E quando chegar a nossa vez, o que irá passar pelas nossas idéias e por nossos dias

Querida Cláudia. 

O texto evoca muitas emoções:

-A dor daquele que se submete aos cuidados de uma equipe que não considera sua percepção, sua opinião, sua emoção;

-A experiência da expressão singular como exercício de sentido para cada situação vivenciada;

-O respeito à trajetória existencial enquanto cuidado integral.

Relembrei várias ocasiões no hospital onde trabalho…

Lembrei dos dias em que fui familiar dos meus entes internados em vários hospitais e UTIs. 

Muitas lições podem ser aprendidas com esse olhar.

Rejane.

Muito bonito este poema, semestre passado tive a oportunidade de estagiar no Lar das Vovozinhas em Santa Maria RS, foi um experiência incrível e estas palavras dizem muito sobre o que vemos no dia a dia nestes lugares mas também alerta para tudo que deixamos de ver!

A "levada" deste post é a tua cara, querida!

Sensibilidade, implicação e sutileza de teu olhar para dimensões que nem todos percebemos…

sua fã,

Iza

Esta é a cara do brasil,pessoas que embora não paramos mas, temos a necessidade refletir um pouco a nossa vida diante de todos problemas que acontece no mundo la fora! Bastante cruel com a maioria da população brasileira carente e sofrida com tanta necessidade,com tanta falta de amor, de olha,de participação calorosa com todos aquele que precisa uma palavra amiga!. Valeu pelo post e a verdadeira realidade da vida real.

Querida Peju,

Bela sensibilidade, belo poema, belo tudo…

Acho que não é o seu caso, mas, registro assim mesmo…

Visitar não é nada fácil, porque exige que nos destituamos de nós para entrar em terra estrangeira, acolhendo aquilo que vier…

Como potencializar este encontro? Ao invés de se preocupar em dar, ocupe-se em receber: histórias, experiências, afetos, silêncios, lágrimas, mágoas e sorrisos…

Como diz o poema, para quem é olhado como um ser nada, esperando a morte, qualificar a vida é um bálsamo. Acho que pessoas no fim da linha, na passagem, nada precisam receber, o que elas precisam é de alguém que possa aceitar o que elas tem para dar. Elas precisam, acho eu, de uma autonomia que lhe é roubada em nome de um cuidado preocupado demais em confortar e acolher, sem perguntar para elas o que elas ainda tem para dar, o que elas ainda sentem pulsar, o que é enfim esta experiência de viver no limite.

Acho que neste momento não ser mais um profissional de saúde, mas simplesmente um ser humano que encontra outro ser humano é tudo o que elas mais necessitam, é tudo que elas mais esperam. Não olha-las como quem espera uma passagem, mas como quem vive uma passagem intensamente, visitando isto intensivamente, não é mesmo nada fácil.

Bjs.

Miguel

Oi Claudinha, muito interessante o teu post, o poema, o retrato literalmente da velhice. Me fez lembrar a minha tia avó de 98 anos de idade. Um olhar distante, enigmático que já não consegue acompanhar a dinâmica da vida. Um olhar que grita por atenção, cuidado, carinho.

Que possamos ver a pessoa, o cidadão, o jovem que existe em cada um dos nossos idosos!

Bjs!

Emília

O TEXTO DEMONSTRA LUCIDEZ EM PODER EXPRESSAR O PROCESSO DAS VÁRIAS FASES DA VIDA DO HOMEM – PENSAR NAS COISAS BOAS DO PASSADO, DO QUE É O PRESENTE E SABER QUE O FUTURO AGUARDA TODOS NÓS. NA SAÚDE NOS DEPARAMOS COM REALIDADES QUE NOS FAZ REFLETIR SOBRE NOSSO PAPEL. O TEXTO TRADUZ O QUE DEVEMOS DAR MAIS ATENÇÃO E RESPEITO A PESSOA IDOSA.  

Eu espero poder contribuir para a dignidade com o idoso no Brasil!

Minha linda amiga!

Que postagem maravilhosa. Só agora passando um "pente fino" na rede me deparei com ela. O texto nos chama a atenção para tantas coisas. Parece que vivemos num mundo onde gradualmente vai se retirando dos velhos a capacidade de autonomia. A velhice tornou-se sinônimo de doença. Uma certa estética que associa a beleza apenas a juventude só torna os velhos aceita´veis se travestidos de jovens, como os atores e atrizes de novela. Creio que os processos que negam a velhice estão intimamente relacionados àqueles que negam a morte. Se a média de vida elastece a cada nova geração, a morte vai se visibilizando como propriedade inerente a velhice. A vida sempre trata de dizer que isso é falso, tão somente um cosmético estatístico. Mas o pior é a solidão, aquela solidão que nos fala Norbert Eliias no ensaio "A Solidão dos Moribundos". Por não sabermos lidar com a morte, por não haver uma "experiência social" que nos socializa com uma "arte de morrer", aprendemos apenas a fugir da experiência da morte, sempre rotulada como algo ruim. Quando percebemos, morte e velhice se confundem, dai que fugimos dos velhos, mesmo que eles estejam logo ali ao  nosso lado na mesa da sala de jantar. O poema que você nos traz CLAMA para ser ouvido. Sintetiza milhões de vozes. Fala da pior das mortes, aquela em nos  matam e estamos ali, indefinidamente para assistirmos a nossa anulação, mesmo em momentos absolutamente triviais quando se quer trocar o canal da televisão ou negociar outra comida no jantar. 

Um bj carinhoso

ERASMO

Gilles deleuze sobre a velhice:

"A velhice! Alguém soube falar da velhice. Foi Raymond Devos. Muitas outras coisas foram ditas, mas ele disse o melhor para mim. Acho que a velhice é uma idade esplêndida. Claro que há algumas chateações, tudo fica mais lento, nos tornamos lentos. O pior é quando alguém lhe diz: "Mas não é tão velho assim!" Não entende o que é uma queixa. Estou me queixando dizendo "Ah, estou velho!". Ou seja, invoco as potências da velhice. E aí, alguém me diz, com a intenção de me consolar: "Não está tão velho assim". Eu daria uma bengalada nele! Logo quando estou em plena queixa da minha velhice, não venham me dizer: "Até que não é tão velho assim". Pelo contrário, deviam dizer: "Está velho mesmo!" Mas é uma alegria pura. Fora esta lentidão, de onde vem esta alegria? O que é terrível na velhice? Não é brincadeira. É a dor e a miséria. Não é a velhice em si. O que é patético, o que torna a velhice algo triste são as pessoas pobres que não têm dinheiro para viver, nem um mínimo de saúde necessário e que sofrem. Isso é que é terrível. E não a velhice! A velhice não é um mal em si. Com dinheiro suficiente e um mínimo de saúde, é formidável. E por que é formidável? Primeiro, porque, na velhice, sabe-se que chegou lá. O que é muito! Não é um sentimento de triunfo, mas chegou lá. Chegou lá em um mundo cheio de guerras, de vírus malditos e tudo o mais. Mas conseguiu atravessar tudo isso, os vírus, as guerras e todas estas porcarias. Esta é a hora em que só há uma coisa: ser! O velho é alguém que é. Ponto final. Podem dizer que é um velho rabugento, etc. Mas ele é. Ele adquiriu o direito de ser. Afinal, um velho pode dizer que tem projetos. É verdade e não é. São projetos, mas não da forma como alguém de 30 anos tem projetos. Espero escrever estes dois livros, um sobre a Literatura e outro sobre a Filosofia. Mas, mesmo assim, estou livre de qualquer projeto. Estou livre de projetos. Quando se é velho, deixa-se de ser suscetível. Não há mais suscetibilidades, não há mais decepções fundamentais. Estamos muito mais desinteressados. Amamos as pessoas de fato pelo que elas são. Acho que afina a percepção. Vejo coisas que não via antes, percebo elegâncias às quais eu não era sensível. Agora, eu as vejo melhor, porque olho para alguém pelo que ele é, quase como se eu quisesse carregar comigo uma imagem dele, um percepto ou tirar da pessoa um percepto. Tudo isto torna a velhice uma arte. Os dias passam numa velocidade impressionante com a escansão, a fadiga. A fadiga não é uma doença, é outra história. E também não é a morte. Eu repito: é um sinal de que o dia acabou. Com a velhice, existem algumas angústias, mas basta evitá-las. Elas são fáceis de serem esconjuradas. Elas são como os lobisomens ou os vampiros, é só não estar na frente de um. Gosto desta idéia. Não se deve estar sozinho à noite quando começa a esfriar, pois somos lentos demais para poder fugir. Então, são coisas a evitar. A grande maravilha é que as pessoas deixam a gente de lado, a sociedade deixa a gente de lado. Ser deixado de lado pela sociedade é uma alegria tamanha! Não que a sociedade tenha me importunado muito, mas quem não tem a minha idade ou não está aposentado não sabe a alegria que é ser deixado de lado pela sociedade. Os velhos que eu ouço se lamentando são aqueles que não queriam ser velhos, que não suportam a aposentadoria. Não sei por quê. Que leiam romances! Pelo menos, descobririam alguma coisa. Eles não suportam. Eu não acredito, com exceção de alguns casos japoneses, naqueles aposentados que não conseguem encontrar alguma ocupação. É uma maravilha ser deixado de lado. Basta sacudir-se um pouco para que tudo caia. Caem todos os parasitas que você carregou a vida inteira. E o que resta à sua volta? Só as pessoas que ama e que o suportam e o amam também. O resto deixou você de lado. Estou falando de mim. Mas fica muito difícil quando querem trazê-lo de volta. Não suporto isso. Eu só conheço a sociedade através do aviso de chegada da aposentadoria todo mês. Do contrário, sei que sou um desconhecido para a sociedade. O problema é quando alguém acredita que eu ainda faço parte dela e que me pede uma entrevista. No nosso caso atual, é diferente, pois faz parte de um sonho de velhice. Mas quando alguém quer me entrevistar, tenho vontade de dizer: "Tá maluco? Você não sabia que sou um velho e fui deixado de lado pela sociedade?" Mas é bom. Acho que estão confundindo as coisas: o problema não é a velhice, mas a miséria e o sofrimento. Mas quando se é velho, miserável e sofredor, aí, não há palavras para dizer o que é. Mas um velho simplesmente, que é apenas velho, é o ser."