JUNTOS PELO FIM DA TUBERCULOSE

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Apresentação:
Este trabalho foi resultado da intervenção realizada no período de 26 de abril a 07 de maio de 2013, pelos internos do nono período do Curso de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Hareton Teixeira Vechi e Juliana Silva Barros, durante o Internato em Saúde Coletiva, na Unidade Básica de Saúde (UBS) de Vila São José, em Macaíba–RN, sob a tutoria da professora Vilani Nunes e sob a preceptoria do médico Dr. Jailton Barbosa e da Enfermeira Maria Gracimani Trindade. Para a realização do mesmo contamos com a ajuda de todos os profissionais de saúde da UBS de Vila São José, bem como o apoio da Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Norte e Secretaria Municipal de Saúde de Macaíba, visando a busca ativa de sintomáticos respiratórios para quebrar a cadeia de transmissibilidade e assim alcançar o fim da tuberculose.

 

Introdução:
A tuberculose mantém-se, nos dias atuais, como grave problema de Saúde Pública, tendo sido considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como questão de emergência mundial em 1993. Contribuíram para essa situação de saúde a complexa interação entre a tuberculose endêmica e a pandemia da infecção HIV/AIDS, a acentuação das desigualdades socioeconômicas, a emergência de cepas do Mycobacterium tuberculosis resistentes aos fármacos tuberculostáticos, o envelhecimento da população e a gradativa redução de investimentos no setor de saúde com deterioração da rede pública de atenção básica.

Estima-se que um terço da população mundial esteja infectado pelo bacilo de Koch, sob risco de adoecimento. Acrescente-se a isso a ocorrência de 8,8 milhões de casos de tuberculose-doença e 1,4 milhões de óbitos em 2010 consoante informações da OMS, representando a tuberculose a principal causa de morbidade e mortalidade por doenças infecciosas no mundo.

No Brasil, figura como quarta principal causa de mortalidade por doenças infecciosas e  a principal causa em pacientes convivendo com HIV/AIDS. Por esses motivos a situação epidemiológica da tuberculose ainda é preocupante, e deve ser encarada como tema de saúde prioritário, requerendo a implantação de um conjunto de ações integradas, desenvolvidas pelos diferentes níveis de governo e pertencentes aos três níveis de atenção à saúde – promoção, proteção e recuperação da saúde – com o objetivo de reduzir essa morbimortalidade e atenuar o sofrimento humano causado pela  doença, conforme preconiza o Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT).

O controle da infecção é baseado, principalmente, na busca de casos suspeitos, diagnóstico precoce e adequado, com tratamento até a cura, almejando a interrupção da cadeia epidemiológica de transmissão e a prevenção de novos adoecimentos. A Atenção Básica, por sua vez, desempenha papel fundamental no combate à tuberculose, na medida em que amplia o acesso da população em geral e das populações mais vulneráveis ou sob maior risco de contrair tuberculose ao diagnóstico e tratamento, contando com o apoio do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e da Estratégia de Saúde da Família (ESF).

Na área adstrita da Unidade Básica de Saúde da Vila São José, situada no município de Macaíba-RN, foram notificados dois casos de tuberculose nos meses de Março e Abril de 2013. Tal cenário, somado ao fato do município em questão ter sido responsável por pouco mais de 22% do total de casos notificados de tuberculose no Estado do Rio Grande do Norte no ano de 2012 de acordo com o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), suscitou a necessidade da colocação das ações de controle da tuberculose em prática naquela localidade, objetivando, em última análise, através da detecção precoce, confirmação do diagnóstico e tratamento de novos casos de tuberculose, corroborando com a melhoria da situação de saúde da população que vive na área de abrangência da unidade. Outros objetivos foram: capacitar os agentes comunitários de saúde para a identificação de casos suspeitos, educar à população no tangente à doença, transmissibilidade, tratamento.

Metodologia:
A intervenção foi dividida nos seguintes momentos.

1. Capacitação dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) para busca ativa de sintomáticos respiratórios e investigação de tuberculose pulmonar feita através de uma exposição dialogada. Posteriormente os ACS identificaram os sintomáticos respiratórios em suas microáreas (Figuras 1 e 2).

2. Elaboração de uma ficha complementar de investigação que leva em conta outros fatores que os da FIN como imunodepressão por corticoterapia, Diabetes, pacientes transplantados, idosos, uso de drogas, entre outros (Anexo 3).

3. Primeira visita domiciliar aos sintomáticos respiratórios, momento no qual foi investigado aquilo que o paciente sabia sobre tuberculose, esclarecidas as dúvidas, distribuído folders do Ministério da Saúde de conscientização, feita a avaliação clínica e colhido o primeiro escarro para realização da baciloscopia (Figura 3).

4. Segunda visita domiciliar consistiu de realização do teste tuberculínico (PPD – Derivado Protéico Purificado), e colheita do segundo escarro (Figura 4).

5. Terceira visita domiciliar para leitura do PPD. Os pacientes que tiveram PPD reator (acima de 5mm) foram convidados à realizar o teste rápido-diagnóstico para HIV na UBS (Figura 5)

6. Realização do teste rápido-diagnóstico para HIV (Figura 6).

7. Processamento dos resultados para conduta em relação à realização de quimioprofilaxia secundária para os casos de tuberculose latente ou tratamento preconizado pelo Manual do PNCT.

 

Resultados/Conclusão:

O planejamento da intervenção deu-se através de  estimativa baseada em planilhas da Programação Pactuada Integrada (PPI) que previa a existência de 1% de sintomáticos respiratórios na população em questão, esperava-se encontrar a presença de 34 pessoas que necessitariam de uma avaliação mais detalhada. Foram selecionados 15 pacientes, entre contatos de tuberculose e sintomáticos respiratórios, pelos ACS em 4 das 5 microáreas adiscritas da UBS.

A caracterização da população  está na Tabela 1 em anexo. Percebe-se o baixo grau de escolaridade e a grande média etária da população selecionada, o que sugere uma condição de vulnerabilidade da mesma. Na Tabela 2 pode-se observar que a grande comorbidade associada aos pacientes foi o tabagismo, seguido por hipertensão arterial, diabetes mellitus e etilismo.

O quadro clínico dos pacientes sintomáticos respiratórios pode ser visto na Tabela 3. Vê-se que além da tosse com duração superior a 3 semanas, que caracteriza o sintomático respiratório, a existência de expectoração e perda ponderal também foram bastante relatadas.

Do total de pacientes, 40% apresentou um PPD reator. As investigações com baciloscopia de escarro foram feitas em 100% dos usuários com expectoração, totalizando 6. Foram feitos testes para HIV em 08 pacientes, compreendendo aqueles com PPD reator e mais dois pacientes com multiplos fatores de risco para HIV, como relações sexuais desprotegidas, promiscuidade sexual e uso de drogas injetáveis. Os resultados obtidos com os exames complementares podem ser visualizados nas tabelas 4 e 5 em anexo.

Para o fechamento diagnóstico e instituição de quimioprofilaxia ou tratamento da tuberculose doença dos 6 pacientes que foram reatores ao teste tuberculínico é necessária a continuação da investigação com um exame de imagem, como a radiografia simples de tórax. Até o momento final desta intervenção, este exame estava indisponível para o município, porém pactuamos com a Secretaria Municipal de Saúde de Macaíba a prioridade na realização desses exames em um futuro próximo.

Esperamos que os esforços empreendidos para a realização deste trabalho tenham ajudado na concretização de um dos objetivos do milênio que almeja a diminuição da incidência, prevalência, e morbimortalidade causada pela tuberculose até o ano de 2015. Acreditamos que as ações de conscientização da população quanto a problemática da tuberculose a tornará mais atenta na identificação dos sintomáticos respiratórios e na busca ativa de novos casos. 

 

Anexos:

Figura 1. Exposição dialogada com os profissionais de saúde da UBS

Figura 1.

Figura 2. Ensinando técnica correta para coleta do escarro

Figura 2.

 

Anexo 3.

 

 

 

Figura 3. Coleta do escarro

Figura 3.

 

Figura 4. Realização do PPD

Figura 4.

 

Figura 5. Leitura do PPD

Figura 5.

 

Figura 6. Material utilizado para rapid-check

Figura 6.

 

Tabela 1.

Tabela 1. População

 

Tabela 2.

Tabela 2

 

Tabela 3.

Tabela 3.

 

Tabela 4.

Tabela 4.

 

Tabela 5.

Tabela 5.

 

Referências

1.Tuberculose no Brasil e no Mundo. Disponível em: https://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/visualizar_texto.cfm?idtxt=31109. Acessado em 05/05/2013.
2.Melo FAF, Afiune JB, Hijjar MA, Gomes M, Rodrigues DSS, Klautau GB, Kritski AL et al. Tuberculose. In: Foccacia R. Veronesi: tratado de infectologia. 4. Ed. São Paulo: editora Atheneu, 2009.
3.Horsburgh CR. Epidemiology of tuberculosis. Uptodate 2013. Disponível: https://www.uptodate.com. Acessado em 05/05/2013.
4.Dia Mundial da Tuberculose. Disponível em: https://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/visualizar_texto.cfm?idtxt=31110. Acessado em 05/05/2013.
5.Programa Nacional de Controle da Tuberculose. Disponível em: https://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/visualizar_texto.cfm?idtxt=31101. Acessado em 05/05/2013.