A INSERÇÃO ARQUITETURA E SAÚDE: “Quando o problema é a falta de espaço na unidade de saúde, qual o espaço que falta?”
O tema abordado pela autora é extremamente interessante e me fez recordar muitos episódios conflituosos em conversas com gestores e funcionários de várias unidades de saúde que sofreram intervenção, mas o mais pitoresco foi a da reformulação da CME do Hospital Infantil Lucídio Portela em Teresina, um hospital de referência para pediatria.
O processo começou completamente equivocado, o diretor do EAS por iniciativa própria resolveu adquirir todos os equipamentos para uma CME com um determinado representante comercial, que por sua vez não estava preocupado com o leiaute do espaço disponibilizado para a implantação do serviço, com a chegada dos equipamentos a diretoria percebeu que os equipamentos não caberiam no espaço que havia sido planejado, fui então convocado para resolver o problema: Convoquei a diretoria e toda a equipe de funcionários da CME para me ajudarem na solução, iniciamos as discurções e finalmente elaboramos a proposta e iniciamos a obra, porém ninguém se lembrou da “Dona Francisquinha” que estava de férias, ao ser apresentada a nova proposta para a CME já em fase de acabamento, a primeira pergunta de “Dona Francisquinha” foi: “Onde vocês colocaram o meu repouso?”, em tom rude. Fui então chamado pela diretoria para explicar para ela que o repouso havia sido eliminado em função da falta de espaço e porque o serviço não funcionaria em regime integral e que ela poderia utilizar o repouso partilhado pelos demais funcionários. “Dona Francisquinha” irada, disse que trabalhava há 30 anos na CME, que estava prestes a se aposentar e que sempre teve “seu repouso” separado dos demais e não abriria mão “desse direito”, e assim aconteceu, ela perturbou tanto a vida da diretoria que conseguiu o seu “repouso” de volta.
Talvez, se durante o processo de elaboração da proposta de intervenção nós tivéssemos convidado a “Dona Francisquinha” para participar das discurções, mesmo ela estando de férias, ela, por estar envolvida no processo perceberia que “seu espaço” seria muito importante para possibilitar uma melhor solução arquitetônica para a CME.
O Texto da Mirela é muito interessante e oportuno, pois aponta algumas estratégias de abordagem na negociação de espaços, na proposta de mudança de processos, na negociação para redimensionamento de espaços para a melhoria do funcionamento de um EAS.
Como arquiteto e envolvido basicamente com projetos hospitalares, percebo a diferença na implantação de uma proposta de intervenção tanto arquitetônica como de gestão, quando esta tem a participação de todos os envolvidos, é mais fácil a partir dessa dinâmica, nós conseguirmos grandes mudanças no comportamento, nas atitudes, na mudança de processos para a implantação de uma nova forma de trabalho.
Por Emilia Alves de Sousa
Querido Napoleão,
O seu relato me encantou, independente de integrar o coletivo do HILP, pela lucidez de percepção sobre a importância de uma ambiência planejada de forma coletiva, possibilitando a inclusão de todos os interessados. E a pergunta faz todo sentido: "Quando o problema é a falta de espaço na unidade de saúde, qual o espaço que falta?". Nas entrelinhas do seu relato, a resposta está dada. É isto mesmo, falta inclusão, diálogo, escuta, valorização do trabalhador também. Quem está na base, envolvido com o cotidiano de trabalho, é quem sabe dizer o que é melhor em termos de necessidades. Pensar numa ambiência humanizada, vai muito além de produzir espaços físicos simplesmente, passa pela questão social, política e de saúde. Precisamos nas nossas unidades de saúde, de espaços que aliem a praticidade/resolutividade, conforto, segurança e interatividade. Espaços que possibilitem o encontro do sujeito com o outro, com os outros e consigo mesmo. Espaços de produção de trabalho e de sujeitos.
E vamos marcar um encontro pra aprofundarmos essa conversa sobre a ambiência do HILP?
Um abraço!
Emília