CAPACITAÇÃO DA EQUIPE DA UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA DE CAMPINAS, MACAÍBA, SOBRE NOTIFICAÇÕES COMPULSÓRIAS.

1. Introdução

A Estratégia de Saúde da Família (ESF) do Ministério da Saúde, iniciado em 1994, se configura como uma estratégia de reorientação do modelo assistencial mediante a implantação de equipes multiprofissionais em unidades básicas de saúde. Busca a vigilância à saúde por meio de um conjunto de ações individuais e coletivas, situadas no primeiro nível da atenção, voltadas para promoção, prevenção e tratamento dos agravos à saúde. Em relação aos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) preconiza-se como sua atribuição primordial à visita domiciliar diária no intuito de estabelecer vínculos com a população, receber suas angústias e dúvidas e, na medida do possível, oferecer uma resposta. A notificação compulsória de agravos e doenças, uma obrigação do profissional de saúde, é mais uma ferramenta que o ACS pode ter em mãos a fim de atuar diretamente, fazendo uma interligação entre as pessoas e a Vigilância Epidemiológica  a fim de estabelecer indicadores e informações que servirão como norteadores  para futuras ações dos sistemas de gestão municipais acerca desses agravos.
Infelizmente em nossa unidade de saúde os agentes de saúde não tem conseguido exercer suas funções, havendo um desvio de função, visto que não existindo um recepcionista fixo para assuntos de marcação de fichas, coleta prontuário, dentre outros. Essa situação de certa maneira enfraquece o conceito de ESF, visto que ao invés de atuarem em campo próximo à comunidade e fortalecendo vínculos acabam por ficar restritos em questões burocráticas dentro da unidade de saúde, muitas vezes vivendo situações de conflito com os próprios moradores. Esse problema talvez aconteça em outras UBS.

2. Justificativa

Ao realizarmos uma roda temática no dia 19/06/2013 na UBS de Campinas com o Senhor Tavares, Enfermeiro e ACS sobre questões envolvendo as baixas notificações de Dengue nos últimos meses, apesar das queixas da população de muitos doentes, verificou-se que os ACS apesar de terem bom conhecimento sobre o assunto, muitas vezes por questões de falta de informações sobre suas atribuições, há necessidade na unidade de uma estratégia eficiente para lidar com os pacientes em várias fases necessárias para a notificação. Ao final da reunião foi nítido o aumento de conhecimento adquirido por todos nós, sobre como lidar com questões epidemiológicas e transpô-las para a prática cotidiana, que é o campo de ação do ACS. Muitas dúvidas foram sanadas, propostas e ideias dos ACS foram discutidas e, como resultado dessa roda temática com a participação valorosa dos agentes de nossa UBS, criamos esse texto a fim de expandir essa Roda Temática para todas as outras unidades.
Esse modelo de Roda Temática individual, com os profissionais de saúde se mostrou muito eficiente e proveitosa em ralação a uma roda mais abrangente com muitos ACS, visto que num espaço com número reduzido de profissionais a discussão se torna mais eficaz, as pessoas acabam exteriorizar seus pensamentos, diminui a inibição que ocorreria em frente a pessoas diferentes de seu convívio diário, além do que cada unidade tem suas demandas próprias, suas dificuldades e questionamentos específicos.

3. Objetivos

3.1 Objetivo geral

Orientar os ACS sobre a notificação de agravos e doenças, em especial aquelas doenças em vigor no momento como a Dengue e como proceder desde o surgimento dos sintomas na comunidade até o resultado do exame.

3.2 Objetivos específicos

• Tirar dúvidas sobre o preenchimento da ficha de notificação, se necessário.
• Receber as demandas e questionamentos dos ACS sobre suas dificuldades e repassar para a Secretaria Municipal de Saúde a fim de elaborar ações que aumentem a eficácia e cobertura da ação desses agentes em suas microáreas.
• Propor para os ACS e profissionais das UBS, caso não possuam, uma norma de conduta diante caso suspeito de dengue:
   1. Em caso suspeito de Dengue (sintomas e sinais) pode a agente iniciar, por si mesmo, a notificação e orientar o paciente para a consulta médica, agendando a consulta numa data propícia a coleta do exame confirmatório.
    2. O médico deve solicitar métodos confirmatórios como isolamento viral (entre o 3° e 5° dia de início dos sintomas) ou sorologia para Dengue ( a partir do 6° dia de inicio de sintomas até no máximo 28 dias).
    3. O ACS deve acompanhar o andamento e resultado do exame e quando em posse deste, deve entregar ao paciente o resultado, aumentando o vínculo e consideração que o mesmo teve com a equipe de saúde ao realizar o exame.

4. Metodologia

Realização de rodas temáticas individuais nas unidades básicas de saúde em sua totalidade, sendo ministradas pelo Senhor Tavares, responsável pelo Setor de Epidemiologia do Município de Macaíba. Essas reuniões seriam semanais, mais especificamente uma vez por semana de acordo com a conveniência de dia e horário da UBS a ser contemplada.

5. Material Necessário

Solicitamos à Secretaria Municipal de Saúde um veiculo de transporte para conduzir o responsável pela Reunião (Roda Temática) à UBS, uma vez por semana no dia e horário a ser combinado com o mesmo.

6. Resultados

Realizamos Roda Temática sobre Notificação Compulsória na UBS Campinas no dia 19/06/2013, na qual houve adesão de 100% dos profissionais.
6.1Temas abordados
Foram abordadas todas as dúvidas apresentadas pelos membros da equipe, como o fluxo dos dados e informações, como e quando notificar, temas administrativos e propostas de soluções para tal problema, como observado em alguns depoimentos colhidos:

– ACS: Devo notificar antes ou depois do exame?

– Gestor: Vocês têm a função de elo da comunidade com unidade de saúde.

– ACS: Quando o paciente está bem não vai fazer sorologia, reclamam de ficha, de burocracia […] O que podemos fazer é trazer o paciente diretamente.

– Gestor: Quem preenche a ficha? Qualquer um pode. O fato é dar continuidade, Por exemplo: marcar consulta pós-data para exame. O médico deve atuar nessa estratégia conjuntamente […] Se até semana 18 teve 1 caso notificado, mas no hospital tem vários com endereço da Campinas, mostra que a qualidade do serviço é baixa, exceto se houver notificação negativa, como foi o caso.

– Gestor: Vejo que o problema não é conhecimento, mas condições de colocar em prática, o sobrepeso nas obrigações […] O que vocês precisam mais aqui nessa unidade?

– ACS: Diminuir o número de famílias assistidas. Porque tem dia que para um total de 15 fichas tinha 40 pessoas pela manhã, algumas já esperando chegar o período da tarde para ser atendida. A demanda é muito grande.

7. Discussão e conclusão

Após a realização da Roda temática, percebemos que os ACS apresentam bom conhecimento sobre o processo de preenchimento das notificações e não há falta de informações sobre suas atribuições, mas sim um desvio de função, já que um deles é alocado para a função de recepção, busca dos e organização prontuários e da fila de atendimentos, distribuição de fichas e Classificação de risco.
Percebemos que há, também, falta de estratégia eficiente para lidar com os pacientes nas várias fases necessárias para a notificação, de modo que a Roda forneceu conhecimento sobre como lidar com questões epidemiológicas e transpô-las para a prática cotidiana.
Dessa forma, planejamos expandir a Roda Temática para todas as outras UBS do município de Macaíba, individualmente, com cada Equipe adequando-se ao contexto de cada uma, pois com espaço e número reduzido de profissionais, a discussão se torna mais eficaz, já que percebe-se melhor exposição de seus pensamentos, redução da inibição, com melhor exposição das demandas próprias/particulares e atender a dificuldades e questionamentos específicos de cada equipe.
Esperamos com essa intervenção poder melhorar a eficácia dos Agentes Comunitários de Saúde, não só da UBS de Campinas, como também em todo o município, e a qualidade de vida da população a médio e longo prazo, além de fornecer informações à Gestão de Saúde sobre as necessidades dos agentes em cada UBS.