Podemos Viver Até o Fim!

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Um dos problemas com a morte é uma certa insistência das pessoas em nos  "matarem" antes do tempo nos deixando vivas. Basta receber o rótulo de "paciente terminal" para que um lento e cruel ritual se inicie num misto de abandono e onipotência terapêutica. Os pacientes podem acabar sendo mantidos vivos o maior tempo possivel sem receberem, na maioria das vezes, qualquer contrapartida em termos de qualidade de vida.

 

Mas, e se fôssemos cuidados até o fim sob um novo paradigma, que fortalecesse a idéia de cuidado paliativo, onde somos mantidos vivos não em função de se lutar contra a morte e sim para, com algum nível satisfatório de conforto e bem estar, vivermos e termos tudo aquilo que a vida pode ainda oferecer de bom.

 

Ao rompermos o manto de hipocerisia que cerca a morte, podemos então perceber o quanto a vida é ainda mais bela e forte, mesmo no apagar de suas luzes. Basta que a gente possa ter a coragem de ver o tremeluzir da chama e perceber que ela ainda ilumina e nos ensina a viver mais e melhor. A incapacidade de se lidar com a morte ou medo de te-la ao nosso lado não pode nos afastar daqueles que a estão vivenciando. No entanto, boa parte das vezes é o que acabamos fazendo.  Produzimos um tipo de solidão especial, a solidão "acompanhada" onde fingimos farsas ("o senhor ainda vai viver muitos anos") oi racionalizamos nossas fugas ("não adianta ir no quarto agora pois o paciente vai morrer de qualquer jeito mesmo"). Estamos presentes mas fustigamos quem vai morrer com nossa ausência frente às suas principais necessidades

 

As fotos mostradas a seguir me foram enviadas por Ayala Gurgel, membro dessa rede, Professor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), filósofo com doutorado em Políticas Públicas e, como eu, um defensor ardoroso de que os cudiados paliativos sejam cada vez mais implementados em nossas instituições de saúde. Esses anos todos desenvolvi um certo ceticismo sobre tudo aquilo que vem da Internet, afinal, quem aqui não recebeu aquele email fantástico falando do rapaz que estava bebendo no bar com uma bela garota e acorda numa banheira de hotel sem um dos rins?

 

Assim, sai pela net pesquisando para ver se a história era real e, de fato aconteceu mesmo. Trata-se de fotos que mostram os últimos 5 dias de vida de Katie Kirkpatrick, uma jovem de 21 anos acometida de câncer no cérebro. Depois de muito lutar, ela começa a realizar seus rituais de fechamento da vida. Um deles, era se casar com o namorado.

 

Essa foto9 foi tirada um pouco antes do casamento de Katie  realizado em 11 de janeiro de 2005. Ela passa horas tomando medicações para controlar a dor. O namorado (Nick) aguarda pelo término de mais uma das sessões de aplicação destes medicamentos.

 

 

Aqui Katie se prepara para a cerimônia. Seu vestido teve de ser ajustado várias vezes pois a doença a debilita mais e mais e a perda de peso é constante.

 

 

Um "acompanhante" inesperado na festa de casamento foi o tubo de oxigênio. O casal emocionado que os observa são os pais de Nick que acompanham o namoro dos dois desde a adolescência do casal.

 

 

Aqui a cerimônia de casamento, igual a tantas outras a mão ser pelo fato de que já sabemos de antemão que a noiva não só realiza o seu desejo no presente mas também o último..

 

 E aqui está Katie em sua cadeira de rodas. Foge do estereótipo de alguém que sabe que vai morrer (afinal, não sabemos todos nós?). Está feliz ouvindo canções dos amigos na festa.

 

 

Mas seu estado orgânico é debilitado. Ela precisa dar uma paradinha para descansar e recarregar as poucas energias que ainda tem.

 

 

Kate morreu 5 dias depois de seu casamento. E ainda assim, ela pode cometer o "atrevimento" de tentar ser feliz até o final. E isso só foi possível porque a farsa foi superada e ela pode ser cuidada de uma maneira a permanecer conectada com a experiência do viver. Não passou seus últimos momentos "depositada" numa UTI, afastada de quem amava. Pôde cumprir algumas passagens da vida que achava importante e que ainda era capaz de vivenciar. Viver não é ter um ponto de luz piscando nos monitores. Viver é poder até o fim apreciar tudo o que a vida pode nos oferecer em termos de beleza e felicidade, mesmo às portas do final.

 

ERASMO RUIZ