Nova gestão municipal em São Paulo vai usar internet como instrumento de participação, diálogo e cidadania
Querid@s humanautas!
Compartilho abaixo breve matéria veiculada ontem pela TVT, dando notícia que a nova gestão municipal em Sampã pretende valorizar o uso das novas mídias sociais como canal de diálogo com a população da cidade.
A notícia é animadora, pois nós, paulistanos, a recebemos como um prenúncio de tempos mais democráticos nesta megalópole que amargou muitos anos seguidos de gestões antidemocráticas. É Sampã deixando para trás (esperamos!) sua "idade das trevas" e adentrando uma nova era de maior diálogo e participação!
Nós, que há 5 anos temos acumulado uma rica experiência de uso das redes sociais para fazer política pública, só podemos comemorar e ampliar nossas ofertas para fazer um política pública de saúde mais democrática.
Sampã, pode contar com a RHS!
Saudações democráticas a todos!
12 Comentários
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Por Ricardo Teixeira
Caro Evaldo,
É isso aí! Você faz uma observação muito pertinente em relação ao uso da internet pela gestão pública, que eu traduzo assim: há uma linha tênue separando a "sociedade de controle" e a "inteligência coletiva".
O meu entendimento é que não há nenhum dado intrínseco nas tecnologias de comunicação em rede (excetuando alguns casos extremos de orientação "controlista") que garanta se ela vai funcionar como instrumento de emancipação e empoderamento ou como estratégia de controle. Essas experiências habitam, inevitavelmente, o "fio da navalha". O que fará com que ela penda numa direção ou outra me parece ser, mais que tudo, dependente de outros elementos ("extrínsecos") que vêm compor o agenciamento em questão.
A RHS, por exemplo: é evidente que as "relações" e "trocas" que aqui se estabelecem podem ser "exploradas" e servir a estratégias controlistas. O que esconjura essa possibilidade é, acima de tudo, o modo como seus usuários se apropriam deste espaço e sua articulação com o "Movimento HumanizaSUS".
Não sei se fica claro o que quero dizer… Em outras palavras, sua advertência é muito válida e perceber essa dupla possibilidade contida nas tecnologias de comunicação em rede é politicamente muito útil. No entanto, na prática, essa "separação" é difícil de ser feita e ainda precisamos entender melhor o que faz com que ela se preste a um ou outro projeto ético-político. O que coloquei acima são apenas algumas pistas nesta direção.
Seguimos trocando ideias…
Grande abraço,
Ricardo
Por Marco Pires
"Eu defendo apenas que a expansão científica não tem nada de humano. Talvez nosso cérebro seja apenas o portador provisório de um processo de complexificação. A tarefa agora seria a de desconectar este processo daquilo que o transportou até o momento. Estou convencido que é isso que vocês (os cientistas!) estão fazendo. A informática, a engenharia genética, a física e a astrofísica, a astronáutica, a robótica, já trabalham com esta preservação da complexidade em condições de vida independentes da vida sobre a terra. Mas não vejo o que isto tem de humano, se por humano entendermos as coletividades com suas tradições culturais, estabelecidas desde de determinada época sobre zonas precisas deste planeta. Tenho certeza que este processo "a-humano" possa ter, além de seus efeitos destrutivos, algumas boas consequências para a humanidade. Mas isto não tem nada a ver com a emancipação do homem" (Lyotard, 1988, p. 38)
Esta longa citação é de Bruno Latour, em "Jamais Fomos Modernos" de 1994. A intenção era em certa medida a refutação da tradição da crítica, na qual Latour incluía Foucault. Para Latour não faz muito sentido pensar o ser humano fora das redes que incluem o sujeito e a natureza, as técnicas e os poderes. Qualquer abordagem que pendesse para um dos lados da constituição moderna, perderia os híbridos situados entre os polos da natureza e do sujeito, da ciência e do poder.
Uma tendência do controle em termos do exercício dos biopoderes e mais precisamente de uma biotécnica, que hibridiza e media nossas relações será sempre constante entre os que se pretendem modernos. A evidência das conexões está surgindo porque nossa integração as redes não permite definições precisas como a modernidade chegou a nos prometer. A consciência de nossa implicação com o mundo é acima de tudo um reconhecimento que nos torna unos com os instrumentos que são nossas próteses e para os quais poderemos vir a ser irrelevantes como afirma, e talvez tema, Lyotard.
As redes se tornaram assunto dos filósofos ainda antes da internet, dos celulares, dos Tablets e do Facebook. Seu significado manifesto é maior e tem origem nos princípios da modernidade, quem sabe do iluminismo e renascimento. Se olharmos para os pré-modernos, veremos que as redes integravam o poder e a técnica, a sociedade, a economia, o discurso, a tradição… Na velha vertente antropológica uma só etnografia descrevia a rede em que os humanos estavam inseridos, segundo Latour. Hoje mais do que nunca uma definição precisa é subjugada pela noção de probabilidade e de implicação mútua com a incerteza.
Então, a questão permanecerá em aberto até que possamos passar do extremo da plena autonomia humana e seu irrestrito pressuposto de poder, para um reconhecimento da rede intrincada de que somos parte. Nossa margem de manobra é muito mais modesta.
Como partes que compõe a rede sociotécnica e a rede sócio-política já não podemos mais falar de ideologia como um erro a ser denunciado, um engano a ser desvelado. O problema é mais profundo, maior do que apenas definir o que, quem e quando se erra. O equívoco é parte do jogo. Não pode ser afastado com uma eleição racional do mais lúcido e mais capaz. Essa agenda servia aos modernos.
Mas se nunca fomos modernos, se tudo sempre esteve junto, ao passo em que os híbridos de natureza e cultura se multiplicavam, em que os quase sujeitos, quase objetos de Serres tomavam a cena, o jogo de perspectiva do poder político já é insuficiente para dar conta dos sonhos e promessas do iluminismo.
Assim, sorte aos eleitos e muita atenção aos expedientes de governo.
Por Evaldo
embora conheça pouco sobre o pensamento de Bruno Latour.
Por Marco Pires
Edgar Motin;
Bruno Latour;
John Gray;
Michel Serres;
Schopenhauer;
Espinoza;
Foucoault;
Machado de Assis;
H. P. Lovecraft;
Carl Sagan;
Freud;
Jean Baudrillard;
Carl Marx;
E outros mais recreativos. Muita música. Muito cinema e HQs.
Mas não me alinho exatamente com nenhum destes amados autores. Produzo a partir deles, misturando e articulando a tradição crítica com a busca de uma episteme holistica, o que não é mais do que a busca de uma bela miragem: Uma imanência transcendente.
Por Evaldo
Num curso do professor de filosofia da PUC/SP, Rogério da Costa, conheci um pouco a filosofia de Gilles Deleuze e Espinosa, para o entendimento de inteligência coletiva e de rede. Essa sua mistura de autores se parece muito com o meu entendimento do pensamento de Deleuze.
Atualmente, a idéia de Glocalização, do sociólogo Barry Wellman, muito mais pragmática, é o foco de minha atenção.
Por Marco Pires
Então! Mais alguém para conhecer através dos textos.
Um grande abraço, Evaldo!
Por Evaldo
Como diz o Rogério Sottili no final do vídeo, não existe um modelo pronto. A RHS é uma experiência positiva de participação.
Se o modelo "em rede" está em construção, temos que experimentar todas as possibilidades e ficarmos atentos para que se evite as "panelizações", tão comuns em redes sociais pela internet, como Orkut e FaceBook.
Até mais!
Um belo dia, o imperador da China resolveu construir uma
muralha contra os nômades vindos do norte. A construção da
muralha mobilizou a população inteira por anos a fio. Conta
Kafka que ela foi empreendida por partes, que não
necessariamente se encontravam, de modo que, entre um e
outro bloco de muro construído em regiões desérticas,
abriam-se grandes brechas, lacunas quilométricas. O
resultado foi uma obra descontínua, cuja lógica ninguém
entendia, já que ela não protegia de nada, nem de ninguém.
Talvez apenas os nômades, na sua circulação errática, tivessem
alguma noção do conjunto. No entanto, todos supunham que
a construção obedecesse a um plano rigoroso elaborado pelo
comando supremo, mas ninguém sabia quem dele fazia parte
e quais eram os seus verdadeiros desígnios. Um sapateiro,
residente em Pequim, relatou que havia nômades acampados
na praça central, a céu aberto, diante do palácio imperial, e
que seu número aumentava a cada dia. O próprio imperador
apareceu uma vez na janela para espiar a agitação que eles
provocavam. O Império mobiliza todas as suas forças na
construção da muralha contra eles, mas eles já estão
instalados no coração da capital, enquanto o imperador todo
poderoso é um prisioneiro em seu próprio palácio (Pelbart,
2002: 147).
E a frase de Foucault: "onde há controle, há resistência"
As redes mostram claramente essas saídas dos controles, esses buracos que poder nenhum pode obturar completamente!
saudações resistentes,
Iza Sardenberg
Por Ricardo Teixeira
Por Evaldo
Para qualquer tentativa de controle, temos uma linha de fuga, como diria Deleuze/Guatari e sua idéa de "rizoma"
Por Evaldo
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Por Evaldo
Oi, Ricardo.
Também recebi com otimismo esta notícia, que vi pela primeira vez no FaceBook.
Creio que a internet quando pensada como instrumento de gestão ainda é muito pensada como mecanismo de controle, incluindo as redes sociais.
Saímos da idéia inicial de participação popular para a idéia de controle social, como se o SUS não tivesse problemas não resolvidos (como o financiamento), bastando melhor gestão e maior controle, chamando a população para controlar a produção dos profissionais no sistema ou a sua assiduidade.
O SUS ainda precisa de muita criação, inovação e mudança de mentalidades na concepção de saúde, principalmente nesta sociedade do mercado e do marketing em que vivemos.
Espero muito que as redes sociais façam parte não só do diálogo com a sociedade mas também de escuta e valorização dos profissionais que estão lá na frente de batalha, "na ponta do sistema", enfrentando no seu dia-a-dia as necessidades das populações carentes.
Redes sociais para a criação, inovação e empoderamento, não só para o controle, é isso que espero, desta nova fase administrativa da cidade, e para todo o Brasil.
Um abraço!