Mobiliz(ação)
Olá pessoal,
muito tempo sem passar por aqui. E não foi por falta de vontade, nem de assunto. Tempo, Diálogo, participação, companhia são afetos que tive vontade de juntar aos outros que já trouxe aqui, como a criação, a clínica, formação, etc. Por quê não vieram?
Hoje, gostaria de falar sobre mobilização. Tudo a ver com afetos, pode ser sinônimo, ou não, de envolvimento, movimentação, implicação, afetação, participação, ação, entrega… A ideia que quero trazer do conceito é a da transformação de desejo, vontade, pensamentos, sentimentos, uma gama de coisa, em realizações práticas ou como forma de expressão disso tudo ao(s) outro(s). Claro que isso tudo tem a ver com o que chamei de subjetividade, ou seja, a integralidade que somos, já que não sou apenas psicólogo, profissional de saúde, residentes, mas uma história de relações e muito mais. Enfim, voltar a falar de como está sendo esse processo de formação envolve me mobilizar a escrever, a compartilhar, a expor, a arriscar…
E hoje, assim como nos outros textos, essa mobilização vem da prática. Os últimos meses tem sido de muita reflexão sobre a prática. Aliás, essa reflexão é presente desde o início, mas a diferença, que tem tudo a ver com mobilização, é que nesses últimos tempos ela vem acompanhada do diálogo, da troca, do coletivo. Reconhecer, todos os dias, as dificuldades, as possibilidades outras que exigem transformação, não garante a mobilização. Mas sim, a troca com os companheiros do cotidiano, a ousadia de pensar novas formas de fazer juntos, de tentar, de "viajar". Hoje, o posicionamento que veio, a mobilização, veio da vontade coletiva, veio da necessidade do grupo, veio das relações construídas nos últimos meses, semanas, dias, que tem motivado tentar uma nova forma de estar/intervir no mundo. Hoje, me posicionei. Hoje, critiquei. Hoje, questionei, propus, encarei. E gostei! Como é bom!
Na experiência, que sempre é imprevisível, vem a mobilização. Problematizamos o modelo de assistência que, enquadrado em protocolos, em "tem-que-fazer", que não dá conta do sujeito que encontramos no cuidado nem de nós mesmos; o modelo de educação, que distante da realidade, dificulta até mesmo a nossa própria percepção do processo em que somos responsáveis; as caixinhas e especialismos que nos prendemos como identidade/trabalho que nos impedem de crescer, de ampliar, de conhecer. E foi assim, juntos. A atenção básica, o trabalho, exige isso: grupo.
Viva!
Acho que estou trazendo tantas palavras difíceis (essas mesmas que dificultam a mobilização muitas vezes) para dizer algo simples: hoje, eu agi, me movimentei. Algo tão buscado, mas um tanto novo. E isso faz valer a pena. Todos os pensamentos, as ideias, os projetos, que também fazem valer a pena, se garantem mesmo na mobilização. Engraçado como isso, há dois dias atrás, soaria como pura esperança. Como esses momentos, por vezes, são fugazes. Mas intensos. Mobilização e intensidade. Sempre estiveram juntos.
O grupo, que nunca deixei de pensar, sempre exigiu vivê-lo. Quero ver como é isso no trabalho e na produção de conhecimento também. E, claro, falar mais sobre isso aqui também. Assim como sobre tempo, processo, integralidade, responsabilidade, diálogo, projeto…
Por fim, trago uma frase da minha professora, não sei se citando algum(a) outro(a) autor(a), que já faz tempo que ouvi, mas não esqueci.
"Trabalhar é arriscar fazer uso de si".
=)