Modelos e técnicas de atenção e gestão – tecnoassistenciais
Fragmentos do debate sobre modelos tecnoassistenciais:
1. Regionalização
Vi uma conexão entre o acidente dos pacientes de carazinho e a crise dos hospitais da ULBRA. Ou seja, com a regionalização o mercado em Porto Alegre pode se reduzir. Ele é tão grande que se 10% da ambulancioterapia acabar já é motivo para fechar um hospital em Porto Alegre. O ordenamento por pirâmide é um fenômeno mundial. O Osmar Terra disse que há localidades distantes mais de 400 km de uma UTI no EUA.
2. Modelo de gestão
Olha, eu não acredito em organização piramidal. Acho que é uma forma de desorganização no contexto atual. Não ajuda. Só atrapalha. O circulo não pressupõe falta de hierarquia ou comando. Apenas os fluxos de ordenamento ficam mais eficientes. Pode haver auditorias e exonerações em um sistema de gestão circular, por exemplo.
Vamos condenar a pirâmide sem abolir a autoridade e o controle? Vocês acham que dá? Eu estou convencido que dá!
Toda a burocracia atual pode funcionar em sistema de circulo, sem atravancar nossas ações Não ficamos ilegais quando abolimos a autoridade piramidal. Ela é tribal completamente ultrapassada. Além disso, gestão em rede tem legitimidade legal.
Autoridade e os princípios constitucionais do SUS. Eles convivem bem com a organização descentralizada e são deturpados em organizações hierarquizadas de forma piramidal. Ela favorece todo tipo de iniqüidade.
Na forma em pirâmide o compromisso com o usuário recai sobre a base. Temos profissionais processados e com registro cassado, mas poucos prefeitos presos ou sequer condenados. Isto é a cadeia de responsabilidades ordenada em pirâmide
Ótimo, Maristela. Você subverte a pirâmide e atua de forma circular retornando sobre o efeito da atenção para corrigi-la! É preciso demonstrar com nossa prática a ineficiência das ações hierarquizada em forma de pirâmide. Isto funciona com primatas, não com humanos. Delimitar territórios e estabelecer quem coordena quem, quem tem poder sobre quem. Puro comportamento de primatas pré-humanos…
3. Responsabilidades
A delimitação de espaços de fazer/saber implica na base das desresponsabilização que sobrecarregam os profissionais da ponta. Já disse que quem compra a licitação de esparadrapo é um imunizador tanto quanto quem aplica a vacina.
Acho que a consciência é o parâmetro para estabelecer responsabilidades e não culpas. Um gestor da SMS disse que PSF não serve para nada. Isso é diferente de um cidadão comum com pouca informação dizer a mesma coisa. O cidadão precisa ser conscientizado, o gestor: Exonerado.
Encaminhamento é ir com o paciente simbolicamente. É ele levar um pouco de ti até o próximo serviço da rede. Este pouco será o passaporte que provocará o acolhimento no próximo serviço. Depois ele voltará e nos devolverá a atenção que tivermos lhe dado no encaminhamento…
4. Sobre o poder
Poder é inerente. Ele não circular é uma escolha. Ele nos travessa e segue como potência resolutiva: O poder de ajudar, de atender. Mas há o poder estático que não circula que apenas atropela e golpeia. Não sou contra o poder. Sou contra o poder usado de forma a corromper o sistema…
O poder pode ser usado como moeda de submissão
Digo de submeter, mas o poder pode ser usado para ver o óbvio que está oculto é o caso do exemplo citado pela Maristela. Mas vejo vocês todas. Em minhas contas embora "eles" estejam no topo da pirâmide, nós somos maioria.
Sim. Fazer o que nos propomos a realizar com as condições mais adequadas disponíveis em cada situação. Fazer as coordenações rodarem é uma forma. Mas é natural que quando um for bem sucedido nós queiramos que ele fique. Até para preservarmos a força que ele nos permite exercer…
5. Sobre o sofrimento no trabalho
Nossos colegas são muito bons e muito mal tratados, em alguns casos até pelos usuários. Mas os dados mostram que cuidar tem um custo bem mais alto do que qualquer outra área de trabalho.
É uma questão de direcionar o olhar. Se o que os médicos antigos do GHC estão preocupados em perder as horas extras que recebem a partir da quarta hora de trabalho em plantão temos um problema – o que lhes interessa.
6. A função do gestor
Um coordenador pode ser como um pastor que segue em certos momentos, em outros vai à frente e muitas vezes se arrisca para afastar os lobos. Por isso pode ser amado. Mas nós podemos fazer estes papéis, ora de cordeiros implicados com o imediato, com o foco dirigido para o atendimento e em outros momentos sermos como o pastor: aquele que zela pelo todo. Não implica em ser ditador significa circular entre gestão e atenção: subir a rampa e descer a rampa, como dizia Eduardo Passos.
Eu já tive meu modesto lugar de gestão. Gostei. Agora estou neste lugar de auxiliar o pastor e animar o coletivo. Está bom também.