“um dia o século será deleuziano” – Michel Foucault

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resposta de Deleuze ao jornal Libération, em 1986:

 

" Não sei o que Foucault queria dizer, nunca lhe perguntei. Foucault tinha um humor diabólico. Talvez quisesse dizer isto: que eu era o mais ingênuo dos filósofos da nossa geração. Em todos nós se encontram temas como a multiplicidade, a diferença, a repetição. Mas eu proponho conceitos quase em bruto, ao passo que os outros trabalham mais com mediações. A superação da metafísica ou a morte da filosofia nunca me disseram respeito, e da renúncia ao Todo, ao Uno, ao sujeito, nunca fiz disso um drama. Não rompi com uma espécie de empirismo, que procede a uma exposição direta dos conceitos. Não passei pela estrutura, nem pela linguística ou a psicanálise, pela ciência ou mesmo pela história, porque penso que a filosofia tem o seu material bruto que lhe permite entrar em relações, exteriores, mais necessárias ainda, com outras disciplinas. É talvez isto que Foucault queria dizer: eu não era o melhor, mas o mais ingênuo, uma espécie de arte bruta, se se pode dizer; não o mais profundo, mas o mais inocente ( desprovido da culpabilidade de "fazer filosofia" )."

 

do livro "O Mistério de Ariana", Gilles Deleuze

Ed. Vega, Lisboa, 1996, p. 8.