Projeto Cirandas da Vida realizou a Mostra “Trilhando e Refletindo o Universo das Cirandas da Vida em Fortaleza”

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Evento marcou ainda o lançamento do CD “Sinfonia para uma Ciranda da Cidade” resultado do saberes e experiências trilhadas e refletidas 

 

 

* Por Elias J. Silva

Vera Dantas

Ray Lima 

Arte, cuidado e educação popular somados à celebração, reflexão e intercâmbio de saberes e experiências. Esta foi a proposta do “Trilhando e Refletindo o Universo das Cirandas da Vida em Fortaleza”, uma Mostra que foi promovida dia 3 de abril de 2009, a partir das 8h30min, pelo Projeto Ciranda da Vida, do Sistema Municipal Saúde Escola, da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). O evento aconteceu na Universidade Estadual do Ceará (UECE), Campus do Itaperi, em Fortaleza e marcou ainda o lançamento do CD “Sinfonia para uma Ciranda da Cidade”.
 

Como disse o poeta cirandeiro, Ray Lima,“além de ter sido uma oportunidade para se aprofundar conhecimentos sobre o processo de trabalho das Cirandas, a mostra significou uma curiosa e alegre viagem por suas trilhas e experiências vividas nos mais diversos cantos da cidade – do Pirambu ao Conjunto Palmeiras, da Serrinha ao Bom Jardim, do Pici ao Lagamar”.

Dentre as experiências que fizeram a Mostra acontecer, temáticas e grupos diversos: a juventude em conflito com a lei; cuidadores, educadores e artistas populares, crianças jovens, adultos; palhaços terapeutas e cirandeiros refletindo e mostrando a sua produção sobre questões de gênero; práticas integrativas de cuidado; sócioeconomia solidária; ambiente e moradia; que surgem como atos limite como diria o educador Paulo Freire, para o enfrentamento das situações limite presente nos territórios da cidade de Fortaleza, que resiste nas histórias de luta desse povo que ousa ser protagonista do seu destino. Dessa forma organiza-se em redes de arte, cultura e saúde, organiza Cirandas nas Escolas, expressa seu sonho em musicalidade, teatro, dança, cenopoesia; histórias em quadrinhos e se faz movimento nas rodas das Cirandas da Vida.
 

PROGRAMAÇÃO  – Pela manhã, a programação ocorreu das 9h às 12h, o Cortejo das Artes saiu do Espaço Ekobé (após a roda de abertura que envolveu vivências, com os palhaços terapeutas, cantigas e poesias com os cirandeiros Elias J. Silva e Paulo Nogueira. Ainda neste momento a contextualização do processo das Cirandas em seu percurso histórico e pedagógico na construção e fortalecimento do SUS e do SMSE de Fortaleza foi feita por Vera Dantas, idealizadora e fundadora do Projeto. Seguiu-se a isso as falas significativas de José Ivo Pedrosa, pelo Ministério da Saúde e Ana Paula Brilhante, atual coordenadora do Sistema Municipal Saúde Escola – SMSE. O passo seguinte foi o cortejo em direção ao local da Mostra que aconteceu num grande corredor próximo ao auditório central e à biblioteca da UECE. Às 10h foram iniciadas as apresentações das várias trilhas temáticas da Cirandas permeadas por apresentações culturais dos grupos e movimentos envolvidos com o Projeto. Às 11h:40min. foi constituída uma roda de conversa no local da Mostra, onde as instituições formadoras (UECE, Sistema Municipal de Saúde Escola, gestores e participantes, além do Ministério da Saúde) fizeram uma avaliação sobre os processos construídos pelo Projeto Cirandas da Vida. Durante a roda de conversa, Vera Dantas, que até então coordenou o processo, aproveitou para problematizar sobre a ausência de alguns atores das políticas municipais, com os quais o projeto vem dialogando e que na sua opinião reflete importantes desafios a serem enfrentados pelo projeto.

Trazer para o espaço da gestão os atores populares e suas formas de pensar e cuidar da saúde como protagonistas do processo representa uma mudança radical que leva tempo para ser compreendida e assimilada por um modelo de atenção á saúde ainda pautados prioritariamente pelo consumo de tecnologias duras dirigidas para a doença.

O próprio desafio de realizar a Mostra sem grande estrutura nem logística e utilizando recursos e materiais que as Cirandas foram produzindo no cotidiano das práticas demonstram a diferença do projeto popular – ressaltou Vera Dantas, que segue no projeto como consultora pedagógica. 
 

A programação da tarde se iniciou com as experiências geradas nos círculos de cultura, a partir do encontro das Cirandas com o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua, que trouxe para as rodas das Cirandas, as vivências da arte do grafite, dança de rua e o canto de improviso do rap do “Nada Consta”. Em seguida, ouvimos a Professora Maria Rocineide Ferreira, da Universidade Estadual do Ceará e que até recentemente coordenava o Sistema Municipal Saúde Escola, espaço de inserção do projeto Cirandas da Vida no contexto da Secretaria Municipal de Saúde, sobre a importância dessa ação como política de promoção e produção de saber em saúde e para o fortalecimento do SUS. A Mostra teve continuidade com o espetáculo protagonizado pelo Grupo Vidança: mais de 40 crianças e adolescentes da comunidade de Vila Velha que de modo singular retrataram os “Olhares Sobre o Mangue” e a situação do ambiente e moradia em área de risco daquela região de Fortaleza. A dança apresentou um quadro colorido, embora de forma reflexivamente crítica, da vida no Mangue; o teatro entrou em cena a seguir com o grupo “Nóis de Teatro” da Rede de Arte Cultura e Saúde, parceiro da COMOV – Comunidade em Movimento da Grande Fortaleza. Na seqüência foi apresentada uma versão preliminar do vídeo “Refletindo as Cirandas da Vida em Fortaleza” que será lançado brevemente. E para fechar o evento deu-se o show de pré-lançamento do CD “Sinfonia para uma Ciranda da Cidade.” O CD é uma produção do Projeto Cirandas da Vida e é constituído de parte das músicas que as Cirandas construíram nos seus processos de educação popular em saúde trazendo as vozes e os olhares dos atores populares e dos cirandeiros e cirandeiras. Elas falam de humanização, educação popular, saúde, violência, ambiente e outros temas discutidos no processo. Nele é possível reconhecer a voz dos artistas cirandeiros e dos artistas das comunidades, gente do povo como Dona Lucena, Anderson, Jacinto, Palhaços Cirandeiros e as vozes de Johnson Soares, produtor do CD, Ray Lima, Vera Dantas, Elias J. Silva, Josenildo, Honorato e a cantora e compositora Ângela Linhares que tem contribuído com o processo desde sua proposição pela Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular e Saúde – ANEPS. Nos acordes, a maestria de Erasmo no acordeon, e na percussão Jair Soares deram uma “pitada” da musicalidade que as Cirandas produzem.

Para Elias J. Silva – que assumiu a coordenação do projeto a partir de Abril de 2009 -, a I Mostra “Trilhando e Refletindo o Universo das Cirandas da Vida em Fortaleza” significou a diversidade e a riqueza da educação popular em saúde que, combinada com a cultura popular projeta olhares e sentidos latentes, aproximam saberes e práticas que se interfaceiam e se reconhecem pelos encontros que geram laços e abraços.

 

* Elias J. Silva é Poeta, Educador Popular e coordenador do Projeto Cirandas da Vida;

Vera Dantas é Médica, Educadora Popular e assessora pedagógica do Projeto Cirandas da Vida;

Ray Lima é poeta, Poeta, Educador Popular e assessor pedagógico do Projeto Cirandas da Vida.