques dos resultados publicados neste Relatório) dizem respeito às principais preocupações dos cidadãos americanos com o modelo de atenção à saúde vigente e o consenso que se expressou neste Relatório sobre os “valores e direções” (nós nos acostumamos a dizer, seguindo o nosso texto constitucional: “princípios e diretrizes”) que devem guiar a reforma: They called for a system that is fair, patient-centered and choice-oriented, simple and efficient, and comprehensive. Traduzindo: “uma sistema que seja justo, centrado no paciente e orientado pela (liberdade de) escolha, simples e eficiente, e integral.”

Há ainda uma série de soluções específicas apresentadas neste Relatório, que partiram das Discussões Comunitárias, muito valiosas para refletirmos sobre os rumos da nossa própria Reforma Sanitária.

É claro, contudo, que, ainda que fundadas na afirmação de valores como a universalidade, a solidariedade e a integralidade, que demonstram que não há nenhum exagero na afirmação de nosso Ministro, é bastante perceptível em várias das propostas apresentadas os traços singulares de um povo que se constituiu sobre outros valores e uma outra história, bem diferente da nossa.

O fundamental é que há um movimento admirável em curso naquele país! País que aprofundou às últimas conseqüências o modelo “privatista” da saúde, até o ponto dele combinar uma total insustentabilidade economica com os mais altos níveis de exclusão e incapacidade de responder às mais básicas necessidades de saúde da maior parte da população.

Abaixo, mais um vídeo interessante com depoimentos de cidadãos americanos falando sobre suas preocupações com a saúde e que resume, em falas cotidianas, esse diagnóstico global:

 

Muito importante essa guinada que o povo americano está sabendo dar, pelo que ela reafirma em nós a convicção de estamos no rumo certo ao apostarmos no SUS e não tergiversarmos diante das investidas, cada vez mais agressivas, das propostas privatizantes entre nós.