SÍNTESE CRIATIVA: COMPROMISSO COM A MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE
Texto construído a partir da conversa com a Dra. Tatiana Monteiro Fiúza, médica da Estratégia de Saúde da Família, do CSF Lineu Jucá, reunião realizada no CUCA da Barra do Ceará, em Fortaleza, no dia 17 de Janeiro de 2013.
Chegou de Patos de Minas e há cinco anos cuida das famílias da Barra do Ceará
Sobe e desce o Morro Santiago e conhece todas as pessoas pelo nome
Implantou consultórios nas ruas e casas, bodega e igreja.
Seu dia-a-dia é um desafio, peleja e atitude de “ir ao povo”
Para construir com ele a missão de promover saúde…
E promover saúde nas condições do Morro Santiago não é fácil não…
São tantas intempéries e tantas agruras marcadas de desigualdade e dor
Que não basta apenas ser “doutor” e esperar os “clientes” no Posto de Saúde…
Mas não são muitos os médicos que topariam ampliar esta “clínica”
Colocar os pés no chão e fazer a direção do olhar ampliado neste contexto e dimensão
Conhecer as famílias e com elas se envolver quando uma a tal ética recomenda neutralidade…
Reunir os filhos do povo – meninas e meninos para construir os vínculos e oportunidades
Gerar acordos e pactuações de convivência com todos que moram no morro
Ir e vir, conviver e trilhar por realidades e sonhos que sugerem teimosia…
Teimosia que se encontra com a ousadia para minimizar a dor e as necessidades…
São tantas carências do povo e da Unidade de Saúde que o amor se faz precisão e atitude…
Cinquenta e oito meninas pobres e antes mais vulneráveis seguem um curso diferente
Cabeças adolescentes que já se organizam como gente e se apropriam do presente
A Associação das Adolescentes Cabeças manda recados de renovação
E para conviver crescendo cumpre os acordos que as fazem seguir vivendo:
NÃO FUMAR E NÃO CONSUMIR ALCOOL
NÃO USAR OUTRAS DROGAS
NÃO RESPONDER AOS PAIS
NÃO NAMORAR HOMEM QUE BATE EM MULHER…
Seu projeto de vida: SER MÉDICA DE FAMÍLIA!
A medicina da escuta e da ausculta em diálogo e vivência
O afeto que se faz coragem de enfrentar tantas adversidades
A superação dos conflitos e incompreensões por agir “tão diferente”
E esta médica-mãe-menina vive a lutar em seu fazer medicina:
“Como seria bom ter aqui o NASF, as Residências Multiprofissional e Médica”
Mais profissionais e mais estrutura junto com mais tolerância
Em favor dessa gente que os consultórios convencionais não alcançam…
Elias José da Silva – Educador Popular, coordenador da Estratégia Cirandas da Vida, Secretaria Municipal de Saúde – Fortaleza-Ce.
Por Emilia Alves de Sousa
Prezado Elias,
Muito bacana o trabalho de implicação com a comunidade, da Drª Tatiana. Lembrou-me uma médica do PSF daqui de Teresina, a Drª Amarílis Borba, que também, diariamente, na comunidade do bairro Satélite, punha um chapelão na cabeça, e saia subindo e descendo morro (o bairro tem muitas ladeiras), visitando os domicílios para realização do atendimento médico das famílias. E o grande diferencial, além da acolhida aos usuários atendidos, era receitar remédios caseiros, que muitas vezes, ela ensinava a fazer na própria cozinha do visitado. Receita com medicamentos alopáticos só em último caso. No HILP, (foi gestora lá), sempre se reunia com os pais acompanhantes para trabalhar informações sobre doenças, formas de prevenção e tratamento utilizando a medicina caseira, para os casos de diarreia, desnutrição, verminose, gripe, principalmente. São mais de 40 anos dedicados à medicina piauiense e ainda está na ativa. Um grande exemplo de profissional comprometida com a saúde pública.