Desfile pela Luta Antimanicomial chega à 17ª edição em Belo Horizonte

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Em 2013, a manifestação trouxe a resistência como ponto central para afirmar a importância de uma sociedade sem manicômios, livre e mais humana.

Loucura e resistência. Esses foram os temas centrais do desfile da escola de samba "Liberdade Ainda que Tam Tam", nesta quinta-feira, em Belo Horizonte. Pelo 17º ano consecutivo, a manifestação político-cultural percorreu as ruas de Belo Horizonte para fazer a tradicional defesa dos movimentos sociais, da liberdade, por uma sociedade livre dos manicômios.
Ao contrário dos últimos anos, em 2013 o desfile foi antecipado para o dia 16, porém sem perder a sintonia com o dia 18 de maio, Dia Nacional da Luta Antimanicomial. Além das palavras-chave do desfile – resistência e loucura -, o movimento também apresentou como base o tema "Se não nos deixam sonhar, não os deixaremos dormir".

De acordo com a presidente do Conselho Regional de Psicologia (CRP-MG), Marta Elizabete de Souza, esse ano, o tema escolhido pelo coletivo de várias entidades e serviços de saúde mental teve por objetivo fazer "uma homenagem aos movimentos sociais, que resistiram – e resistem – a uma sociedade excludente", observa.
Como lembra Marta, a reforma psiquiátrica avançou muito desde a sua implementação no final dos anos 70. "No entanto, nós temos grandes preocupações porque, embora tenha tido um aumento dos recursos para a saúde mental, a gente ainda não está percebendo uma permeabilidade", enfatiza Marta, para que se avence cada vez mais na consolidação da reforma.

 

O desfile também abriu espaço para reflexões sobre o lugar social da loucura em seu encontro com a arte e o pensamento, e para o atual momento da Saúde Mental em Minas Gerais e no Brasil. Segundo a membro da Comissão Nacional de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia (CFP) e militante do Fórum Mineiro de Saúde Mental (FMSM), Rosimeire Silva, uma das propostas para 2013 era justamente sensibilizar a população para que se faça resistência ao conservadorismo e a retrocessos, como é o caso das políticas de internação compulsória. O consentimento ao tratamento é, conforme Rosimeire, "o ponto de início para o tratamento respeitoso, digno, para as pessoas com sofrimento mental", orienta.

Além disso, mostrando todas as consequências e os efeitos de mais de  25 anos de trabalho do Movimento da Luta Antimanicomial, "a gente também quer convidar a sociedade, os governantes, todos os poderes públicos constituídos, a não recuarem, para não colocar em risco essa importante conquista e esse modo de tratar, que faz do Brasil uma referência nessa experiência para o mundo", completa.
O presidente do CFP, Humberto Verona, explica que o Conselho Federal valoriza muito a militância da luta antimanicomial em Minas, que vem sustentando há muitos anos essa manifestação pública pelas ruas de Belo Horizonte.  "Um belo exemplo de cidadania e consciência política em defesa da Reforma Psiquiátrica brasileira que anda tão ameaçada. Parabéns ao Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais que apoia e participa ativamente deste ato", afirma.
Como explica Verona, a implantação da Lei nº 10.216 já assegurou a liberdade e os direitos de milhares de pessoas com transtorno mental em todos os cantos do Brasil. "É preciso defender essas conquistas e pensar no futuro com mais serviços substitutivos até a extinção total dos manicômios. Hoje, as tentativas de internar os usuários de drogas contra sua vontade, reedita os tempos obscuros dos manicômios e fere mortalmente a Lei 10.216. Não podemos permitir este retrocesso", acrescenta.

O desfile

Na capital mineira, os manifestantes fizeram o trajeto da Avenida João Pinheiro, passando por pontos centrais da cidade, como a rua Espírito Santo, avenida Afonso Pena, rua dos Tupinambás, Avenida dos Andradas, até chegar à Praça da Estação. Com a presença de usuários, familiares e trabalhadores dos serviços substitutivos em saúde mental da Região Metropolitana de Belo Horizonte e de cidades do interior do estado, a mobilização pretendia envolver, nesta edição, aproximadamente 4 mil pessoas.
O desfile é organizado pelo Fórum Mineiro da Saúde Mental, composto por trabalhadores, usuários e familiares da rede de saúde mental de todo o estado, pela Asussam-MG, e representantes de conselhos de classes. Participam também representantes de movimentos sociais, culturais e outras organizações da sociedade civil.

Ouça o samba-enredo deste ano, "Psiu, psiu, estou ouvindo vozes", de autoria do Coletivo Centro de Convivência São Paulo, que guiou os manifestantes pelas ruas de Belo Horizonte – escute no link da reportagem: https://canalminassaude.com.br/noticia/desfile-pela-luta-antimanicomial-chega-a-17%C2%AA-edicao-em-belo-horizonte/